Dei um salto da cama de susto. Minha respiração estava falhando, como se eu tivesse ficado muito tempo debaixo d'água. Minha mente embaralhada não me deixava pensar direito.
Meu cérebro ainda tentava absorver o que quer que tivesse acontecido, quando eu olhei pela janela e percebi que o sol ainda não tinha nascido. E enquanto eu arrastava minha carcaça confusa de volta para a cama, do outro lado da cidade um diálogo horripilante surgia.
-Você contou para ela? - perguntou Kevin sentando-se mais perto da lareira.
- Não, ela ainda não está preparada para saber. -disse Ben enquanto vestia um sobretudo preto.
- Mas ela se lembra de alguma coisa?
- Sim, mas isso não importa, ela é só uma garota ingênua. Vai pensar que foi apenas um sonho e em breve irá esquecer tudo. A questão é que ela não seria de muita ajuda para nós nesse momento. Talvez tenhamos que esperar alguns anos para poder dizer a ela a verdade, pois se contássemos agora ela não acreditaria. -disse Benjamin com as mãos na maçaneta da porta.
- Vai ir fazer a ronda? Quer que eu vá no seu lugar? - perguntou Kevin.
- Não... Eu vou. A noite hoje está muito bela e eu pretendo apreciar isso antes que os monstros apareçam. - disse Benjamin desaparecendo na escuridão.
Sentada à mesa, eu tomava o café da manhã com a minha família. Meus pais não estavam se falando. Isso sempre acontecia depois que eles tinham uma discussão. E meu irmão e eu odiávamos isso porque geralmente eles nos usavam como mensageiros particulares. E naquela manhã não foi diferente.
- Gary, peça a sua mãe para me passar a geléia. - meu pai disse, e o pobre do meu irmão olhou para o teto como se implorasse por misericórdia, mas como é o menino de 11 anos mais bonzinho do mundo obedeceu sem reclamar.
- Skyline, diga ao seu pai que eu não sou obrigada a fazer favores a ele. Se quiser ele que levante e pegue. - disse minha mãe com desdém.
Eu abri a boca para protestar e dizer o quanto tudo aquilo era ridículo, mas o som de uma buzina tocou.
- Minha carona para a escola chegou, tchau. - eu disse saindo apressada.
Parado em frente a minha casa estava uma BMW preta, dirigida por ninguém menos que Leona Roderick, minha melhor amiga.
Leona era a garota mais louca e tenebrosa que eu conhecia. Tinha um cabelo escuro cheio de mechas pintadas de azul, e seus cachos volumosos davam a ela uma aparência leonina. Vestia roupas escuras como se estivesse sempre de luto. E a sinceridade era sua arma poderosa, o que fazia com que todos a achassem uma pessoa rude. Mas isso não era problema já que ela não se importava com o que as pessoas pensavam.
Nós ficamos amigas logo de cara. Todos estavam dizendo que ela havia sido transferida da antiga escola por ter quebrado o maxilar do capitão do time de futebol. As pessoas estavam morrendo de medo da aluna nova, e eu por ser uma garota curiosa, fui até ela perguntar se os boatos eram verdadeiros. A princípio pensei que ela fosse me dar um soco no nariz, mas depois percebi que ela era só uma pessoa legal que fora mal interpretada apenas por se vestir de forma diferente. E eu entendia super bem como era isso, pois eu também era de certa forma negligenciada por causa da minha aparência. As outras garotas não gostavam de ficar perto de mim porque eu não era do tipo que usava maquiagem ou roupas caras, eu apenas vestia um jeans qualquer, calçava meus coturnos, e prendia meus longos cabelos pretos em um rabo de cavalo prático.
- Meus pais estão agindo estranho de novo. - disse entrando no carro. - Essa já é a terceira briga em menos de duas semanas.
- O que tem de errado com os seus pais hein? -indagou Leona dando partida no motor.
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Eu Sou A Chuva
Mystery / Thriller"Minhas pernas pareciam pesadas como se tivesse concreto nelas. Meu corpo inteiro doía e eu já não aguentava mais correr. A coisa estava se aproximando cada vez mais de mim. Meu coração estava tão acelerado que nem parecia estar batendo. De repente...