Capítulo 01

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A Delegacia do 3.º Distrito Policial de Fortaleza funciona num novíssimo e moderno prédio situado na Avenida Bezerra de Menezes, vizinho à antiga Estação Ferroviária Otávio Bonfim. Essa delegacia é comandada pelo delegado Geraldo Perches, uma autoridade de significativo destaque na Polícia Civil na capital cearense.

O movimento é intenso nessa tarde em frente à delegacia, com uma grande quantidade de jornalistas, repórteres, policiais e curiosos, todos atentos à porta principal do prédio à espera da saída do maníaco Joseval Silva Calisto, vulgo Calunga, de apenas trinta anos, mas com um extenso currículo de crimes, sendo o último o estupro seguido de morte de uma menina de apenas nove anos de idade, ocorrido nos arredores do bairro Messejana, o que causou extrema revolta e clamor público e vem sendo acompanhado por todos desde a época do acontecido. O pedófilo estava foragido há mais de um mês, mas fora capturado pela Polícia Militar na semana anterior durante uma tentativa frustrada de fuga no município de Horizonte, a cerca de quarenta quilômetros da Capital. O crime hediondo tinha repercutido em toda a mídia local e regional, por isso um julgamento e uma condenação exemplar era ansiosamente esperada por toda população cearense.

A aglomeração na frente da delegacia se deve ao fato de que foi noticiado na mídia em geral que nessa tarde o meliante será transferido para um presidio de segurança máxima em Pacatuba, na região metropolitana de Fortaleza.

Os ânimos dos espectadores se exaltam quando a porta frontal da delegacia se abre e um grupo de oito policiais militares muito bem armados saem fazendo a escolta de Calunga, que aparece algemado com as mãos para frente caminhando entre os soldados de forma que ninguém consegue chegar perto dele. O malfeitor tem uma aparência repugnante, sem camisa e vestido apenas com uma calça jeans amarrotada e um par de tênis velho, detentor de tatuagens de figuras sinistras nas costas e em seus braços, e no seu rosto moreno e de barba rala sobressaem piercing's no nariz, lábio inferior, sobrancelha e vários nas duas orelhas, além de ostentar uma cabeça raspada e uma cicatriz linear que inicia-se na testa e desce diagonalmente até o maxilar passando pelo seu olho esquerdo. Seu simples olhar era capaz de apavorar qualquer adulto, quanto mais a uma criança indefesa, do tipo da maioria de suas vítimas.

̶  Criminoso! Desgraçado! – xingam os populares mais exaltados enquanto o homem caminha entre a multidão sob a guarda impenetrável dos policiais em direção à viatura, afinal todos queriam ver de perto a cara do criminoso que horrorizou a população com a frieza com que tirou a vida da pobre e indefesa menininha de apenas nove anos.

̶  Saiam da frente! Saiam da frente! – ordenava um dos soldados.

O alvoroço causado pelo caminho que a comitiva percorre da saída do prédio até o estacionamento só diminui quando Calunga é colocado pelos soldados na jaula da viatura Blazer da Polícia Militar, e com o fechamento da porta traseira o meliante finalmente se sente até mais seguro, pois era evidente em seu semblante o receio de ser linchado pela multidão.

Rapidamente quatro dos oito soldados adentram na mesma viatura, o motorista dá a partida e logo o veículo já está em movimento passando lentamente pelos populares buscando ganhar a avenida. Os outros quatro soldados entram noutra viatura e saem logo em seguida fazendo a escolta da primeira. Apesar da balburdia da multidão pela saída do criminoso, rapidamente todos começam a se dispersar.

Alguns repórteres que cobriam o evento avistam na entrada da delegacia o doutor Geraldo Perches, um senhor de idade mas com uma aparência jovial, apesar dos velhos óculos de grau, cabelos fartos e grisalhos e visivelmente tentando esconder uma barriga bem saliente. Ele é ninguém menos que o delegado titular da 3.ª DDP, que assistiu atentamente a saída de Calunga de sua delegacia. Imediatamente os jornalistas correm na direção dele já com o seus microfones em punho.

A ORDEM DOS CONDES - Um assassino, uma paixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora