Já escurecera, a iluminação estava fraca, mal podia-se enxergar o edifício à frente. Fazia frio, a única pessoa que estava na rua era eu, perdida, solitária, temendo que algo ruim me acontecesse. Percorri o pequeno caminho até a porta do edifício, havia uma luz na janela ao lado da porta, resolvi bater e uma gentil senhora atendeu-me com um enorme sorriso no rosto. Aparentava ter um pouco mais de sessenta anos, estava com uma ótima aparência e estado físico excelente. Sem ao menos perguntar quem eu era, convidou-me para entrar, talvez tenha notado o meu estado. Preparou-me um chá e contou-me sobre seu filho mostrando uma foto dele quando adolescente, não parecia ser um daqueles garotos que tinha problemas com garotas no colegial, era charmoso, o típico garoto popular.
Alguns minutos de conversa e ouço a porta abrir, era ele, Nykolas era seu nome, como Beth, sua mãe, havia dito. Era um homem alto, cabelos escuros sedosos e olhos claros maravilhosos. Vestia um terno que talvez valesse um pouco mais que meu apartamento. Me olhou sem entender nada, Beth logo explicou a situação e ele sentou ao meu lado. Perguntou-me como havia parado por aqui e se gostaria de carona para voltar para casa. Sem pensar duas vezes concordei, ele fora tão atencioso comigo, levou-me até o quarto de hóspedes de sua casa quando de repente surgiu uma pelúcia diante dos meus pés, ou pelo menos foi o que vi de relance. Era Beckie, uma linda lhasa apso, que parecia estar muito feliz com uma nova visita.
Não sei a que horas exatamente cai no sono. Acordei com a doce voz de Beth me chamando para o café da manhã. Era uma mesa farta, com todas aquelas deliciosas comidas caseiras. Nykolas chegou aproximadamente dez minutos depois, acredite ou não, eu havia contado, disse-me que assim que terminássemos o café me levaria para casa. Assenti e continuei conversando com Beth, agora com Nykolas escutando um pouco mais sobre minha vida. Contei-lhes que era arquiteta e tinha o sonho de ter o próprio escritório, que havia me mudado recentemente para a cidade — para um pequeno apartamento — e que ainda não a conhecia muito bem. Quando entramos no carro, Nykolas se ofereceu para me apresentar à cidade, imediatamente concordei, e assim seguimos em silêncio até chegarmos à porta de meu apartamento, a cada rua em que ele dobrava com seu elegante carro eu me sentia menor, e o silêncio me incomodava. Antes de nos despedirmos e poder agradecê-lo pela estadia e carona, ele me deu seu cartão e um beijo no rosto, seguindo para o elevador.
Peguei as chaves e entrei, percebi que meu apartamento todo estava uma bagunça, então resolvi fazer aquela faxina. Coloquei algumas músicas da Demi Lovato para que me animasse. Terminei umas três horas depois, logo sentei em frente ao meu notebook e iniciei alguns projetos de alguns clientes. Não sei bem exatamente o porquê, mas me peguei pensando em Nykolas e em como ele foi super atencioso e até se ofereceu para me mostrar a cidade. Com todos esses projetos e pensamentos, nem notei que minha barriga estava um monstro de tanta fome, decidi preparar um lanche antes de voltar ao trabalho. Mexer no AutoCAD e Sketchup não é uma das melhores coisas a se fazer, com fome então... mas você se acostuma, não com a fome, com a loucura dos softwares.
Aliás, ainda nem me apresentei. Meu nome é Lauren, recém me formei na faculdade de Arquitetura e Urbanismo e agora estou aqui, em Trento, uma cidade do norte da Itália, em busca de uma vida melhor. Alguns dizem que Trento é a melhor cidade para arquitetos, mas, talvez seja realmente sobre isso em que eles estavam falando?

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Quando passei por aquela porta
RomanceLauren é uma jovem recém formada na faculdade de arquitetura e que acabou de se mudar para a cidade. Perdida em um bairro afastado ela conhece Nykolas, um engenheiro muito bem-sucedido e que ainda mora com mãe. Após passar uma noite na casa de Beth...