Capítulo 1

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                                              LUIS

Acabado, era a ultima coisa que poderia ter acontecido, demitido.

    Não acredito, 34 anos, solteiro, em um apartamento alugado, e agora sem emprego, como poderia pedir ajuda? para quem?
meu único amigo, desde que me mudei para o Rio de Janeiro trabalhava em uma cafeteria, com certeza em uma situação parecida com a minha.
    Poderia pedir ajuda para a minha família, de novo. Pelo o que vejo nos livros, filmes e novelas, alguem com 34 anos já deveria ter no minimo uma familia formada.
Pois é, sou uma excessão. Tranquei minha faculdade de Jornalismo (paga pelo meus pais) para trabalhar em um escritorio 12 horas por dia, dormir 6 horas, e não ter dinheiro,
nem para ter uma casa propria, ou simplismente ir ao teatro, sozinho claro, que tipo de mulher se interessaria por um homem de 34 anos que provavelmente agora vai ter as contas paga pelos pais,
desempregado, sem faculdade e sem nada de atraente?
O que eu poderia fazer agora? Acho que vou atrás de Lucas, meu amigo da cafeteria, esperar até ele sair do serviço para conversar sobre o que eu poderia fazer, talvez ele  poderia achar um aluguel mais barato para mim,
(ele conhece muito por aqui)  ou me emprestar o suficiente para não ser despejado. Ainda são 17:00, acho que vou tomar um café lá mesmo, ele sai as 18:00 e tambem nem tenho aonde ir.
Felizmente o café fica perto de casa, não é necessario pegar onibus, ou taxi, são uns 10 minutos de caminhada. No caminho vejo uma turma de escola, aparentemente 3 ou 4 série, fazendo um passeio
ou uma saida de estudos, sei lá, começo a lembrar o tempo que tinha 9 anos, e a pensar que eu me imaginava com 30 anos, quando fosse "grande" o suficiente para sair de casa, e ter meu dinheiro e gastar tudo em brinquedos, ou salgadinhos,
nunca imaginaria que estaria desempregado procurando um garçom de cafeteria para pedir dinheiro para comer, (menos drama Luis), infelizmente minha chuva de lembranças foi interrompida pela música que tocava na cafeteria
(músicas de cafeteria são sempre agradaveis e te fazem esquecer que você está no meio de uma crise financeira, ou existencial.) estava tocando "Pais e Filhos" da banda Legião Urbana, procuro uma mesa vazia, finalmente acho uma no corredor
paralelo as mesas da janelas, apenas fecho os olhos e escuto a música: "Meu filho vai ter nome de santo, quero o nome mais bonito, è preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã" tento pensar nessa frase, mas não consigo ver quem amar, a não ser
meu amigo Lucas da cafeteria, talvez deveria adotar um cachorro. A melodia vai ficando mais baixa e concluo que a música está chegando no final, começa outra, "Tempo Perdido" tambem da banda Legião Urbana, essa sim faz sentido,
quando um era pequeno meu pai escutava essa música, "Veja o sol dessa manhã tão cinza" meu deus isso faz todo o sentido! Naquele clima, nostalgia, fico imaginando  como para mim essa música tem tanto significado, se para as outras pessoas tambem faz, e se faz
porque, na verdade meu sonho de menino era conhecer o todo mundo, mas não mundo tipo, os países, continentes, mas as pessoas, todos em minha volta que eu via todos os dias, mas não via nada sobre eles, por exemplo a mulher que trabalhava na cantina, ela parecia triste
um dia me arrisquei e perguntei se ela estava triste, ela apenas se virou e chamou o proximo, não entendi porque ela fez aquilo.
Então começou a tocar "Pra você guardei o amor" do Nando Reis, aquilo foi o que acabou com meu dia(mais do que já estava claro), com essa musica veio memorias ruins, eu cantei numa peça de teatro da escola essa música, cantei com Catarina, a menina que eu mais amei nesses 34 anos de vida
no final da apresentação, todos bateram palmas, e ela me abraçou, acho que foi o melhor abraço que recebi, mas ai eu mudei de cidade no Ensino Medio, e descobri que ela foi fazer intercambio na Australia, esses dias eu falei com ela por Facebook e ela ainda mora lá, imagino como deve ser a vida dela
com certeza melhor que a minha.
Até que no meio dessa confusão toda de pensamentos, entrou uma mulher na cafeteria, aparentava ter entre 25-30 anos, e estava sozinha, era muito bonita mesmo, não sou daqueles homens que ficam reparando em cada mulher que passa na rua
mas olhar para ela era inevitável, sua beleza era incomum, não era uma beleza que se ve na televisão, ou se lê nas revistas, era uma beleza que ultrapassava tudo isso, uma beleza graciosa como se ela não se esforçasse para ter a felicidade estampada no rosto.
Voltei para o mundo real quando ouvir alguem dizer:
- Vai pedir alguma coisa ou ta aqui só para me admirar?.
Era Lucas, finalmente.



DescafeinadoWhere stories live. Discover now