Capítulo 3

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Mas não houve uma próxima vez; embora continuassem a ir juntos para a escola, com Maria às vezes alguns passos à frente segurando um lápis na mão direita, outras vezes andando atrás para poder contemplá-lo com ternura, ele nunca mais lhe dirigiu palavra, e ela teve que contentar-se em amar e sofrer silenciosamente até o final do ano letivo.
Durante as intermináveis férias que se seguiram, acordou certa manhã com as pernas banhadas em sangue, pensou que iria morrer; decidiu deixar uma carta para o menino dizendo que ele havia sido o grande amor da sua vida, e planejou embrenhar-se no sertão para ser devorada por um daqueles animais selvagens que aterrorizavam os camponeses da região: o lobisomem ou a mula-sem-cabeça. Só assim os seus pais não sofreriam com sua morte, pois os pobres têm sempre a esperança apesar das tragédias que sempre lhes acontecem. Assim, eles viveriam pensando que ela fora raptada por uma família rica e sem filhos, mas que talvez voltasse um dia, no futuro, cheia de glória e dinheiro - enquanto o atual (e eterno) amor de sua vida se lembraria dela para sempre, sofrendo a cada manhã por não ter voltado a lhe dirigir a palavra.
Não chegou a escrever a carta, porque sua mãe entrou no quarto, viu os lençóis vermelhos, sorriu e disse:
- Agora você é uma moça, minha filha.
Quis saber que relação havia entre o fato de ser moça e o sangue que corria, mas sua mãe não soube explicar direito, apenas afirmou que era normal e que de agora em diante teria que usar uma espécie de travesseiro de boneca entre as pernas, durante quatro ou cinco dias por mês. Perguntou se os homens usavam algum tubo para evitar que o sangue escorresse pelas calças, e soube que isso só acontecia com as mulheres.
Maria reclamou com Deus, mas terminou se acostumando com a menstruação. Entretanto, não conseguia acostumar-se com a ausência do menino, e não parava de recriminar a si mesma pela atitude estúpida de sair correndo daquilo que mais desejava. Um dia antes de recomeçarem as aulas, ela foi até a única igreja da cidade e jurou à imagem de Santo Antônio que iria tomar a iniciativa de conversar com o garoto.
arrumou-se da melhor maneira possível, usando um vestido que a mãe costurara especialmente para a ocasião, e saiu - agradecendo a Deus por terem finalmente terminado as férias. Mas o menino não apareceu. E assim se passou mais uma angustiante semana, até que soube, por alguns colegas, que ele havia mudado de cidade.
- Foi para longe - disse alguém.
Naquele momento, Maria aprendeu que certas coisas se perdem para sempre. Aprendeu também que existia um lugar chamado "longe", que o mundo era vasto, sua aldeia era pequena, e as pessoas mais interessantes sempre terminavam indo embora. Gostaria também de poder partir, mas ainda era muito jovem; mesmo assim, olhando as ruas empoeiradas da cidadezinha onde morava, decidiu que um dia seguiria os passos do menino. Nas nove sextas-feiras que se seguiram, conforme um costume de sua religião, comungou e pediu à Virgem Maria que algum dia a tirasse dali.
Também sofreu por algum tempo, tentando inutilmente encontrar a pista do garoto, mas ninguém sabia para onde seus pais haviam se mudado. Maria então começou a achar o mundo grande demais, o amor algo muito perigoso, e a Virgem uma santa que habitava um céu distante, e não ligava para o que as crianças pediam.
No dia seguinte,
Três anos se passaram, ela aprendeu geografia e matemática, começou a acompanhar as novelas na TV, leu na escola suas primeiras revistas eróticas, e passou a escrever um diário falando da sua vida monótona, e da vontade que tinha de conhecer aquilo que lhe

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