Capitulo 5

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Continuação •

Maju, para -. mando, mas ela continua arranhando a porta

Para -. grito quase chorando e ela me olha e vem até mim e cheira meu pé como se estivesse pedindo desculpa

Por que você quer tanto entrar aí, ela não está mais aí como das outras vezes -. digo me derramando em lágrimas

Maju sempre gostou de sentar e ficar olhando para a Sofia quando a deixávamos no seu berço durante o dia, era como se ela fosse a protetora de Sofia

Ela não está mais lá dentre menina -. digo limpando as lágrimas e depois a faço carinho, mas ela volta a até a porta e senta

Não me peça para abrir essa porta Maju -. digo e derramo mais algumas lágrimas, mas depois ela insiste em arranhar a porta

Tudo bem, eu abro -. digo

Me aproximo da porta e começo a mexer na maçaneta e abro de vagar, tudo estava do jeito que eu tinha deixado, o cheiro de seu perfume ainda estava no ar do quarto, os ursos, nossa os ursos de pelúcia o Daniel comprou todos quando foi a uma loja aqui

Liguei as luzes, era um dos quartos mais bonitos que eu já tinha visto, e sentia orgulhosa por saber que esse era o quarto da minha filha, olhei em volta e vi algumas fotos que tiramos no hospital assim que a Sofia nasceu, o Daniel quis registrar tudo

É melhor irmos Maju, já chega -. digo mas ela deita onde ela sempre ficava  

Você quer ficar aí não é mesmo menina ?-. digo

Então tudo bem-. digo e saio deixando a porta aberta

Decidi não fazer comida, liguei e pedi meu almoço

O resto da tarde passou tranquilamente, não voltei mais no quarto de Sofia, hoje eu iria dormir sozinha, o Daniel teria plantão de 24 horas, ele me ligava mais do que trabalhava

Por Daniel •

Depois de 2 meses da morte da minha filha essa é a primeira vez que deixo a Lia em casa sozinha, estávamos bem, ainda chorávamos, mas a dor da perda estava cessando agora estava vindo a dor da saudade e as vezes sufocava

Doutor Daniel -. Uma enfermeira me cumprimenta

Bom dia -. Digo sorrindo

Como o senhor está ? -. pergunta

Bem obrigada -. digo e entro e vou na administração do hospital

Bom dia Nonata -. digo cumprimentando a diretora do hospital

Bom dia doutor Daniel, como está ?-. pergunta e faz um sinal para que sente em uma poltrona

Estou bem, ainda receoso de deixar minha esposa, mas bem -. Digo e ela sorri

É bem bonita a história de vocês e era muito linda sua filha-. diz e sorrio

Obrigada -. agradeço

Só vim cumprimentar e dizer que já estou de volta -. Digo e me levanto

Tudo bem, se precisar eu estou aqui -. Diz e saio da sala

Era estranho ficar fora de casa

O dia foi se passando devagar, não teve muitos atendimentos, por isso fui me deitar um pouco, mas antes eu liguei para o meu sogro

Ligação on •

Isso são horas de ligar para um sogro rapaz -. ele fala e escuto o sorriso dele depois

Senhor Alfredo, a Lia foi aí hoje ?-. pergunto

Meu rapaz já são quase 11 horas da noite e só agora você liga ?-. diz

Sei que o senhor ainda não está nem se preparando para dormir -. digo e ele gargalha

Ela esteve aqui antes do almoço, pegou a maju e voltou pra casa -. Diz

Tudo bem então, Boa noite -. digo e desligo

Antes de guardar o celular e tentar dormir um pouco, mando um SMS para Lia

SMS •

-Estou indo tirar um cochilo, então meu amor, dorme com Deus, já estou com muita saudade, te amo-. Mando

- É ruim dormir sem você, maju está aqui comigo, mas não é a mesma cosia, dorme bem meu amor, também te amo -. Responde e guardo o celular

Tentei dormir um pouco mas as 3 da manhã chegou uma senhora na emergência e fui atender

As 07:00 da manhã meu plantão acabou e pedi para que um amigo enfermeiro me levasse em casa, sei que Lia ainda estaria dormindo

Logo em seguida que ele me deixou em casa eu entrei em silêncio para tentar não acordar a Lia, fui em nosso quarto e ela ainda estava dormindo, fui para cozinha, mas mesmo antes de chegar vejo o quarto de Sofia aberto

O que será que aconteceu ?-. penso

Fico na porta a menos de uma passada para entrar no quarto que era da minha filha, era estranha a sensação, algo dentro de mim me fazia querer sair dali, mas outra parte me fazia querer entrar, era como se a partir dali eu começasse a perceber que estava na hora de me deixar sentir a dor

E então em um impulso eu entro no quarto de Sofia, ainda conseguia sentir seu cheiro, a Lia sempre gostou de arrumar tudo isso, passo a mão por tudo até parar em algumas fotos

A Maju me fez entrar aqui-. escuto a voz de Lia e Sinto-a me abraçando

Já estava na hora -. digo e continuo a olhar tudo em volta

Porque não doamos algumas coisas, para quem precisa-. digo e Lia fica calada

Não sei, me sinto apegada com cada item aqui de dentro -. diz

Só conseguiremos seguir em frente quando desapegarmos, escolhemos algo e doamos o resto -. digo e Lia ainda parece pensativa

Eu quero esses dois -. diz depois de alguns minutos pegando um porta retrato e um roupinha que ainda tem o cheiro de Sofia 

Eu quero isso -. digo e seguro um pequeno urso de pelúcia

Meus pais também devem querer algum, ligamos para eles depois e levamos o resto para a ação social -. diz e eu a abraço

Será um grande passo, e conseguiremos passar por tudo isso -. digo e continuamos abraçados

Vamos para o quarto, ainda está cedo e sei que está cansado -. diz e seguimos para o quarto

Deitamos e ela me fez cafuné até que eu caísse no sono, era bom estar em casa e é bom ter a sensação que todo esse sofrimento está passando

Eu amo a minha família, a que eu construí, eu nunca pensei que uma única decisão pudesse mudar tudo, e tenho certeza que tudo já estava escrito pelo Destino, ou Deus me escolheu para viver esse lindo Acaso

" Entenda que toda dor chega ao fim, independente de qual seja, do tamanho ou da intensidade, tudo acaba ."


Até próximo domingo •

O Acaso ( 2º  livro )Onde histórias criam vida. Descubra agora