UMA LUZ NA ESCURIDÃO

Capítulo I

Capítulo 1

Alguns anos antes...

- Papai você trás minha bonequinha quando voltar?

- Claro, vou trazê-la assim que voltar de viagem meu amor.

- Papai eu vou sentir saudades. Volte para nós está bem?-Falei abraçando-o bem apertado.

- Eu também meu amor... Eu voltarei para você e para sua mãe, eu prometo.

Naquele mesmo dia ele viajaria trabalho.

Uma semana depois...

"Meu papai irá voltar hoje e quando ele chegar terei a boneca mais linda de todas." Pensei indo procurar a mamãe.

Mas papai ainda não chegou.

Onde está papai? Porque ele ainda não chegou e não me abraçou e deu um beijo na mamãe?

- Mamãe? - Minha mãe estava sentada no sofá quietinha e encolhida com o telefone caído aos seus pés.

- Oi meu amor. - Ela respondeu com uma voz embargada.

- Mamãe o que houve? Por que está chorando? - Perguntei a envolvendo em um abraço.

- Minha pequena... Tenho algo a dizer, seu papai...

- O que tem o papai mamãe? O que aconteceu? - Eu perguntei sentindo um pânico crescente no meu coração de criança.

- Seu pai minha filha... E-Ele se foi. Papai foi para o céu meu amor. - Ela se esforçava para parar de soluçar enquanto tentava me dizer o que acontecia.

- Mamãe! Meu papai... Ele vem... Ele me disse que voltaria... Que traria minha bonequinha... Não é verdade mamãe! Ele tem que vim. -Falei chorando e me afastando dela e me encolhendo no outro canto do sofá.

- Meu amor... - Ela continua a falar mesmo em meio ao seu desespero. Chegou mais perto de mim em uma tentativa de me acalmar acariciando meus cabelos avermelhados com dedos trêmulos. Ela continua - O papai sofreu um acidente quando estava vindo... O avião que ele embarcou teve um problema e... e... - Ela soluçou de novo e me abraçou forte. Nós chorávamos muito.

"Por que papai? Você me prometeu que nunca ia nos deixar."
Palavras são gritadas, gritos horripilantes, estrangulados e ameaçadores. DESISTA, VOCÊ NUNCA TERÁ FELICIDADE. SEU PAI MORREU, SUA MÃE TAMBÉM VAI MORRER, VOCÊ SERÁ INFELIZ E VIVERÁ SOZINHA.

Eu acordo sobressaltada e vejo que estou com o rosto banhado em lágrimas.
Droga.
Mais uma noite e tive esse sonho que não me deixa em paz. É sempre assim. Todas as noites eu tenho um vislumbre do meu passado, daquele momento doloroso.

Talvez na vida ninguém deva realmente viver feliz plenamente.
Todos sofrem, todos choram, todos passam por situações horríveis que dão uma vontade enorme de desistir, de jogar todas as expectativas, todos os sonhos na lixeira.

Às vezes, em momentos de fraqueza, principalmente quando minha mãe passa mal nas madrugadas, me pergunto o porquê de eu ainda está aqui. Por que eu ainda aguento tudo isso Deus? Por que não acaba logo?

Nesses momentos de terror, de medo de perder minha mãe que ponho os joelhos no chão e peço pela misericórdia de Deus. Porque eu sozinha não consigo carregar tudo isso sozinha, sem um pilar, sem meu Pai misericordioso.

Levanto e vou até a cozinha tomar um pouco de água. Quando termino vou até o quarto de mamãe.
Já é madrugada e ela dorme feito um anjo.

Se não fosse a perca de peso, eu juraria que é a mesma Dona Isabela de quando eu tinha meus quatro anos de idade.