Weak

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A madrugada estava relativamente fria. O corpo de Jimin se arrepiava a cada rajada de vento que ousava entrar na extensa cozinha, visto que as únicas peças de roupa que cobriam seu corpo eram a boxer vermelha e a blusa preta alguns números maior que o seu.

Encostado na bancada, à espera da cafeteira terminar seu trabalho, seus orbes prendiam-se nas ataduras que envolviam seus pulsos. As bandagens brancas possuíam filetes vermelhos; os cortes provavelmente haviam sido abertos. Suspirou com o pensamento de que teria que trocá-las.

— Você deveria estar dormindo. — A voz baixa de Yoongi envolveu o recinto. Park movera a cabeça observando o amigo se sentar na mesa e prender o olhar em seus pulsos. Jimin sabia que ele queria falar algo, mas não ousaria. Yoongi nunca tocava naquele assunto.

A cafeteira apitou, avisando seu término. O mais novo se movera preguiçosamente, pegando duas xícaras e enchendo-as até o topo com o líquido escuro.

— Você se lembra, Yoongi? Daquela vez, um pouco depois que nos conhecemos... — Sua voz se encontrava um tanto rouca. — Em que você me perguntou qual eu achava que era meu maior defeito?

Jimin se sentara na mesa, de frente para o outro, lhe entregando uma das xícaras de café. Min esboçou um sorriso fraco, respondendo um singelo "sim".

Yoongi sempre se lembraria de algo que envolvesse o garoto a sua frente.

— Você lembra que eu te respondi, sem hesitar, que eu era fraco? — Um riso lânguido. — Eu lembro de você parecer indignado com aquela informação, afinal, nós dois sabemos que você me idealiza de uma forma que não é real, Yoongi. — Min não respondera; bebericava o líquido quente enquanto mantinha o olhar ainda sobre os curativos na pele do amigo. — Eu não ligo que você olhe. Eu não tenho vergonha dos cortes. Não tenho vergonha do que faço. Acho que nunca te contei o porquê, não é? — Era verdade. Yoongi não tocava no assunto, logo Jimin nunca havia lhe contando o porquê de se machucar. Voltara a tomar o café observando que Park ainda mantinha um sorriso melancólico no rosto. — Eu sou fraco Yoongi. Esses cortes mostram isso. Mostram como me rendo fácil, mas eu não ligo e chego a ser grato a eles. A verdade é que, a vida nunca será fácil e a realidade nunca será boazinha. Eu sei disso através desses cortes. A realidade machuca, dói. E eu sou masoquista o suficiente para gostar disso. — Um suspiro por parte de Min e um sorriso intensificado de Park. — Eu não irei pender para aquele lado, não vou me deixar sucumbir. Nem que isso signifique me encher de cortes e queimaduras. Não darei esse gostinho ao destino.

O silêncio perdurou depois do discurso de Jimin. Yoongi não sabia o que dizer e acabara se perdendo em pensamentos e café. O mais novo não esperava uma resposta. O assunto era delicado para o mais velho e não cobraria aquilo dele no momento.

— Continuo indignado quando você se diz fraco. — Min cortara o silêncio. — Para mim, você é a pessoa mais forte do mundo, do universo. — Jimin rira. Ah... Yoongi era incrível. Mas o clima continuava pesado, como se esperasse o assunto real ser tocado, o que não demorara a acontecer. — O que houve entre você e Hoseok? — Yoongi sempre fora muito direto e, de certa forma, Jimin apreciava aquilo.

— Nós dois sabemos que Hoseok não lida bem com emoções e sentimentos, ainda mais quando estes estão confusos. Eu sou uma pessoa confusa, Yoongi. E Hoseok não sabe lidar com isso. Ele soube que perdeu o controle da situação e você sabe como ele odeia isso. — Suspirara. — Ele veio me questionar. Me questionar do porquê disso tudo estar se esvaindo de suas mãos. E eu... Bom, eu joguei na cara dele que isso não tem haver com ele e que ele nunca poderia fazer algo para resolver. Eu joguei na cara dele... — A última frase fora dita em um sussurro. — Yoongi, nós sabemos que Hoseok é inconsequente, então não me surpreendeu quando sua mão foi de encontro ao meu rosto, deixando a marca vermelha de seus dedos. — Yoongi apertara as mãos entorno da caneca, mudando sua feição serena para raiva, o que causara um riso por parte de Jimin. — Não faça essa cara. Nós dois sabemos que você não vai fazer nada. Pare de se preocupar tanto. — Bebera mais um gole do café, o último. — Sabe, Yoongi, o mal do amor é que sempre vamos perdoar. Eu o perdoei alguns minutos depois, porque eu o amo... Igual amo você. — Min esboçara um sorriso, levantando-se logo em seguida e caminhando até a cafeteira, enchendo novamente as duas xícaras. Voltara a seu lugar, sustentando o olhar de Jimin sobre si. — Você se arrepende, Yoongi?

— Do quê?

— De não ter lutado por mim.

Yoongi suspirara. Será que a resposta agradaria o garoto? Dera outro gole no café.

— Não, Jimin. Eu não me arrependo e ouso dizer que nunca lutaria por você. — Foi a vez de Min sustentar um sorriso no rosto. — Você se diz fraco, mas nós dois sabemos que o fraco da história sempre foi eu. Eu o amo, Jimin. Mas sou fraco a ponto de não querer uma relação onde eu sei que os dois itens são instáveis. Eu iria me destruir. E de destruído já basta você. Nós dois sabemos que Hoseok sempre foi a melhor pilastra para você se apoiar e mesmo lhe amando, convivo bem com isso. Porque amar é assim. Querer o bem do outro acima da sua própria felicidade.

Jimin sorrira. O sorriso mais sincero que Yoongi tivera o prazer de ver. Os lábios rasgando o rosto, os dentes perfeitamente brancos e alinhados a mostra, as bochechas gordinhas espremendo os orbes, que se fecharam com o ato.

Mas foi questão de segundos, pois, rapidamente o garoto levantara-se deixando sua xícara na pia e se dirigindo para o corredor escuro, que ao final daria na porta de seu quarto.

— Boa noite, Yoongi...

Yoongi se mantivera sentado à mesa, repassando aquela conversa de minutos atrás. Um último sorriso lhe escapou dos lábios finos para então sussurrar.

— Boa noite, Jimin...    


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⏰ Última atualização: Jan 18, 2016 ⏰

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