Projeto Traidil

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Robson monitora um aparelho bem a sua frente. Está meio cansado, mas consegue manter-se acordado a base de música alta e café. De repente se agita e grita:

- Ei, Tadeu, acho que ele está acordando. As ondas cerebrais modificaram muito.

A porta da sala se abre rapidamente e por ela passa um rapaz ruivo, desgrenhado, de óculos, alto, e diz:

- Merda, vai começar tudo de novo. Não sei como ele aguenta - sentando-se ao lado de Robson, um negro de uns trinta anos, quase caindo da cadeira.

Olha atentamente a frequência de ondas cerebrais e fala:

- Ferrou, está acordando mesmo. Vou avisar ao Prein. Ele vai demorar a chegar aqui e vai querer falar com ele primeiro como sempre.

- Mas, Tadeu e se ele reagir como da ultima vez? Vão apagar ele de novo e não saberemos onde está o circuito e muito menos terminaremos a fórmula do Traidil.

Ambos ficam pensando alguns minutos e decidem não avisar a ninguém e esperar que ele acorde e tentar uma forma diferente de abordagem, afinal, Tadeu é psicanalista dos melhores, além de renomado físico de São Paulo.

Ficam olhando em silêncio total o monitor de imagem da sala onde Cláudio está deitado e completamente preso pelos punhos e tornozelos. Marcas antigas aparecem ao redor das faixas largas de tecido grosso, deixadas pela agitação desmedida dele após acordar e ser submetido a perguntas e métodos pouco eficientes e agressivos. Dessa vez será diferente, são quase quatro horas da madrugada e ninguém pode interferir. Só quem estiver na sala de observação tem acesso as imagens. Por uma questão de segurança preferiram não conectar o sistema à rede.

Robson está nitidamente nervoso, enquanto Tadeu parece frio como um mármore. É uma dupla perfeita para qualquer projeto, mas nunca se rebelaram como hoje. Robson é engenheiro químico e parapsicólogo. Na verdade só Tadeu sabe o alcance da sua capacidade mental, mas ninguém. Eles mantêm esse segredo por motivos óbvios. Prein, um alemão com diversas especialidades científicas é um carrasco e o exploraria, assim como fazia com Cláudio antes do acidente acontecer e levá-lo a instabilidade que vive hoje.

- Robson, desce lá, apaga todas aquelas luzes e acende apenas uma com a lâmpada azul clara suave que deixei numa das gavetas. Leva o meu celular e coloca na playlist 4, volume baixo e sai de lá correndo. Vai, vai, vai...

Ele tentou perguntar, mas Tadeu foi incisivo e o empurrou. No caminho ele só resmungava algo como "porque eu...". Preparou tudo e saiu rápido da sala, trancando-a de novo. Tropeça na subida da escada que dava acesso a sala superior onde estão e sobe quase de quatro, tal a pressa em ver o que acontecia.

De repente, os dedos da mão direita de Cláudio se movimentam, seguidos pela pequena agitação das pernas e braços. Está para acontecer e pela primeira vez terão a chance de mudar o rumo das coisas e quem sabe descobrir as informações que mudariam a história da ciência. Ele estava voltando...

Finalmente os olhos se abrem de uma só vez. Ele levanta um pouco a cabeça, olha ao redor e se tranquiliza. Todas as outras vezes havia pelo menos oito pessoas ao seu redor, além de aparelhos, luzes, sonidos e muitas perguntas e pressão. Agora apenas uma luz azul clara suave e musica da banda que Cláudio gosta, em volume mediano: Van Halen...

Os olhos continuam bem abertos e procurando alguma coisa ao redor. As pernas e braços não se agitam mais. Ele apenas respira forte e pausadamente. Os dois se entreolham na sala de observação e sem dizer nada descem numa velocidade só até a porta de entrada. Abrem-na devagar e caminham lentamente na direção dele, sendo seguidos pelos seus olhos que emanam certa satisfação. Ficam bem próximos a cama, ambos do mesmo lado e nada falam. O silêncio é quebrado por ele:

Projeto TraidilWhere stories live. Discover now