I.

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- Certo. - Eddie disse do outro lado da mesa. - Vamos dividir uma porção de batatas?

Eu passei os olhos pelo cardápio mais uma vez. Quando foi que os preços subiram tanto? Não entendia o porquê de eu ter que pagar R$22,00 numa porção de batatas fritas. Quanto será que custa um saco de batatas na venda mais próxima?

- Ah... Foda-se. - O ruivo de cabelos bagunçados que me acompanhava abriu a boca antes que eu respondesse. - Eu pago essa porra, mas me ajuda a comer.

Sorri pra ele em confirmação. Eddie sabia minha situação financeira e na maior parte do tempo também sabia as coisas que passavam pela minha cabeça. Bom, Eddie é meu primo e o parente com quem eu tenho mais contato, também mais conhecido como meu melhor amigo. A gente sempre se deu muito bem desde crianças e meu pai não podia reclamar da minha amizade com ele, aliás ele era filho do próprio irmão.

- Katy! - Eddie gritou e então a moça vestida de garçonete veio na nossa direção. 

- EI! - Sorri quando ela se aproximou. - Como você está? 

- É... - Katy olhou desconfiada pro Eddie e então voltou os olhos pra mim. - Bem. - A resposta pareceu mais com uma pergunta.

- Ah... - Olhei pro meu primo e ele estava com o rosto tensionado. - Katy, tá tudo bem. - Soltei um riso forçado. - Eddie me contou sobre o bebê. - O rosto da garota começou a ficar vermelho e achei que ela fosse explodir. - Ta tudo bem, eu não vou contar pra ninguem. - Ela soltou um sorriso meio robótico. - E eu to bem animada pra ver a cara dessa pequena coisa.

- Paciência gafanhoto. - Eddie agora já sorria orgulhoso. - Ah, amor, traz uma porção de batata pra gente.

Katy concordou com a cabeça e se afastou o mais rápido possível. Eu não tinha ideia de que ela ficaria desconfortável com o assunto, aliás Eddie fica bem animado sempre que lembra que será pai, e eu tenho certeza que ele será um pai maravilhoso.

A lanchonete estava lotada de adolescentes da cidade toda porque era o último fim de semana de férias, na segunda-feira as aulas voltariam e eu estava ansiosa. Apesar de ter morado na mesma cidade desde sempre e não ser um colégio novo nem nada quando completei 16 anos meu pai me fez deixar a escola com a desculpa de que eu já tinha aprendido o suficiente e tinha que ajudar nos negócios da família. Fiz o que ele me pediu durante 2 anos inteiros mas depois de muita briga e discussão finalmente consegui me matricular de volta. Mal podia ver a hora de me formar e deixar aquela cidade.

Quando as 6:00PM chegaram a lanchonete começou a fechar e então o bando de pessoas que não paravam um segundo de conversar começou a se acumular na calçada do lugar. Eu e Eddie encostamos na lateral da minha caminhonete e esperamos Katy finalmente sair, agora já sem o uniforme de garçonete. Os dois foram no carro de Katy e eu segui atrás com a caminhonete. No primeiro "pare" a namorada do meu primo conseguiu afogar o carro, revirei os olhos mas me apoiei no volante pra esperar ela conseguir seguir com o carro. 

Percebi que estava demorando demais quando uns dois carros que estava parados atrás de mim começaram a buzinar e gritar qualquer bobeira, me virei pra ver e como esperado era um grupo de moleques que estavam na lanchonete, os cabelos espetados com gel e as jaquetas caras não deixavam sombra de dúvidas que só queriam chamar a atenção.

- Qual é? - Um rapaz loiro gritou mais forte. - Esqueceu como dirige? 

Revirei os olhos e bufei tentando ter paciência antes de descer do carro e ir até a janela de Katy.

- Katy. - Tentei falar calma mas pude ver que ela já estava estressada. - Ei, ta tudo bem, acontece essas coisas. - Ela finalmente virou pra mim e pude ver água nos olhos dela. - Ok, acalma e coloca o carro no neutro que eu e Eddie vamos empurrar.

Ela me ouviu e fez o que eu pedi.

- A garçonete teve dinheiro pra comprar a habilitação? - Ouvi antes que eu pudesse empurrar o carro.

- Lauren! - Eddie gritou assim que me virei pra trás.

Fui andando em direção ao carro caro que estava bem atrás do meu, tinha dois garotos totalmente estereotipados nos bancos da frente  e então mais um riquinho atrás do lado de uma garota de cabelos castanhos que ria alto antes na lanchonete, mas agora tinha o rosto fechado. Assim que me aproximava os garotos continuavam a cochichar e rir me olhando.

- E então vão descer pra me ajudar a empurrar o carro ou querem que eu traga uma melancia pra colocarem no pescoço?

Todos fizeram silêncio no mesmo momento, eu fiquei por mais alguns segundos os encarando e então voltei pro carro. Fiz um coque rápido antes de me abaixar pra empurrar o carro e logo eu e Eddie conseguimos colocar ele em movimento. Assim que atravessamos a rua e Katy já estava virando o volante pra encosta um terceiro par de mãos apareceu na lataria, virei o rosto devagar e encontrei o rosto da garota que estava sentada no carro atrás do meu.

Encostamos o carro de Katy finalmente e então a garota bateu as mãos no vestido que ela vestia, me virei pro Eddie e ele não tirava um sorriso esquisito do rosto.

- É... Perdão pelos garotos. - A garota começou a falar e gesticular com as mãos.

- Está tudo bem. - Eddie continuava com a expressão assustadora. - Né? - Agora ele me olhava.

- Ah... É... - Olhei pra garota e ela não parava de se mexer tava me dando certa agonia. - É... Você não precisava ter descido, eu só disse aquilo pra...

- Meu nome é Camila. - Ela sorriu e esticou a mão pra mim.

Eu olhei pras minhas e elas estavam sujas por causa do carro empoeirado, então as levantei fazendo alguma cara que eu não tinha certeza do que queria dizer.

- Camila nós vamos te deixar. - O garoto loiro que dirigia o carro gritou.

A menina me olhou e sorriu sem jeito e então saiu andando meio sem jeito. A observei até ela entrar no carro e então desaparecer.

- OH MEU DEUS! - Me virei assustada pro ruivo que gritava do meu lado. - VOCÊ VIU ISSO?

- Eu vi isso. - Katy sorria me olhando.

- Ok... - Agora os dois me olhavam com expressões assustadoras. - Eu não vi nada.

- A garota desceu pra te ajudar Lauren. - Eddie começou, ele sempre começava. - Ela está super afim de você.

- Eddie, não é assim que funciona. - Eu ri alto.

- Bom, eu não sei. - Katy me seguiu enquanto eu abria o carro dela pra ver o que tinha acontecido. - Mas eu sei que a garota é linda e você não devia deixar passar.

- Vocês são loucos. - Eu finalizei o assunto e me concentrei em conectar alguns cabos.

Sim, eu sabia concertar carros.


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