DA PRIMEIRA INFÂNCIA

18 3 3
                                    

Eu era o príncipe da casa até os 2 anos. Confesso que não era bem uma casa, mas nos protegia das intempéries da natureza. Pra mim não faz muita diferença já que desse capítulo não lembro. O que me fez dar valor a esta fase, foram as narrações de minha mãe.

Segundo as narrações de minha mãe...

David: Mãe!!! já fomos ricos?

Verônica Nós somos ricos filho. Temos tudo: Amor, fé, união...e nunca faltou comida em nossa mesa - Disse minha mãe com seu olhar doce em minha direção, enquanto mexia com uma colher de pau, o feijão quente encima do antigo fogão a lenha, em uma das tantas casas que moramos.

David: Mãe, eu falo de dinheiro. Nunca tivemos uma casa que fosse só nossa? Um carro ou outra coisa igual a do patrão do Pai?

Minha Mãe parou por um instante de mexer o seu delicioso feijão de caldo grosso. Olhou para cima como se tentasse buscar alguma lembrança, piscou os olhos demoradamente e relatou:

Verônica: Foi seu pai quem construiu nossa primeira casa.

Era no pé de um morro, lá em Santa Catarina, pertinho da casa de sua avó Noá.

Era uma casa muito bem feita, de bambu.

Foi seu Pai mesmo quem construiu quando fiquei grávida de você.

Era coberta de lona preta. Bem esticadinha - Salientava mamãe sorrindo com certo orgulho.

Do chão era eu que cuidava, socamos muito bem com um tronco de madeira, depois Eu espalhava cinza do fogão à lenha e varria muito bem.

Eu fazia isso todos os dias.

Parecia piso de mansão, branquinho feito neve....

Dentro da casa de um comodo só, cabiam as poucas coisas que tínhamos, e um berço que seu pai construiu pra você, pintado de branco.

Você passava o dia dormindo, colhíamos o feijão que nós mesmos plantávamos. A propósito, Você gostava de feijão preto desde novinho, tomava caldo de feijão até na mamadeira.....

Todo mundo admirava nossa casinha, era a mais bonita da vila, apresar de simples, era muito bem feitinha ...Ser pobre nunca foi defeito, o que não pode é ser relaxado...-Minha mãe sempre salientou isso com firmeza, talvez precisasse ouvir isso de si mesma. Lhe fazia bem.

As pessoas sempre diziam que você parecia filho de "marajá", sempre muito bem vestido, e cabelo bem penteado.

Seu Pai passava horas penteando o seu cabelo e te arrumando.

Você adorava desfilar encima do carro de boi e gritava "vai gogoooo...!!!", enquanto Eu e seu Pai nos orgulhávamos de sua esperteza.

--

Esta historia me encantava. Pedi muitas vezes para que minha mãe a contasse novamente. Ela nunca se recusou. Enquanto ela repetia a mesma historia, eu me imaginava encima do carro de boi e tentava criar na mente uma imagem da casinha de bambu e lona preta.

Quando completei dois anos veio o meu irmão Daniel, passamos nossa primeira infância no Interior do Estado do Paraná. No sítio, propriedade de um dos patrões do meu pai. Ele trabalhava como "peão faz tudo" para o dono da propriedade.

Me lembro bem dessa época, principalmente até os cinco anos de idade. Vivíamos em uma casa de madeira bem conservada. Mamãe sempre foi muito zelosa com a casa, semanalmente punha-se de joelhos e esfregava com uma pequena escova todo o assoalho da varanda até ficar do jeito que ela queria - "As madeiras devem ficar sempre branquinhas- Dizia Ela, sempre cismando "branco".

Da varanda cheia de flores cuidadosamente cultivadas por Ela, via o galpão onde eram estacionadas as máquinas agrícolas com as quais meu pai trabalhava. Do lado esquerdo a reserva de Itaipú, e do lado direito uma frondosa arvore de nozes onde eu e meu irmão e Daniel passávamos horas a brincar. Sempre achei esta arvore um incrivelmente fascinante, e até misteriosa.

Mais dois anos se passaram e nasceu minha irmã Larissa. Quando ela completou três anos, nos mudamos para o Estado do Mato Grosso, lá no meio do mato, bastante distante da cidade. Meu Pai recebera uma proposta de emprego um pouco melhor e nos mudamos...Nessa época já tinha 7 anos de idade, e a vida começou a ficar empolgante.




You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Feb 17, 2016 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

O FILHO DA PUTAWhere stories live. Discover now