Capítulo Único

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As guirlandas enfeitam as janelas das casas da rua por onde ando. É natal. Hoje está fazendo um frio do tipo vamos-ficar-em-casa-aconchegados, mas eu não me importei e saí assim mesmo. Tive que agasalhar até os tornozelos, porque até as lágrimas que insistem em cair em meu rosto congelam antes de tocar o solo coberto de neve.

Em uma casa havia sombras que pareciam duas pessoas se abraçando, o que fez com que o buraco em meu peito abrisse mais ainda. Geralmente, a ferida em meu coração que ele fez insiste em doer especificamente na época de dezembro, como se dissesse "Vamos Demi, lembre-se daquele dezembro. Lembre-se da época em que você era feliz e nem ligava". Como se quisesse piorar ainda mais a dor que invadia o meu ser. Ah, do que é que eu estou falando? É isso que acontece quando a ferida se abre – a dor piora.

Por um momento, pensei em voltar pra casa e curtir a noite com minha família, já que é o que todos fazem no natal. Mas eles não podem me ver assim, chorando, sofrendo, logo hoje. Até porque, com toda essa felicidade e paz e esperança que surge no coração das pessoas na época do natal faria de mim uma anomalia quando estivesse ao redor da minha família cheia de felicidade, paz e esperança. E uma mentirosa – isso se eles perguntassem qual era o problema, o que provavelmente o fariam.

Paro de olhar para o chão e levanto a cabeça novamente. Os flocos de neve que caem no chão parecem mais estrelas cadentes caindo, ao olhar de longe. Sorrio com o pensamento infantil, e meu sorriso se expande mais ainda a perceber minha ação. Vamos combinar que sorrir não é uma coisa que eu fiz muito ultimamente, então aquilo era um pouco estranho para mim.

Meus pés me levam a uma praça movimentada e bem iluminada, e, apesar de sentir que não deveria estar ali, me sento em um dos bancos que enfeitam o lugar.

— Não é uma hora lá muito boa para uma mulher como você estar aqui, não é mesmo Demi? — Me virei em direção a voz, e, como ele estava contra a luz, só pude ver sua silhueta e constatar apenas de que era um homem, apesar de achar a voz um pouco familiar.

— Não é da sua conta —  respondi secamente.

— Tem certeza? Se não fosse, eu não estaria perguntando.

— Dã.

— Não vai falar?

— Não.

— Então tá bom— ele se aproximou e sentou ao meu lado. A distância entre nós, como pude ver, não era tão pequena a ponto de nossos braços se encostarem, mas ainda podia sentir seu perfume. Talvez ele usasse um daqueles perfumes fortes para atrair mulheres. Talvez ele soubesse que eu estava lá, e talvez quisesse me seduzir. Ou talvez só tivesse colocado esse perfume por colocar, mesmo; eu e minha mania de aprofundar as coisas.

— Posso te perguntar uma coisa?

— Já perguntou. — Fuzilei-o com os olhos enquanto ele se divertia nas sombras com minha irritação. — Está bem, o que foi?

— Como você sabe meu nome, se eu nem te conheço? — Para começar, eu nem sabia se eu não o conhecia. Não conseguia me lembrar de alguém ao meu redor como ele, mas ainda sim, parecia que eu sabia quem ele era, bem lá no fundo.

O tal homem não me respondeu nada.

— Não vai responder?

— Você respondeu à minha pergunta?

— Ah, pelo amor de Deus! Você acha que eu vou responder uma pergunta dessas a um... Estranho?

— Eu não sou estranho.

— Sim, você é. A menos que me diga seu nome.

— Se eu disser, você vai dizer o que está fazendo aqui?

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⏰ Última atualização: Jan 28, 2016 ⏰

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