Abri meus olhos e tudo que vi foi a escuridão. Arregalei-os, em busca de algum apoio, de alguma direção, mas permaneci cercada somente pelo negro.
-Onde estou? -murmurei para o escuro.
Senti meu peito subir e descer rapidamente, acelerado junto à minha respiração. Do nada, ouvi um baque atrás de mim. Logo depois, outro ao meu lado. Assim, comecei a correr. Continuei de olhos bem abertos, o medo me dominando e os sons se tornando cada vez mais altos e constantes. Algo vinha me pegar.
Subitamente, um de meus pés parou, algo me impediu de movê-lo e, assim, me vi caindo. O chão contrastou gelado contra a minha face e senti meu lábio inferior cortar junto com a dor, que se alastrou rapidamente por meus braços e pernas.
Fechei os olhos com força e tentei escutar os baques novamente, mas a sala estava em silêncio. Tentei regularizar minha respiração e finalmente abri meus olhos. A sala estava iluminada, o que me fez fechá-los quase imediatamente. Por curiosidade, abri-os logo em seguida e observei a branquidão e o vazio do local. Na minha área de visão, era apenas uma infinita sala branca, com luzes fortes. Olhei para o lado e vi onde tinha tropeçado: um enorme baú assentava-se no meio do cômodo. Sentei-me com dificuldade e pus minha mão sobre ele, sentindo a madeira contra minha pele. Antes que me atrevesse a abrir o caixote, um som de garganta sendo coçada retumbou, ecoando na sala. Levei um susto e me afastei do baú. Segui o tom e vi um homem de pé.
Ele era alto, devia ter cerca de 40 anos, cabelos castanhos e olhos castanhos, que me fitavam. Seu rosto sério encarnava uma beleza simples. Seus lábios estavam fechados em uma expressão séria, cercados por um cavanhaque que despontava alguns fios brancos.
-Alice. -ele disse, e sua voz retumbou pelo cômodo.
Levantei-me devagar e comecei a correr contra ele. Em dois passos, ele me encontrou e me jogou no chão, prendendo meus braços e ficando por cima de mim.
-Espere por mim.
Seu rosto estava tão perto de mim, seus olhos me ameaçando. Eu vi ódio neles. Abri a boca para gritar, mas nenhum som saiu, o grito surdo parado na garganta fez todo meu corpo se arrepiar. Seria meu fim?
Abri meus olhos e os cabelos ruivos de Carol, minha colega de quarto batiam no meu rosto.
-Pelo amor de Deus, Alice. Se você não parar de se remexer na cama, não vai dar para morar com você. Eu e Logan estamos tentando dormir! -ela berrou em meu ouvido.
Acordei sobressaltada e olhei o quarto, um súbito alívio me dominou. Entretanto, pelo canto do olho, vi uma chama de fogo lamber um papel jogado no meio do quarto. Me levantei e pisei nele, apagando a chama.
-O Logan está aqui, então? -perguntei.
-Óbvio, querida. Dá o fora, já deve ter começado a sua aula.
Logan era namorado de Carol. Ele era coreano e extremamente malhado, enquanto ela, ruiva e de lindos olhos verdes. Carol era minha colega de quarto e Logan, bom... Logan vivia lá.
-Estou indo ao banheiro então. -avisei.
-Não me lembro de ter perguntado, Alice. -riu Carol junto a Logan.
Andei até o banheiro e me encarei no espelho. Meus olhos azuis analisavam meu cabelo castanho, que me caía até a cintura. Apertei minha testa e praguejei. Novamente tinha sonhado com aquele homem. Merda.
Tomei um rápido banho e chequei o horário. Ainda dava tempo de pegar a primeira aula. Quem sabe talvez aquele dia fosse excepcional? Quem sabe eu não fosse uma aberração?
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Baby Blue Eyes
RomanceUma mulher incomum que não leva desaforo pra casa. Um homem com uma beleza de outro mundo e arrogante. Um segredo. Um amor impossível.