Escorpião Escarlate

Capítulo 1: Brilho dourado! A Lenda dos Cavaleiros de Ouro

O Sol escaldante banhava as antigas construções daquela instalação. Se avistada de longe, um bocado de ruínas e velharias. Somente relíquias de um tempo que outrora fora glorioso. Era esta a visão de qualquer turista curioso que por ventura observasse aquelas colinas gregas. Colinas que não eram somente a prova viva de que uma civilização ali vivera. Colinas que escondiam um segredo, um local, um novo mundo. Colinas onde se encontrava o Santuário de Athena.

Desde tempos mitológicos, corajosos e dedicados jovens se reuniam naquele lugar para proteger a paz, a justiça e a Deusa Athena. Sem o uso de armas, seus punhos eram capazes de rasgar os céus. Já suas pernas poderiam abrir fendas na terra. Trajando sagradas armaduras, estes jovens enfrentaram dezenas de inimigos e ameaças. Muitos pereceram durante esta missão, mas o orgulho de ser um cavaleiro os acompanha ainda hoje, independente de onde estão.

A cada era surgem novos cavaleiros. Uma nova geração para substituir a antiga e continuar a luta contra aqueles que representam o Mal em nosso mundo. Agora não há diferença. Assim como naquele dia. O dia em que a ascensão do guerreiro escarlate iniciou-se!

Suor escorria pelos corpos de centenas de homens que ali treinavam. Em sua maioria, vestiam-se com roupas leves de linho com adereços de couro servindo como proteção. Outros usavam apenas calças, deixando a parte superior do corpo em exposição. Corriam, carregavam pedras enormes, praticavam exercícios físicos, lutavam. Ninguém estava parado e ação era a palavra que melhor definia a situação daquelas pessoas. O calor parecia não incomodá-los, servindo apenas como uma dificuldade extra.

No centro do campo de treinamento, bem próximo a um antigo coliseu, havia um pequeno grupo de guerreiros concentrado. Um menino magricela lutava contra outro mais velho. Cercado pelos demais, o mais jovem partiu para cima do outro. O punho erguido, um grito de guerra e uma rápida corrida até o alvo. Sem ao menos mexer o corpo, o alvo apenas bloqueou o golpe com uma mão e, com a outra, empurrou o atacante, derrubando-o no chão pedregoso.

"Ainda falta muito. Mais tem melhorado a cada dia." Disse o mais velho. "Continue trabalhando assim."

"Isso não é justo." Reclamou o pequenino enquanto limpava suor da testa e puxava para trás os compridos cabelos negros. "Por que tenho que praticar contra alguém como você? Nunca vou conseguir derrubar você!"

"E quem lhe disse que seu objetivo aqui é derrubá-lo?" Disse um jovem no meio do grupo que assistia a luta. Ele revelou-se, mostrando cabelos azulados que lhe caiam ondulando pelos ombros e pele bronzeada pelo característico sol das ilhas gregas.

Usando a vestimenta típica do local e um peitoral de couro, não devia ter mais do que quatorze anos. Após sua fala os espectadores começaram a murmurar e se dispersar, sabendo que a emoção da batalha já havia partido daquele lugar.

"Não sabia que estava nos assistindo, Milo". Falou o mais velho cruzando os braços.

"Pe-perdão senhor Milo." Disse o garotinho assustado.

"Sempre que posso estou de olho nos treinos. E você - e apontou para o garotinho caído - deveria saber os propósitos desse treino. Deve estar preparado para enfrentar inimigos mais fortes que você. Só treinando com alguém superior você obterá a capacidade psicológica necessária para tal tipo de confronto".

Sem saber o que falar e assustado após este sermão, o aspirante ergueu-se depressa e, no meio de reverências desajeitadas e mais pedidos de desculpas, saiu correndo deixando os dois sozinhos.

"Como isso é possível? Mesmo sendo tão novo, você fala como se fosse um mestre ancião..."

"O que você acha que eu deveria ter feito?". Devolveu Milo, cruzando os braços. "Agora sou um cavaleiro de ouro e devo me portar como tal. Ensinar esses jovens a boa conduta é também meu dever. Não só seu, Nobu."