Era dia 13 de outubro o vigilante Rubens que era o responsável pela segurança noturna de uma galeria de artes localizada em Veneza, era pai de 2 crianças e casado, autentica família feliz.
Neste dia 13 seria inaugurada uma nova área da galeria de quadros de um misterioso pintor, no qual Rubens não tinha conhecimento de onde veio ou para aonde estava indo, sua única obrigação daquele dia em diante era ter uma segurança extra na galeria desse misterioso pintor. Os quadros haviam sido entregues por um empresário do pintor e organizado na sua galeria por uma equipe contratada.
Rubens pôde ver que tipo de pinturas eram e percebeu que se tratavam de pinturas de crianças em ambientes variados, vestidas com roupas de colégio em ambientes como parques, salas de aula, quartos e pontes. Mas uma das pinturas o chamou a atenção, a pintura do garoto da sala de aula, garoto sentado em uma cadeira no meio da sala e sozinho, só havia 1 cadeira na sala e é a que estava o garoto sentado com olhar fixo para quem o admirava do outro lado, olhar frio profundo e completamente vazio. Rubens olhou para o quadro durante alguns minutos mas logo teve sua atenção tirada pela conversa da equipe que estava se retirando da galeria.
Após tudo finalizado, já era noite naquele dia 13 noite chuvosa com muitos raios sendo refletidos pelos vidros das janelas na galeria, Rubens já estava em completa solidão sentado em sua cabine lendo seus livros de suspense e terror, apesar de ser cético Rubens gostava do que os livros de terror faziam com sua mente como sempre fazia todas as noites, acompanhado de seu café sagrado, que o mantinha acordado durante as noites solitárias e frias.
Para esticar as pernas Rubens pega sua lanterna e sai andando pela galeria, através dos corredores passando por algumas salas para ver se estava tudo em ordem como de costume, ao passar pela nova galeria do pintor misterioso Rubens começa a ouvir leves e pequenos soluços aguçando sua curiosidade, resolve dar uma volta na sala da galeria aonde havia quadros por todos os lados a sala não era muito grande mas havia mais quadros do que os de costume em outras salas, as paredes foram totalmente cobertas por quadros com pinturas de crianças, quase não se via mais a cor da parede apenas o relevo das molduras douradas e dos rostos infantis e solitários expressados pelo pintor.
Rubens não sabia de onde vinha aqueles leves soluços que quanto mais ele caminhava pela sala mais baixo ficava, mais leve e ao mesmo tempo mas profundos como se estivessem sendo evitados, como se algo não quisesse se manifestar. Alguns segundos depois estavam tão baixos que Rubens deixa de ouvir os soluços e vai se retirando da sala. A sensação que ele estava tendo era que estavam o observando naquela sala, eram tantos quadros, tantos olhares vazios, tantos sentimentos expostos nos quadros e eram tão vazios quanto profundo, Rubens abre a porta da sala e sai mas ouve batidas vindo da sala, novamente chamando sua atenção para aqueles quadros, batidas de dentro fortes como se estivessem tentando sair ou entrar de algum lugar para fora dali, que ficavam cada vez mais fortes Rubens então resolve entrar novamente na sala e fica observando aqueles quadros todos ao seu redor, todos os olhares voltados para ele como se fosse o centro das atenções, como se fosse o escolhido para algum evento que iria começar partir dali a qualquer momento, então Rubens percebe algo de diferente no quadro da criança no centro da sala sozinho, a criança parece estar viva, parecia esta morrendo aos poucos ali, preso naquele quadro, e então Rubens se aproxima com a lanterna em direção ao quadro, buscando algo, algum detalhes que esclarecesse suas dúvidas de que ou estava ficando louco ou precisava dormir um pouco, e de repente o silencio tomou conta de tudo, sem soluços e batidas, apenas quadros sem vida. Rubens desliga a sua lanterna mas no exato momento que ele abaixa sua lanterna a criança da sala foca os seus olhos nos olhos de Rubens e começa a escorrer lagrimas nos olhos daquela criança, Rubens parecia não acreditar no que estava presenciando, uma alucinação aterrorizante. Quadros que choram?..Nunca, não nesse mundo e de repente a criança grita, de uma forma ensurdecedora, um grito de pânico e de dor como se estivesse sofrendo ali por dias, horas e não tivesse ninguém para salva-la, Rubens se assusta muito e corre em direção a porta da saída daquela sala mas por um motivo que ele não compreendia, era que a sala que antes era tão pequena, tão compacta se tornou imensa e por mais que Rubens corria mais ficava distante a porta e a criança começava a gritar e chorar muito e ele olha ao redor e ver que todas as crianças estavam olhando para ele, sim Rubens era o centro das atenções naquela noite chuvosa, e após correr em meio ao pânico dele e daquela criança, correr parar se salvar de algo que ele nem sabia o que era, ele finalmente alcança a porta e ele abre com a esperança de voltar a sua cabine e comunicar alguma autoridade ou alguma ajuda para ajuda-lo a entender, mas percebe que do outro lado da porta não era a galeria que ele trabalhava, ele estava em uma sala vazia com apenas a porta que ele entrou e uma janela do outro lado da sala, paredes com riscos e arranhões que pareciam terem sido feitos como manifestação de dor e desespero de alguém que sofreu muito sem nenhuma ajuda, e então Rubens caminha calmamente em direção aquela janela para ver o que tinha do outro lado, se era algum lugar familiar ou se ele estava em um tipo de universo paralelo ou algo assim que ele não entendia ainda e ao chegar de frente a janela ele olha e do outro lado e consegue ver que era a sala do pintor misterioso, sim a mesma sala da galeria Rubens estava dentro do quadro do garoto que chorava, sim agora ele fazia parte da arte macabra daquele pintor e ao ver o lugar que ele estava Rubens tenta voltar para a porta que entrou mas quando ele vira ele se depara com o garoto no meio daquela sala, com a cabeça baixa e soluçando e lágrimas escorrendo simbolizando sua tortura, Rubens se aproxima calmamente do garoto coloca a mão no seu ombro e diz para ele não temer que ele ia ajudar, mas o garoto levanta sua cabeça e Rubens percebe que os olhos do garoto estava totalmente brancos e inchados e então a criança sussurra para Rubens "existe dor na arte" e a criança começa a gritar e chorar novamente, sim daquela mesma forma ensurdecedora de antes Rubens tapa seus ouvidos se acolhe no canto da sala e fecha seus olhos e toda a sala começa a tremer com o grito do garoto, Rubens não queria olhar, não queria presenciar nada que tinha ali, ele não queria acreditar no que estava acontecendo, e os olhos do garoto brilharam dando uma imenso clarão naquela sala, mas o garoto continuava a gritar como se estivesse sofrendo cada vez mais e após o clarão Rubens abre os olhos e ver o garoto no centro da sala com os braços acorrentados e haviam um homem na porta daquela sala sim um homem magro e alto mas com a ausência de luz naquela sala não deixava Rubens ver o rosto daquele homem e de repente o homem se aproxima do garoto com uma espécie de chicote nas mãos , ele começa a bater naquele garoto, sem motivos e sem a menor culpa, e o garoto gritava e chorava, pedia por socorro e o homem batia no garoto e quando o homem para de bater uma luz surge no meio da sala iluminando completamente aquele homem permitindo Rubens identificar o rosto dele e para aumentar o seu pânico o homem que estava batendo naquela criança, fazendo ela sofrer, fazendo ela chorar e gritar incansavelmente, era o próprio Rubens, sim Rubens era o causador de tudo aquilo, ele era o próprio pintor misterioso, fazia parte de um universo paralelo e atormentador , Rubens fica loucamente assustado com o que estava presenciando e corre ate a janela que dava a ele acesso a sala da galeria, e então em uma atitude sem pensar Rubens pula pela janela e cai novamente na sala da galeria que ele estava familiarizado e então ele pega sua lanterna e corre em direção a porta que ainda estava difícil de alcançar, mas após um esforço Rubens alcança e abre a porta e sai no corredor da galeria, sim parecia estar tudo normalizado e então Rubens vai em direção a sua cabine, ainda sem entender o que estava acontecendo ao chegar na sua cabine ele depara com alguém sentado em sua cadeira cochilando, com um livro nas mãos, e quando Rubens olha com mais precisão ele percebe que era ele mesmo quem estava sentado, sim Rubens estava sentado em sua cabine, Rubens estava fazendo um garoto sofrer dentro de um quadro e Rubens estava fugindo dele mesmo, isso o deixou confuso de uma forma que ele começou a gritar, da mesma forma que o garoto gritava e então Rubens que estava sentando na cadeira acorda, se levanta em um susto, como se estivesse acabado de ter uma paralisia do sono, mãos tremulas, suando frio e com medo Rubens se levanta sai da cabine e não vê nada de anormal, somente ele e sua solidão ele vai ate o banheiro e lava seu rosto, já era quase dia Rubens volta para sua cabine e se recupera de tudo aquilo que ele passou. Será que era sonho?...Será que era real?...Universo paralelo?..Ou cansaço do trabalho misturado com livros durante a noite?...Rubens se levanta para voltar para sua casa, meio assustado, já era dia seu turno já tinha acabado.Rubens chega em sua casa e vai para sua cama dormir um pouco, tentar esquecer aquilo que ele evita lembrar mas as memórias o perseguem o tempo todo. Após algumas horas de sono ele e acordado por sua mulher que disse ter um presente pra ele, ela venda os seus olhos e o leva para a sala e o que ele depara com um quadro de presente que sua mulher havia encomendado, mas o quadro deixou Rubens completamente espantado, a imagem do quadro era uma foto de 1 de seus filhos, na sala de aula com mais 2 amigos sentados em suas cadeiras, e um dos amigos da foto era uma das crianças dos quadros do pintor misterioso, sim a criança estava perseguindo Rubens e então Rubens percebe que no caderno dessa criança tinha algo escrito, Rubens se aproxima do quadro ate conseguir ler "existe dor na arte" e ao ler aquela frase Rubens entra em pânico e pega e o jogar pela janela e sua esposa espantada tenta evitar, e como um ataque de fúria Rubens empurra sua esposa para o lado e sua esposa se levanta e sai correndo para pedir ajuda e de repente Rubens vê o garoto do quadro no canto da sua sala, olhando pra ele Rubens não consegue se mover, estava em pânico e o garoto se aproxima dele e diz "você entrou no meu mundo e não pode mais sair, vou te seguir a vida toda, bem vindo ao lado macabro da arte" e Rubens sai correndo pela rua em direção a galeria, sim ele ia destruir tudo aquilo para se salvar e salvar sua família, ele chega na galeria entra correndo na sala do pintor misterioso, mas se depara com a sala vazia, nem registros tinha mais e ele procura se informar o que estava acontecendo, para aonde foi aquela galeria e disseram que o pintor já retirou seus quadros pois ele iria vender todos em um leilão isso deixou Rubens desesperado pois assim ele jamais ia escapar daquela loucura, daquela maldição, ele ainda estava preso no outro mundo. Rubens não sabia para onde ir, quem ele devia procurar?..Como ele ia resolver isso ou ao menos compreender aquilo tudo. E então Rubens percebe que para ele compreender aquela arte ele precisava passar por um tipo de dor, de melancolia, de sofrimento e então Rubens chega em sua casa e percebe que sua mulher e os filhos não estão, ele vai para seu banheiro e começa a se cortar a procurar a dor em seu corpo e em sua mente e ele percebe que cada vez que ele sentia dor o garoto aparecia na sua frente e em um dado momento o garoto começa a conversar com ele:
- Você compreende que a dor nos ajuda a sair de mundos dentro de nossa mente?..Você percebe que nem sempre ela nos prejudica, a dor pode nos libertar, você entrou no meu mundo e na minha mente por que eu sentia que existe uma dor que te prendia, você vivia em meio a arte de quadros e livros a vida toda, de todos os gêneros e mesmo assim o seu ceticismo não o permitia acreditar que tudo e possível, que tudo existe, sua mente que é limitada a acreditar só naquilo que enxerga, agora que você compreende que existe algo muito maior do que você pode ver e a arte é um portal para esse mundos paralelos, agora você acredita nisso Rubens?
-Sim agora eu compreendo, a dor é uma forma fiel de nos fazer acreditar, sendo dor física, mental ou emocional, ela mostra que algo é real só precisamos sentir.
-Certo Rubens hora de acordar!
O garoto coloca o dedo na testa de Rubens dando a ele um choque que o leva de volta para o mundo real, e Rubens acorda dentro de sua cabine com o livro nas mãos e agora com uma crença de que nossos olhos não enxergam tudo porque ainda existe algo muito além para ser visto.
Pedro Henrique
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O quadro do grito
Mystery / ThrillerEsse conto ocorreu nos cantos mais obscuros de minha mente, em noites em claro na companhia de uma amaldiçoada insônia.