A queda do rei

Peça

José: Maria? Estás bem, Maria?

Maria: José, é você? Onde estamos?

José: Não sei, Maria.

Maria: Não consigo lembrar de nada em específico, José. Parece que estávamos sentados, em algum lugar, não estávamos?

José: Sim, pelo que posso me lembrar, estávamos sentados em um avião, indo viajar para algum lugar, acredito que fosse para a Grécia, onde minha companhia estava prestes a fechar parceria com uma empresa grega, o que ia nos gerar muito dinheiro. Como presidente da minha companhia, é natural que eu vá, pessoalmente, fechar negócios de parceria, sobretudo não consigo me lembrar, exatamente, o que aconteceu. Ademais, que lugar é esse?

Maria: Não sei, José. Esse lugar parece um sonho. As nuvens, algumas grades em forma de ouro, aquele portão estranho, ar puro e leve, parece que estamos no paraíso. É impossível existir algo assim, não é? Só mesmo Deus para criar algo tão incrível quanto isso.

José: Lá vem você com essa história de Deus, novamente! Deus isso, Deus aquilo, nossa, Deus criou tudo, já sei! Para de repetir isso agora! Temos coisas mais importantes para nos preocuparmos, como descobrir onde estamos e como sairemos daqui.

Maria: José... Tudo bem, vamos procurar alguém que possa nos dar informações sobre esse local.

José: Tentarei ligar com o meu celular.

Maria: E então?

José: Sem sinal. Notei, também, que não temos quaisquer mantimentos. Sem água, nem comida. Estamos completamente sozinhos no meio do nada, sem nada!

Maria: E agora, José? O que faremos? Salve-nos, José, com toda sua inteligência e benevolência! Use suas grandes habilidades para descobrir o caminho para casa!

José: Olhe, Maria! Alguém está se aproximando de nós! Podemos aproveitar para pedir informações sobre esse lugar, bem como procurar uma maneira de sair daqui. E, mais uma coisa: onde está o avião?

Maria: Boa pergunta, José. Talvez essa pessoa, que está, lentamente, se aproximando de nós, possa dizer-nos algo sobre esse lugar tão belo, pacífico, e majestoso...

José: Maria, não é hora para isso, precisamos voltar para o nosso rumo!

Maria: José, poderias aproveitar mais a vida, e o tempo que temos para ficar a sós! Poxa, para você é só trabalho!

Coro: Coitados, Maria e José, perdidos em um lugar estranho, sem lembrar, completamente, dos últimos acontecimentos de sua vida, sem recursos, sem nada, completamente desolados, nesse lugar estranho, então será que alguém poderá os ajudar? Poderão, eles, descobrir o caminho para seu lar? E quem será essa pessoa que se aproxima? Será que ajudara? Ou, os iludirá?

José: Ó, estranho, dessa longínqua terra, será que podes nos ajudar? Minha esposa e eu estamos completamente perdidos, não sabemos, sequer, como viemos parar aqui. Sei que é um grande desconforto ser abordado por completos estranhos, não obstante podes nos auxiliar nesse problema?

Deus: Ó, minhas cordiais boas-vindas ao casal recém chegado! Vocês são os Silva, certo? Senhor José e senhora Maria. Sejam muito bem-vindos! Eu sou Deus! Vocês morreram em um acidente de avião, e vim aqui para julgá-los!

José e Maria: O que? Como assim morremos? Julgar? O que é isso? Deus? Que loucura é essa?

Deus: Acalmem-se, por favor. Entendo seus medos, mas espera que um homem trajado em um terno de luxo, com o corpo bem cuidado e uma mulher meiga em um vestido inocente de tons claros e longos, e louros, cabelos, de olhos azuis, uma garota angelical, compreendessem facilmente. Vocês morrerem em um acidente de avião. Não lembram que estavam voando? Então, vocês não sobreviveram. Morreram carbonizados, pois o avião explodiu, devido à queda. Não se preocupem, o nervosismo é corriqueiro, todos ficam assim quando perdem a vida. Acalmem-se, meus filhos, cuidarei bem de vocês.