Capítulo 1 (Melina)

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Terra, março de 2015.

Hoje, faz um ano que a mulher que me trouxe ao mundo foi assassinada. Digo isto porque Amy nunca chegou perto de ser um projeto de mãe, quanto mais uma mãe de verdade.

Resumidamente, posso dizer que aquilo que a Gata Borralheira passou com a tal madrasta não foi nada comparado ao que sofri nas mãos daquela criatura. Simplesmente não entendo porque uma pessoa assim resolve ter uma criança, mas acredito que foi para tentar segurar meu pai, que a deixou de qualquer forma, antes mesmo de eu nascer, tornando-a uma pessoa amarga.

Desde muito pequena, só me lembro de ser humilhada e desprezada. Como toda criança, fazia de tudo para agradá-la e conquistar o seu amor, mas ela só me ridicularizava, apontava meus defeitos e fazia questão de dizer-me o quanto era esquisita em tudo. Então, parei de tentar e aprendi ser a mais invisível possível.

Ela gostava de escravizar-me em casa, nunca me permitindo ter amigos ou qualquer tipo de convívio social fora da escola; não que eu fosse conseguir esse feito! Talvez por crescer isolada, sem afeto, não conseguia me encaixar ou sentir-me totalmente aceita. Então, meu hobby era aprender o máximo que podia em minhas horas vagas e, graças a Deus, eu tinha facilidade pra isso. Posso dizer que foi o que me salvou depois que ela foi assassinada.

Durante seis meses após sua morte, não me fixei em lugar algum. Ficava, no máximo, um mês em cada lugar, fazia alguns bicos para sustentar-me e não gastar o dinheiro que consegui guardar secretamente, enquanto vivia junto dela. Estava com medo do assassino.

Depois, senti-me confortável para, enfim, viver! Estabeleci-me em uma cidade maior, onde eu teria menos probabilidade de ser encontrada, aluguei uma casa confortável e montei uma franquia home based para criação de sites e lojas virtuais, optando pelo empreendedorismo doméstico para não ficar em evidência.

Não poderia dizer que sentia falta de minha mãe, afinal, quem em seu juízo perfeito desejaria viver com toda aquela maldade? Mas sentia pelo o que não fomos. Toda criança precisa receber amor dos seus pais e a falta dele faz com que ela se sinta rejeitada e insegura, o que acaba interferindo em sua personalidade. Porém, apesar do comportamento de Amy ter feito com que eu tivesse mais dificuldade em formar um relacionamento seguro e de confiança com as outras pessoas, ela não conseguiu quebrar minha essência: sempre fui uma pessoa boa.

Ao libertar-me daquela vida, fui conhecendo-me melhor. Diante das circunstâncias e adversidades que passei para chegar até esse ponto, descobri-me uma pessoa lutadora, resistente e de forte personalidade.

Mas, por nunca ter me sentido amada, sempre fui solitária. Ao mesmo tempo em que era um desastre para fazer amizade com a maioria das pessoas que conhecia, ao menos os homens me notavam, afirmando o quanto era linda e sensual; tentando aproximarem mais intimamente. Uma vez, bateu-me uma revolta por não conseguir sentir desejo por qualquer um deles, que resolvi seguir em frente assim mesmo. Aceitei estender a noite com um cara lindo e gentil, crendo que necessitava desse tratamento de choque para me animar romanticamente. Foi minha primeira vez e foi horrível. Não por qualquer dor, porque não senti tudo isso que falam, mas por sentir-me, durante todo o ato, desconectada em um nível muito profundo. Cheguei a fazer mais duas tentativas, tempos depois, porque queria completar o vazio que sentia, mas tive o mesmo sentimento. Concluí que estou quebrada para esse tipo de entrega e que, ao contrário de toda panela que tem a sua tampa, eu era uma frigideira.

Assim que montei meu escritório, notei que precisaria de uma secretária para atender aos clientes e realizar outras tarefas, a fim de conseguir concentrar-me na produção de meu trabalho. Coloquei um anúncio e, depois de várias entrevistas frustrantes, encontrei Liana.

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