Prólogo

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-Pai! O senhor tem que nos deixar entrar! Pai! -Jody gritava ao mesmo tempo em que abraçava sua irmã, Eddie.
Afastando-se da porta, ouviu a voz suave e amedrontada da irmã:
-Ele está bêbado novamente... -Fez uma pausa e pode ouvir os grunhidos do pai dentro do trailer -O que faremos? Com essa chuva, vamos ficar ensopadas e resfriadas!
-Essa chuvinha? Ela não vai matar ninguém! Vem, vamos brincar. Aposto que não me pega!
E foi assim. Uma simples brincadeira. Nesse ponto, algo mais sério começou a se formar
Percorreram certa distância até chegarem a um muro.
-Não é muito alto. Eu te ajudo, vem. -Firmando os braços, Jody fez apoio e Eddie subiu.
Do outro lado, retomaram a corrida. Jody correu até se perder de vista, sem deixar rastro ou fazer nenhum barulho.
-Jody? Jo? Onde você está? Jody!
A competição havia começado. Ela devia achar a irmã. Ela conseguiria.
Virou-se para a parede e começou a contar
-Vinte e nove....Trinta! Estou indo!
Um grito cortou o ar, deixando Eddie paralisada.
-Socorro! Ajuda! Rápido, socorro!
Os pedidos vinham não muito longe dali. Sem hesitar, foi em direção aos gritos da irmã.
-Jody! -Olhou para o buraco no chão e viu duas frágeis mãos, firmes na borda. Um cano devia ter estourado quando Jody passou por cima e o buraco se abriu, já cheio d'água. A chuva não ajudava e a água já lhe batia no queixo.
-Meu pé...Meu pé esta preso! Busque ajuda!
Não houve tempo para pensar. Ou o pai ajudava, ou estava tudo acabado. A mãe demoraria demais para chegar do trabalho. Tudo se passou numa fração de segundo. Os gritos, a despreocupação do pai, o esforço inútil para ajudar a irmã. A água da chuva apenas aumentava o volume de água no buraco. O último olhar, as últimas palavras...
As pequenas mãos afundando cada vez mais para dentro daquele buraco que transbordava água.

Até A Última GotaOnde histórias criam vida. Descubra agora