O telefone tocou estridentemente ao meu lado, no criado mudo, como se fosse a coisa mais natural do mundo, mas não era. Geralmente, quando queriam falar comigo ligavam-me diretamente em meu celular, mas, provavelmente, esse estava sem carga. Eu não duvido ter esquecido de colocá-lo na tomada uma vez que chegara tarde da noite, o que se tornara muito frequente nos últimos tempos.
Estava acumulando trabalho para não ter que pensar muito na minha vida pessoal. Queria evitar problemas para mim, principalmente após a notícia chegar aos meus ouvidos pelo próprio Edward. Ele queria um parecer meu, mas eu me recusei pelo simples fato de que eu sabia que ele não seguiria meus pareceres. Eu conhecia as pessoas da laia de Isabella Swan e eu sabia, igualmente, que daquele relacionamento não saia nada saudável além de um casamento que acabaria em divórcio apenas por conta do dinheiro que a família Cullen trazia consigo.
Estiquei minha mão em direção ao telefone sem fio na cabeceira, colocando o travesseiro sobre a minha cara para tentar esconder o sono de mim mesma. Isso não ajudou em nada quando falei, pois minha voz saiu rouca, demonstrando que eu estava com sono, mas ao mesmo tempo mostrando-me que eu teria uma dor de garganta – e, consequentemente, uma gripe – em breve.
— Quem ousa me acordar a essa hora?
— Essa hora? — disse ignorantemente a pessoa do outro lado da linha, a quem rapidamente creditei Carmen, minha mãe. — Eu costumo deixar você dormir até um pouco mais tarde geralmente, quando você trabalha muito, mas creio que esqueceu que daqui a uma hora e meia terá uma audiência e você nem parou no escritório para pegar os documentos.
— Audiência? Que audiência?
— Volturi, Alec, contrabando de…
— A AUDIÊNCIA!
Desliguei o telefone imediatamente, sentindo meu coração sair pela boca. Eu não queria me envolver com a família Volturi e, tampouco, com os seus serviços ilegais, mas eu sabia bem que eu precisava fazer isso se não quisesse meu pescoço cortado ao meio. Todos nos Estados Unidos sabiam o quão perigosos eram os seres daquela família e não seria eu a pessoa a testá-los. Eu era sã o suficiente ou me julgava dessa forma, ao menos. E se eles me julgavam a melhor advogada criminalista no momento, eu não seria aquela a contrariá-los. Ao menos, eu podia me vangloriar e dizer que meus processos criminalistas sempre eram ganhos, mas eu estava extremamente cansada de fazer os demais acreditar em mim.
Entrei no chuveiro rapidamente, buscando apenas molhar meu corpo para tirar a leseira que sentia devido o meu sono, e eu sequer precisava procurar uma roupa apropriada para aquelas ocasiões frustrantes – meu armário era tomado em sua maior parte por tailleurs, portanto o primeiro que eu pegasse me tornava apresentável. Eu não me importava.
Quando sai do meu quarto, carregando o par de saltos na mão, Irina me olhou com cautela. Eu não precisava falar nada para ela, já que sabia muito bem que se ela puxasse assunto, seria capaz de sair sem cabeça daquela conversa. Tanto quanto eu, minha irmã sabia o quão eu estava atrasada, mas tampouco fizera qualquer coisa para me acordar. E ela sabia o quão irritada eu ficava com atrasos.
— Não vai tomar café da manhã? — perguntou, finalmente, quando coloquei os sapatos.
— Como qualquer coisa na rua.
— Sabe por quanto tempo a audiência se prolongará?
— Você está me perguntando uma coisa imprevisível, como sempre.
— Estressada… Eu não sei se é melhor você ir para sua audiência — a mulher loura, sentada a cabeceira da mesa disse, abaixando seu olhar para as torradas, com um ar de nojo, quase rejeitando o café da manhã que Senna preparara. — Tem mais: depois que você desligou o telefone, a mãe ligou aqui de novo e disse que vai levar as papeladas no Tribunal para você; então faça o favor de se sentar, porque de barriga vazia você não vai ficar hoje, ok, Senhorita Denali?