Prólogo

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Alexandre
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ESTOU DEITADO NESSA cama há horas. Tenho medo de me mexer e perder seu cheiro, mesmo que todo o resto do quarto cheire a ela.

Pensei que se eu ficasse bem quieto e não abrisse os olhos, tudo voltaria ao normal. Ela ainda estaria aqui e eu, provavelmente, estaria tentando fazê-la sorrir. Mas não deu nada certo.

Sai de um pesadelo horrível em que ela desaparecia na escuridão e acordei em uma realidade pior ainda: ela foi embora.

Ouço a porta ranger e me sento na cama.

- Bom dia querido, venha tomar café - Solange diz, com o seu sorriso tranquilo de sempre.

Não sei como ela consegue ficar tão tranquila quando a sua filha está fora de casa há semanas.

- Estou indo, Sol. É sempre difícil levantar da cama.

- Eu sei, Alê - responde, seu rosto demonstrando que sabe exatamente qual é a sensação.

Meu coração se aperta ainda mais. Seria tão fácil resolver todo esse sofrimento. Solange poderia me dizer onde Luiza está e eu iria correndo buscá-la e trazê-la de volta para casa. Para mim.

- Estou te esperando na mesa, filho - diz, fazendo seu caminho em direção a porta.

Faço que sim com a cabeça e me levanto de uma vez. Esfrego meus olhos e respiro fundo. Eu realmente não estou preparado para viver mais um dia sem Luiza.

°°°

SOLANGE SEMPRE FAZ um café da manhã delicioso para mim. Talvez seja para compensar o fato de que ela não me diz onde Luiza está.

- Isso está delicioso - digo e ela ri.

- Você sempre diz isso.

- Porque está sempre delicioso.

Um silêncio agradável toma conta da cozinha, já estamos acostumados a comer sozinhos todos os dias.

Solange e eu desenvolvemos uma certa ligação desde que Luiza se foi. Nós dois perdemos a pessoa mais importante das nossas vidas. Sem contar que moro mais aqui do que na minha "verdadeira" casa.

- Você precisa seguir sua vida, Alê - Sol diz, interrompendo meus pensamentos.

- O quê? Seguir minha vida? - pergunto confuso.

- Sim, seguir a sua vida. Você parou de viver desde que Luiza foi embora - ela segura a minha mão que estava em cima da mesa. - Querido, você precisa continuar fazendo as coisas que fazia antes de tudo isso acontecer.

- Eu não posso, Sol - digo firme. Ela não entende.

- Pode sim. Não aguento ver você sofrendo assim.

- Então simplesmente me diga onde ela está! Isso sim me faria parar de sofrer!

- Não posso - diz, abaixando a cabeça.

- Pode sim - rebato.

- Não posso dizer, Alê. Além do mais, a última coisa que eu quero é que você vá atrás dela só porque se sente culpado por tudo o que aconteceu.

Me levanto da cadeira e ando pela cozinha. Como ela consegue achar que quero encontrar Luiza por culpa?

Acho que fico muito tempo em silêncio, porque ela diz:

- Alê?

Finalmente olho para ela. Sua expressão está pesada, carregada. É difícil vê-la assim. Ela sempre é tão tranquila.

- Você acha que eu quero buscar a Luiza porque me sinto culpado? - Ela dá de ombros. - Eu quero a Luiza porque ela é a minha menina, porque a amo, Sol! É claro que me sinto um merda por tudo o que aconteceu, mas esse não é o motivo.

Esfrego as mãos no rosto e tomo uma respiração profunda. Ouço a cadeira ser arrastada e vejo Sol se levantando e indo para o quarto.

Droga! Será que ela achou grosseiro o que eu disse?

Ela retorna com um papel na mão e para na minha frente. Seu rosto está diferente, mais calmo e tranquilo. Isso, de alguma forma, acalma meu coração apertado. Sol respira fundo e diz:

- Aqui está, Alê. O endereço da Luiza.







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Teu Silêncio - Série Destruidores #1Onde histórias criam vida. Descubra agora