"As memórias magoam. As boas , ainda mais"
Estava eu no jardim sozinha , a rever pela milésima vez a lista de compras que a minha mãe fizera . Estava atenta ao pequeno caderno de linhas que me servia para tudo , inclusive para desabafar. Tão atenta , que fui contra alguém .
O meu caderno foi cair no chão , fechando-se . Ao mesmo tempo , também outro caderno caiu .
Eram iguais . Capas pretas, do mesmo tamanho , da mesma marca .
Nem tive tempo de olhar para a cara da pessoa com quem tinha chocado .
Baixei-me e apanhei o meu caderno , sempre de olhos postos no chão , enquanto dizia timidamente:
- Desculpa! Sou mesmo desastrada!
Via uns pés também á minha frente , e uma mão agarrou o outro caderno que restava no relvado do jardim. Uma mão masculina , mas jovem . Tinha um anel .
- É , já reparei nisso... Bem , vê por andas! - disse o rapaz .
Quando levantei o olhar , já o rapaz ia apressado ao fundo do jardim .
Fiquei ali , especada a olhar . Mas que raio lhe terei feito , para ter reagido assim ? Apenas por azar , fui contra ele ! Olha agora , deve ter a mania que o mundo gira á volta dele. Enfim , tenho "a sorte" de conhecer muitos rapazes assim .
Ainda tinha as compras para fazer . Abri o caderno .
Mas .... aquele não era o meu caderno! Aquele caderno estava todo escrito , com excepção de uma única página no fim do caderno .
Oh meu deus! Aquele era o caderno do rapaz com quem esbarrei .
E se eu tinha o caderno dele .. isso quer dizer que ele tinha o meu !
- Oh céus , tenho de o encontrar ! E bem depressa ! A minha vida está basicamente toda naquele caderno .Vamos lá , Lissa! Tu tens de o conseguir encontrar . Mas onde ? Será que ele tem a morada e o nome aqui no caderno ? - pensei para comigo , enquanto começava a correr . De repente parei .
Abri a primeira página do caderno , e comecei a ler as primeiras linhas . Mas aquilo ... aquilo era um diário . O diário dele .
Fechei o caderno com força , e pu-lo dentro da mala . Não posso ler o diário do rapaz , que raio de pessoa seria eu se o fizesse ? Além do mais , também não gostava que lessem o meu! Mas eu tinha de fazer qualquer coisa para o encontrar !
- Mas se eu ler apenas umas linhas ... posso descobrir o nome e morada dele , e não deve fazer mal a ninguém ler a primeira página do seu diário. - Pensei .
Sentei-me no banco mais próximo , mesmo por baixo de uma grande árvore .
Entretanto , quando me preparava para abrir o caderno , o meu telemóvel tocou .
Pus o caderno dentro da mala , e em troca tirei o telemóvel .
Era a minha mãe . Atendi .
Eu: Sim ? Mãe ?
Mãe: Lissa , onde estás ? Por amor de deus , estou à tua espera á séculos , temos visitas que vão jantar connosco e eu aqui à espera que venhas com as compras para poder fazer o jantar .
Eu: Aii , aii , aii ! As compras !
Levei a mão á cabeça , e mordi o lábio . Com força de mais até .
Mãe: Tu não me digas que te esqueceste das compras! Não foi para isso que saiste de casa ? Lissa ! Vai rápido comprar as coisas !
Eu: Pois , acerca disso ...
Mãe: Ai , essa conversa já me está a cheirar mal!
Eu: Pois ... eu explico-te tudo em casa . E as visitas , vão ter de se contentar com uma pizza. Sejam elas querem forem .
Mãe: Mas .. Lissa !
Eu: Xau xau , beijinhos!
Desliguei o telemóvel , peguei na mala e dirigi-me para casa .
VOCÊ ESTÁ LENDO
A última dança .
Teen FictionNem todos são iguais , nem todos são felizes. O que nos une , são os nossos segredos .