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Tochas cintilavam e tremulavam no alto das torres do Big Bang, e umas poucas lanternas brilhavam na praça da catedral, pouco mais ao norte. Algumas também iluminavam o cais ao longo das margens do rio de wight, onde mesmo sendo tarde para uma cidade em que a maior parte da população se recolhia ao cair das noites, alguns poucos marinheiros e estivadores ainda podiam ser vistos na escuridão. Alguns dos marinheiros, ainda ocupados com suas embarcações, apressavam-se para cuidar dos últimos detalhes das tarefas de cordame, enrolando bem as cordas nos deques escuros e sujos, enquanto os estivadores corriam para transportar ou puxar cargas até a segurança dos amarzens próximos.

As luzes também estavam acesas nos bares e bordéis, mas pouquíssimas pessoas vagavam pelas ruas, por um motivo horrendo: As bruxas.

Com elas vinham a intensa rivalidade entre os clãs, sendo eles os Cabello's, Jauregui's, Butera's e Stendhal's. Apesar disso a cidade nunca deixou de borbulhar, às vezes até ferver, enquanto cada clã lutava pelo poder, alguns trocando de alianças, outros permanecendo inimigos implacáveis.

Londres, no ano de Nosso Senhor de 1476, mesmo em uma noite perfumada com o Jasmin na primavera, quando quase se podia esquecer do fedor do rio Wight se o vento soprasse na direção certa, não era o lugar mais seguro para estar ao ar livre depois de o sol cair.

A lua havia se erguido soberana no céu agora cor de cobalto ante uma horda de estrelas submissas. Sua luz caía sobre a praça onde a ponte Vecchio, com suas abarrotadas lojas, agora escuras e silenciosas, se juntava à margem norte do rio. Sua luz também banhava uma silhueta vestida de negro que estava de pé no telhado da igreja Anglicana. Depois de inspecionar atentamente a região abaixo, levou uma das mãos aos lábios e assobiou chamando atenção de Ariana, uma jovem de trinta mil anos, de baixa estatura e cabelos castanhos claros, levemente ondulados.

A jovem olhou para baixo, para o rosto afeminado que a mirava pálido ao luar. Pulou do telhado ao solo como um gato em fuga, fazendo a capa que havia em suas costas esvoaçar. Ergueu seu punho e acariciou a bochecha da mais velha, lhe roubou um beijo breve, e selou o contato com um abraço.

A jovem e sua acompanhante caminhara atentamente a ponte da cidade; vindo do lado sul, outro clã de bruxas se aproximava. Sua líder se gabava à frente, metida em um vestido de veludo negro e uma capa vermelha, presa com um fecho de uma águia sobre um fundo azul, com as mãos sobre o pomo da espada. Era razoavelmente bonita, embora sua aparência fosse prejudicada pela boca cruel e, apesar de ser um pouco magra, não restava dúvidas quanto à força de seus braços e pernas.

- Boa noite, Cabello - disse a jovem de olhos claros sem se alterar. - Estava pensando justamente em você. - E fez uma reverência com exagerada cortesia, enquanto fingia um ar de surpresa. - Mas terá de me perdoar. Eu estava esperando você sozinha. Achei que os Cabello's sempre contrataram terceiros para fazer o serviço sujo, pois não teriam coragem de usar sua magia.

Camila, aproximando-se, indireitou o corpo com arrogância, enquanto ela parou a poucos metros de distância.

- Camila cabello! Sua pirralhinha mimada! Eu diria que, na verdade, é a sua família de merda que sempre saí correndo. - Camila trancou seus punhos. - Medo de tratar as coisas sozinha, eu diria.

- Bem, o que eu posso dizer, Keana? Da última vez que vi sua irmã, Jasminy, ela me pareceu bastante satisfeita com o tratamento que lhe dei. - Camila cabello deu à inimiga um largo sorriso, satisfeita por ouvir atrás de si, sua companheira abafando o riso e a apoiando.

Mas sabia que tinha ido longe demais. Keana já estava roxa de raiva.

A loira se aproximou da morena em sua frente, com um olhar furioso. As pupilas de Keana estavam dilatadas, que diria que estavam prestes a explodir. Ódio.

Antes que Keana ousasse fazer algo, Ariana posicionou seu punho na direção da mais nova e lhe lançou um feitiço, a arremessando longe.

Camila lhe lançou um olhar acolhedor, e então as duas resolveram sair daquele local e ir ao casarão de Camila.

- Levamos uma vida boa, amor.
- Disse Ariana com solenidade incomum.

- A melhor - Camila Concordou - e pode nunca mudar.

As duas ficaram quietas por um instante - ninguém queria quebrar a perfeição do momento- mas depois de um tempo Ariana falou em voz baixa:

- Que ela nunca mude Cabello.

Do outro lado da Grã-Bretanha, a mansão mais sombria e cobiçada da cidade continuava em silêncio absoluto, embora Keana adivinhasse que os criados estivessem acendendo o fogo da cozinha nos fundos. Então a loira abrira os grandes portões, e caminhou lentamente até a porta de acesso à casa.

Em sua testa escorria algo úmido, e grosso; então a loira passou o punho no local, numa tentativa de retirar o excesso dos sangue, agora junto ao suor. Com sucesso.

Keana retirou sua capa vermelha com alguns resíduos de feno, a jogando encima do sofá. Deu de cara com a criada Mary, e lhe lançou um olhar mortal.

Já no segundo andar da mansão, a mulher caminhara até o quarto de Lauren. Passando pelo corredor, havia alguns quadros de pintores famosos. Com os cabelos levemente engrenhados e um sorriso maligno na ponta dos lábios, a recém chegada na residência passara a ponta dos dedos nos quadros em busca de algum cisco, mas nada foi encontrado. Tudo estara impecável.

Ao entrar no cômodo com algumas velas acessas, Keana sentiu o forte perfume de Lauren pelo local. No Centro do quarto, no qual mais se parecia uma casa da Vila, havia uma cama de casal feito de aço, com a uma cobra forjada, exibindo o símbolo do clã que pertence sua amada.

No toalete, Keana se deparou com Lauren nua dentro de uma banheira de porcelana negra, deixando seu corpo submerso do pescoço para baixo. Em uma das mãos, uma taça de vinho se fizera presente. Lauren elevou o pulso até suas narinas, sentindo o doce aroma do vinho tinto seco. Após tal ato, levou o recipiente de cristal até os lábios, degustando a bebida.
Algumas velas iluminavam o local, fazendo a sombra da morena refletir na parede.
A claridade das velas faziam os olhos de Lauren mais verdes, como os olhos de uma pantera na madrugada.

A loira esperou que Lauren acabasse de desgutar sua bebida, pois sabia que se interrompesse a anfitriã, a mesma ficaria furiosa.
Lauren então fez, acabou de se enxaguar, e então se enrolou na toalha de fios negros e saiu do toalete.

De volta ao quarto, deu de cara com Keana, sentada à frente de um espelho antigo, tirando o resto de suas roupas.
A ferida que antes fora feita na testa de Keana por Ariana já não estava mais ali. A loira de olhos claros tinha um poder de regeneração absurdo, de causar inveja à qualquer um, fazendo a mesma quase imortal.

Keana era doente pelo amor de Lauren, sendo comparável a dependência do ser humano por oxigênio. Ela sempre fora disposta á tudo para ter Lauren nos seus braços. Tudo mesmo. Capaz de matar uma pessoa, ou até mesmo um clã inteiro.

- Por que você não avisara quando havia chegado? Senti sua presença desde a entrada do portão principal. Aconteceu algo? - Indagou Lauren enquanto secava seus fios de cabelos sentada na cama.

- Não quis lhe interromper. Aliás, encontrei com aquela pirralha junto á sua namoradinha na ponte. Como ousa ambas ser tão arrogantes?! Se dependesse de mim já teria matado àqueles vermes . - Lauren tomou conta dos acontecimentos e não pôde deixar de lembrar do clã alheio.

Após secar seus cabelos, e Keana de se dispir; Lauren deitou-se ao lado direito da cama, e convidou sua companheira para se deitar junto à ti, então a loira fez, adormeceram.

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⏰ Última atualização: Mar 26, 2018 ⏰

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