Encontro das águas

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Meus pais moravam em outro estado, com outra cultura, porém detestavam tudo nesse pequeno mundo em que viviam, a cidade era pequena e as pessoas não eram amigáveis. Meu pai sugeriu uma mudança, mudar-se para a cidade grande. A única casa disponível, não era bem uma casa, e sim uma cabana no meio de um campo de futebol, de tanto receber bolada a cabana mexia, escorregava, mas nunca tombava, foram anos difíceis. Mas para acabar com o futebol em volta da cabana meus pais fizeram amizade com todos as rapazes e raparigas que ali vivam, davam balas, pipas, e de vez em quando até chocolate, se alguém quisesse jogar bola perto da pequena cabana ficaria sem balas, pipas e sem chocolate. Foi uma boa jogada, nunca mais ninguém tocou o pé no gramado perto da cabana.

Porém, como todos devem saber, era uma cidade grande, a cabana era a menor coisa do mundo se comparado aos casarões que ali havia. Os vizinhos dos meus pais não eram tão legais, havia uma velha a esquerda um orgulhoso a direita e fofoqueiros a frente, e minha mãe não queria ser os estranhos atrás, decidiram então juntar dinheiro para construir uma grande casa, a obra durou cinco anos e dois meses. Para juntar dinheiro meus pais trabalhavam mais, e junto com o trabalho vendiam chocolate e chinelo. Quando as vendas nos trabalhos iam de mal a pior, eles resolviam ir até o centro da cidade que era na verdade uma grande ponte, colocar um pano no chão e vender o que tinham para vender. Muita gente bem-educadas compravam os produtos, mas o que chocou bastante meus pais era como as pessoas elogiavam a façanha deles, a coragem de vender em cima de uma ponte, e também elogiavam o lindo casal.

Um pouco antes da minha mãe dar a luz a casa estava pronta. No dia que minha mãe estava no hospital me concebendo, meu pai estava em uma outra sala com criancinhas doentes,creditem ou não, ele era um excelente magico. Quando meu pai era menor os amigos dele o chamaram para ir a praia, que era muito longe de onde eles moravam, mas com um pouco de dinheiro eles foram, no final do dia seus amigos descobriram que eles não teriam dinheiro para voltar, então com um pano e um relógio meu pai fez varias magicas na praia até que finalmente conseguiu o dinheiro que precisavam. Note que nessa época as pessoas eram bem mais caridosas.                                                    

Deste modo eu nasci no meio de magicas.

Quando em casa eu cresci muito rápido, porém do jeito errado, eu crescia para os lados e para frente, nunca para cima, meu cabelo também crescia muito rápido e desgovernado, houve uma época em que coisas se perdiam dendro dele, as escovas não davam mais conta do recado, meus pais ficaram desesperados, não sabiam o que fazer, nenhum cabeleireiro queria ter a responsabilidade de cortar, ou de pentear. Então eles fizeram algo que ninguém nunca ousou fazer, contrataram uma bruxa, e não era uma bruxa boa, era uma má, e ela cortou todo meu cabelo com a promessa que ele iria crescer rápido e descontroladamente novamente. Meus pais ficaram ainda mais perplexo com essa maldição e perguntaram a bruxa o que ela poderia fazer, a bruxa depois de pensar muito resolveu aplicar outra maldição, meu cabelo agora não cresceria tão rápido, porém não seria tão liso, nem cacheado, encaracolado ou ondulado, seria uma mistura.

Crescendo para os lados e com o cabelo todo desgranhado, eu não tinha muitos amigos, eu era uma esquisita, e em minha volta só meninas bonitas e bem educadas, rapazes sadios e bem apessoados, porém cada um na sua turma e eu no canto. Todos os dias após a escola minha mãe me perguntava "O que fez na escola?" e eu todos os dias respondia "Nada", pois não tinha feito amigos, minha mãe insistia que a escola era para aprender mas não para fazer amigos. Então decidi de uma hora para outra procurar amigos em outro lugar, na minha rua. O que eu ainda não contei é que na casa dos fofoqueiros havia uma garota alguns meses mais velha do que eu, ela era magrinha, com um cabelo lindo como as meninas da minha escola, porém não estávamos na mesma escola.

Foi onde tudo começou, fui procura-la, perguntei a mãe dela onde ela estava, e segundo o que ela me contou a menina estava em um lago ali perto, com a autorização da minha mãe fui tentar encontra-la. O lago em si era pequeno, todavia tinha uma parte mais funda que se misturava com um rio, quando cheguei lá a menina estava quase na parte funda, quase no rio, tentei gritar, porém meu grito é baixo, assim como minha voz. Então fiz algo extraordinário nadei e salvei a vida dela. Pelo menos é o que eu achei. 

Quando estávamos em terra firme a menina me empurrou e gritou"O que pensa que está fazendo?", falei para ela que não se pode nadar na parte mais funda ou o rio leva. O que ela realmente estava tentando fazer era mostrar para o irmão dela que estava perto de nós rindo que, sim, ela poderia ir mais fundo. Foi nesse dia que descobri como as crianças são bobas, ela ia morrer só para provar que poderia ir mais fundo, quase entrando no rio. Mesmo sendo boba minha melhor amiga aceitou ser minha amiga.

Aqui dou uma pausa na história pois terei que lembrar o nome dela.

A melhor amiga da onçaWhere stories live. Discover now