Era manhã, três da tarde

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Após salvar minha amiga de um afogamento, fomos andando para casa, um do lado da outra, e o Henrique, seu irmão, ele tinha apenas 3 anos, e tinha mentalidade de 3 anos, um garoto saudável, porém traiçoeiro, mas de longe malvado. Aline não era como ele, era naturalmente malvada, uma criança levada, achava que o mundo rodava em sua volta, gostava de mandar e de brigar, mesmo quase sempre perdendo, era muito magra, parecia que não comia, dormia ou tomava sol. Depois de visita-la praticamente todos os dias fui entendendo um pouco do mundo dela. Seus pais não davam muito atenção à ela, seu irmão era seu quada costas mesmo ela sendo bem maior que ele, sua família inteira morava na mesma esquina, nós vivíamos indo na casa da vô da Aline, era uma casa pequena, torta, com muitos doces em um pote. 

Aline era um ano mais velha do que eu, ela sempre aprendia alguma coisa que eu ainda não conhecia, e usava isso contra mim, como uma vez que ela inventou de discutir o melhor livro que já lemos, dizia "A menina que roubava livros, claro". E os adultos, todos da família dela aplaudiam, quando era a minha vez e eu dizia "A nova roupa do rei". E os adultos apanas piscavam os olhos e olhavam para o lado "Isso não é livro bobona, isso é um conto", Aline dava risada. Bobona não era meu único apelido era um de vários. Ela era um ano mais velha do que eu e também mais inteligente do que eu. Não ligava, na verdade eu gostava dela, talvez porque fosse minha unica amiga. 

O orgulhoso estava fazendo uma festa, Aline queria entrar, ela não tinha medo de nada, era destemida, me puxou para junto dela e entrou na casa do meu vizinho, tinha muita gente, e todos nos perguntavam "Quem são seus pais?" e Aline respondia "Sou filha da Maria, e ela é minha amiga", era esperta, em todas as festas, e em todas as famílias havia uma Maria. Até que nos deparamos com varias crianças, ela pegou a bola de uma das crianças e jogou para mim, o menino queria a bola de volta, eu ia devolver, quando Aline veio e tomou da minha mão, e por mais absurdo que isso pareça, tacou a bola no rosto da criança, pegou no meu braço e me puxou para longe do choro. Crueldade né? Mas ela era assim, fomos para um outro canto, Aline empurrou uma menina um pouco menor que ela, porém, dessa vez, a mãe da criança viu. Pegou no ombro da Aline, encarou muito brava e falou "Peça desculpa para a minha filha agora", fiquei com medo, porque eu era medrosa, todavia Aline não era, cruzou os braços e falou em um alto e bom som "Não". Aline tinha seus princípios, e um deles era: nunca nunca nunca nunca, seja em qualquer circunstância, não pedirei desculpas.  Eu queria sair correndo, e foi isso que fiz. Deixei minha melhor e unica amiga sozinha, encrencada e com desconhecidos.

No outro dia fui dar um "oi", ela me encarou, e virou os olhos. Tentei faze-la rir, porém parecia uma missão impossível. Voltei para casa chorando e dizendo que ninguém ligava para mim, foi assim que descobri um treco chamado telefone, minha mãe me viu chorando e disse "Então liga você". Contei que minha amiga não queria falar, porém minha mãe insistiu e ligamos para a casa da frente. Minha amiga atendeu, não sei porque, mas ela começou a rir, e me chamou para brincar. Foi tão inesperado. Deste modo nós eramos amigas de novo.

Até que um dia, uma menina nova chegou na rua, ela chegou de manhã, mas Aline disse que tinha sido de tarde, e já começamos uma briga, nem conhecíamos a menina, mas de alguma forma eu sabia que não iria ser legal, eu sempre tive pré-conceitos de pessoas novas. Mas só de nos fazer brigar naquela noite eu já odiava a menina nova.

A melhor amiga da onçaWhere stories live. Discover now