01. A Bolacha do Pacote

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Hoje

Fevereiro, 2015

— Vocês tem certeza que não querem ir comprar comida comigo? — a estudante perguntou mais uma vez, já do lado de fora da sala.

— Não, Mariana. Não queremos. — Isabelle cruzou os braços sob a batente da porta — Vá logo! Eu te espero aqui com a Hanna.

— Não acredito que vocês vão me deixar ir à cantina sozinha. Odeio vocês! Péssima melhor amiga, você, Isabelle. — empinou o nariz e fez uma saída dramática.

— Quem vai comer não é a gente! — Hanna provocou, vendo a amiga já de costas.

Ainda assim, Mariana ouviu a última fala. Só o que soube fazer foi rolar os olhos. Era solitário demais ficar na fila para pagar o lanche, enquanto todos trocavam segredos.

Segurando o sanduíche, deu uma olhada por todo o redor da cantina. Os alunos conversavam alto, sem se importar se todos estariam sabendo sobre quantas pessoas haviam conseguido beijar na última festa do clube.

— Obrigada e aqui está o seu troco.

Envolveu as notas de dinheiro com a mão livre e de súbito, paralisou. Mirou as mesas do local por cima do ombro, com o cenho franzido. Seu sexto sentido apitara avisando que tinha alguém olhando.

— Se já pagou, sai da fila, né. — a pessoa que estava atrás reclamou.

— Tá, tá... — deu um passo para o lado, irritada com a falta de sutileza e um pouco desnorteada.

A avó de Mariana sempre disse que quando um alguém olha por um período longo para um segundo alguém, o segundo alguém apresenta tendência a perceber. E a estudante teve certeza que tivera esse sentimento. Ou estava ficando louca de fome. Deu uma mordida no pão, apenas para prevenir.

Antes de voltar para a sala, fitou todo o redor mais uma vez. Não havia ninguém.

Entre uma mordida e outra, viu, ainda longe, o elevador parado no térreo. O amontoado de alunos que estava diante do cubículo começou a entrar. Era a chance dela para não enfrentar quatro lances de escada. Com a velocidade de aceleração superior a de uma tartaruga, Mariana conseguiu um sanduíche quase desmontado e portas de metal fechando em sua face.

A garota deveria estar preocupada com as rodelas de tomate que saltavam para fora do pacote. Em vez disso, estava confusa por achar ter visto alguém que não devia no momento que a fresta entre as portas deixou de existir.

A fome estava a afetando de novo.

Depois de quatro andares com direito a várias ofegadas, deparou-se com Isabelle séria e uma Hanna perdida.

— Querem? — ofereceu o lanche com péssimo apelo visual, ao mesmo tempo em que arrancava mais um pedaço para acertar na boca.

— Não, valeu, Mari. — Hanna agradeceu.

— Preciso te contar umas coisas. — dirigiu-se inteiramente à recém-chegada — Vamos para o banheiro.

Embora não tivesse dito em voz alta, Mariana presenciou mais uma falta de sutileza. Isabelle parecia se esquecer, às vezes, de que existiam mais pessoas entre elas. Mesmo que a melhor amiga não tivesse a intenção, acabara de excluir Hanna da discussão.

— Vou ficar na sala mesmo, está bem? — Hanna avisou antes que pudessem dizer mais alguma coisa e entrou.

Mariana ofertou um sorriso sem mostrar os dentes, de agradecimento. Uma das melhores qualidades da outra amiga era a compreensão. Hanna era uma pessoa sensata e sabia o que devia fazer mesmo ninguém tendo dito.

F I C A [em hiatus]Where stories live. Discover now