Podia ser um dia como tantos outros, com muita matéria para estudar, ou pegar na guitarra para praticar, mas eis que batem à porta. Ele abre e ela entra sem pedir licença.
Primeiro ano na universidade. Miguel ansiava pelas aulas e temia um pouco as praxes. Sempre fora aquele tipo de criança que os restantes não compreendiam. Era um sonhador. Desde bem pequeno, tinha pouco mais de três anos quando o avô lhe ofereceu a sua primeira viola. O avô Artur. Sempre que pensava nele os olhos enchiam-se de lágrimas. Fora o seu ídolo, um amante da música que nunca singrou, aliás, ganhara o nome de Lukinho devido ao andar rua abaixo, rua acima, com a viola na mão a cantarolar.
- Serás sempre o meu mentor. - foram as últimas palavras que Miguel proferiu aos ouvidos de Artur, deitado numa cama de hospital a lutar pela vida. Um cancro maldito teimava em leva-lo, e Artur, era lutador, se era.
- Ali. - murmurou ele para o pequeno Miguel de 11 anos e tentou apontar para algum lado. Miguel olhou lá para o canto, bem perto da janela. Saiu por momentos do leito do seu avô para ir buscar a sua velha melhor amiga, a viola.
- Prometo cuidar dela. - disse ele virando-se para aquele senhor de idade, todavia logo colocou a viola encostada à cadeira. Artur partira com um sorriso na face e a chorar Miguel jurou um dia mostrar ao mundo que Lukinho fora um grande cantor. Que ele mesmo continuaria com o seu sonho. Alegrar o próximo, nem que fosse por um segundo.
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