Capítulo 2 - A velha Viola

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- Miguel. Despacha-te. Ainda vais perder o comboio. - gritou uma senhora na casa dos trinta. Encostou-se à porta do quarto do filho e sorriu ao vê-lo andar de um lado para o outro feito barata tonta.

- Acho que não me esqueci de nada. - comentou ele aborrecido.

- Não vais levar essa viola, pois não? - questionou Maria chateada. Logo Miguel a foi tirar de cima da cama.

- Isso nem se pergunta. - resmungou.

- Vais começar uma nova vida. Não queiras ser um Lukinho. Deixa o passado para trás. Precisas de um trabalho bom para sobreviver. Vê como o teu avô terminou. - falou ela com ar triste.

- O meu avô não era maluco, e caso me chamem isso na Universidade aceitarei com o maior gosto. A viola vem comigo. - confirmou o jovem.

- Por favor, não te metas em tunas académicas. Passam a vida a beber e tu, bem, nunca foste lá muito de socializar.

- Pode ficar descansada. Sei o que fazer. - Miguel sorriu, aproximou-se da mãe e deu-lhe um beijo na testa. - Agora deixe ir o caloiro descansado.

- Aveiro não fica longe de Lisboa...

- Bem sei que não. - respondeu ele pegando já na sacola que protegia a viola, meteu a mochila às contas e deu um breve olhar para o seu quarto, para o seu local seguro. Ia para um mundo novo, era verdade, mas tudo iria correr bem...

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As horas teimavam em não passar. Miguel adorava viajar de comboio embora nesse momento não tivesse realmente  ocupado a olhar a paisagem. Um nervosismo aumentava cada vez mais... estaria para breve a chegada a Aveiro. Trazia a viola ao seu lado e apertou-a, como se de alguma forma o avô estivesse ali para o apoiar.

O comboio apitou. Estavam prestes a chegar à estação de Aveiro. Miguel engoliu em seco. Não era a primeira vez que vinha aquela bela cidade, mas era a primeira vez que o fazia sozinho. Agora cabia-lhe a ele encontrar alojamento nas residências.

- Caloiro? - perguntou uma rapariga gordinha de óculos escuros. Vinha a seu lado a descer as escadas para baixo para a estação.

- Notasse assim muito? - questionou ele nervoso.

- És a presa ideal para os veteranos. - deu uma gargalhada. - Estou a brincar. Para onde vais?

- Vou para a universidade, segurança social. - respondeu ele ainda mais nervoso do que já estava. Tinha conhecimento que na Universidade de Aveiro as praxes eram boas, todavia, pronto, havia sempre aquele medo de estar errado.

- Estás com sorte. Também vou para lá. O meu nome é Isa.

- Sou o Miguel! Presumo que não sejas caloira.

- Fui ano passado, sei como são as coisas. Vamos a pé, assim ficas a conhecer o caminho e a gente vai falando.

Um pouco mais tranquilo Miguel acompanhou Isa. Foram conversando sobre a noite académica, os melhores locais para dançar, até mesmo cantar. Todavia esse pedaço de alegria dissipou-se quando passaram o departamento de educação. Mesmo em frente aos serviços sociais estavam inumeros veteranos trajados. Isa sorriu.

- Bem vindo à versão portuguesa de Hogwarts.

Na sombra do teu olharWhere stories live. Discover now