- Miguel. Despacha-te. Ainda vais perder o comboio. - gritou uma senhora na casa dos trinta. Encostou-se à porta do quarto do filho e sorriu ao vê-lo andar de um lado para o outro feito barata tonta.
- Acho que não me esqueci de nada. - comentou ele aborrecido.
- Não vais levar essa viola, pois não? - questionou Maria chateada. Logo Miguel a foi tirar de cima da cama.
- Isso nem se pergunta. - resmungou.
- Vais começar uma nova vida. Não queiras ser um Lukinho. Deixa o passado para trás. Precisas de um trabalho bom para sobreviver. Vê como o teu avô terminou. - falou ela com ar triste.
- O meu avô não era maluco, e caso me chamem isso na Universidade aceitarei com o maior gosto. A viola vem comigo. - confirmou o jovem.
- Por favor, não te metas em tunas académicas. Passam a vida a beber e tu, bem, nunca foste lá muito de socializar.
- Pode ficar descansada. Sei o que fazer. - Miguel sorriu, aproximou-se da mãe e deu-lhe um beijo na testa. - Agora deixe ir o caloiro descansado.
- Aveiro não fica longe de Lisboa...
- Bem sei que não. - respondeu ele pegando já na sacola que protegia a viola, meteu a mochila às contas e deu um breve olhar para o seu quarto, para o seu local seguro. Ia para um mundo novo, era verdade, mas tudo iria correr bem...
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As horas teimavam em não passar. Miguel adorava viajar de comboio embora nesse momento não tivesse realmente ocupado a olhar a paisagem. Um nervosismo aumentava cada vez mais... estaria para breve a chegada a Aveiro. Trazia a viola ao seu lado e apertou-a, como se de alguma forma o avô estivesse ali para o apoiar.
O comboio apitou. Estavam prestes a chegar à estação de Aveiro. Miguel engoliu em seco. Não era a primeira vez que vinha aquela bela cidade, mas era a primeira vez que o fazia sozinho. Agora cabia-lhe a ele encontrar alojamento nas residências.
- Caloiro? - perguntou uma rapariga gordinha de óculos escuros. Vinha a seu lado a descer as escadas para baixo para a estação.
- Notasse assim muito? - questionou ele nervoso.
- És a presa ideal para os veteranos. - deu uma gargalhada. - Estou a brincar. Para onde vais?
- Vou para a universidade, segurança social. - respondeu ele ainda mais nervoso do que já estava. Tinha conhecimento que na Universidade de Aveiro as praxes eram boas, todavia, pronto, havia sempre aquele medo de estar errado.
- Estás com sorte. Também vou para lá. O meu nome é Isa.
- Sou o Miguel! Presumo que não sejas caloira.
- Fui ano passado, sei como são as coisas. Vamos a pé, assim ficas a conhecer o caminho e a gente vai falando.
Um pouco mais tranquilo Miguel acompanhou Isa. Foram conversando sobre a noite académica, os melhores locais para dançar, até mesmo cantar. Todavia esse pedaço de alegria dissipou-se quando passaram o departamento de educação. Mesmo em frente aos serviços sociais estavam inumeros veteranos trajados. Isa sorriu.
- Bem vindo à versão portuguesa de Hogwarts.
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Na sombra do teu olhar
FanfictionPodia ser um dia como tantos outros, com muita matéria para estudar, ou pegar na guitarra para praticar, mas eis que batem à porta. Ele abre e ela entra sem pedir licença.