Mais um final de tarde de sábado sem ter o que fazer. Minhas amigas já estavam trocando mensagens, procurando roupas e se preparando para a balada daquela noite. O que, definitivamente, não era a minha praia. Passar meu precioso tempo em um lugar cheio de gente suada, com música ruim e sem nada para comer? Tô fora!
Porém, o tédio começava a bater na porta. Estava quente demais para ficar dentro do quarto, assistindo Netflix. Na verdade, quente demais para fazer qualquer coisa - já começava a passar mal com o calor. Percorri com os olhos a pequena estante em frente à cama, no meu quarto. Era isso: eu precisava de um livro novo!
Só quem tem verdadeiro amor pelos livros conhece esse comichão, que surge sem explicação: de uma hora para a hora sua pilha (enorme) de livros não lidos perde a importância, e você simplesmente precisa de um livro novo. Mas qual? Isso eu não fazia ideia. Mas logo iria descobrir.
Peguei a bolsa, me despedi dos meus pais e saí quase correndo de casa. Sabia que tinha um ônibus passando na esquina daqui a alguns minutos. Dito e feito: cheguei no ponto esbaforida e suada, mas bem a tempo de pegá-lo.
Era uma viagem rápida até a livraria mais próxima e eu não via a hora de chegar lá. Além de ser um paraíso inestimável para quem gosta de livros, ela tinha algo que eu não tinha e do qual precisava muito: ar condicionado.
Vinte minutos depois, já estava atravessando as portas automáticas da livraria. O ar gelado me acertou em cheio e deixei escapar um suspiro. Nada como terminar o dia em meio a pilhas e estantes repletas de livros, com uma música suave tocando ao fundo.
Fui direto para a estante de lançamentos, na qual capas brilhantes e coloridas se mostravam ávidas para serem levadas para casa. Haviam livros para todos os gostos: ficção cientifica, terror, suspense, drama... E, claro, os - argh - romances.
Sério, por que as pessoas gostavam de romances? Eram sempre a mesma coisa: homem conhece mulher, se apaixonam, brigam, reatam e vivem felizes para sempre. As pessoas não enjoavam de ler sempre a mesma história?
- Olá, posso ajudá-la?
Dei um pulo. Estava tão concentrada fitando os livros que nem vi o vendedor se aproximar.
- Ah, é... Eu só estou olhando, sabe...
Ele sorriu. Até que era bonitinho. Olhos e cabelos castanhos, parecia ter a minha idade. Fiquei torcendo para que eu não estivesse ficando vermelha agora - o que sempre acontecia quando precisava lidar com alguém relativamente atraente do sexo oposto.
- Se precisar de alguma ajuda, é só me chamar. Meu nome é Caio.
- Obrigada, Caio. Sou a Bianca. - Por que eu disse isso?!
- Prazer em conhecê-la, Bianca.
Ele se afastou com um sorriso. Foi para o outro lado da livraria, tirando livros de dentro de uma caixa e arrumando-os na estante. E eu não conseguia entender por que diabos ainda estava parada lá, olhando para o vendedor (Caio, o nome dele era Caio).
Voltei a atenção para os lançamentos. Afinal, eu ainda precisava escolher meu novo livro. Peguei três, sem prestar muita atenção nos títulos, e comecei a ler as sinopses. Mas, por algum motivo, eu precisei ler três vezes o mesmo parágrafo, e mesmo assim não sabia muito bem o que estava escrito.
- Tem certeza de que não precisa de ajuda?
Dei um pulo de novo e os livros quase voaram dos meus braços.
- Você sempre faz isso com as pessoas?
- Isso o quê?
- Aparece do nada, perguntando se elas precisam de ajuda.
- É o meu trabalho, né? - ele riu. - E não queria ser intrometido, mas... Não pude deixar de reparar na sua camiseta da Torre Negra. Bem legal.
Meu queixo caiu. Nunca ninguém havia dito nada sobre a camiseta que eu havia comprado numa loja online: preta com um desenho amarelado de Roland no deserto, com uma rosa em uma mão e a pistola na outra, e a Torre ao fundo. Sério, eu simplesmente não conhecia ninguém que gostasse de ler. O mais próximo que meus colegas de escola haviam chegado de um livro eram os resumos que liam para as provas de literatura (isso quando não pediam cola pra mim).
- Você é a primeira pessoa que entende a minha camiseta!
Ele fez uma reverência.
- Longos dias e belas noites, sai Bianca.
Eu ri. Conversamos um pouco ali, de pé no meio da livraria. Descobri que o Caio, além de bonitinho, também gostava muito de ler. E o que é melhor: tínhamos o mesmo autor preferido!
Porém, não queria atrapalhar, pois sabia que ele estava em horário de trabalho. Trocamos números de WhatsApp e a promessa de nos encontrar em breve. Saí da livraria, ainda com o termômetro quase nos quarenta graus, e peguei o ônibus.
Foi só quando cheguei em casa que percebi que, surpreendemente, havia me esquecido de comprar um livro novo. Sorri. Acho que agora entendia um pouco por que as pessoas gostavam de romances, no final das contas.
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Um novo livro
RomanceMais uma tarde quente de sábado sem ter o que fazer, com o tédio batendo na porta... A solução: ir para a livraria mais próxima.