Capítulo 1

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Nem todas as histórias sobre os deuses do Olimpo são contadas de maneira correta. Muitos séculos atrás, Artemis, deusa da lua, vivia cercada de servas e mordomias. Tudo o que desejava estava à seus pés. Nunca encontrou ninguém com quem pudesse compartilhar suas aventuras e segredos. Suas servas eram muito leais mas ela nunca ousou revelar a elas seu desejo de ser livre. Seu irmão, Apolo, era muito ocupado e vez ou outra ele aparecia em seus aposentos para dedicar poucos minutos de seu tempo.

Certa vez, cansada de esperar Apolo voltar de uma reunião no Monte Olimpo, a deusa da lua resolveu se entreter assistindo o treino de arco e flecha de um grupo de soldados. Amarrou seus longos e lisos cabelos lilás com uma trança. Vestiu uma capa de seda púrpura e saiu de seu quarto. Pediu para que ninguém a acompanhasse e seguiu apressada pelos corredores. Era uma manhã ensolarada e brisas suaves deixavam o dia mais agradável.

Por sorte os corredores estavam vazios e suas servas não ousaram desobedecê-la.

- Como fica longe o campo de tiro ao alvo! - reclamou para si e olhou ao redor para se certificar de que ninguém a seguia.
Andou muito até chegar ao destino escolhido.
- Finalmente! Como esse lugar é afastado - e foi até a entrada.
Uma construção gigantesca e arredondada toda feita de pedra que lembrava o coliseu de Roma a deixou fascinada.
De onde estava só se via uma parede de três metros de altura e uma entrada. Por dentro a construção continuava para baixo, como de fosse um buraco. Mais de vinte metros altura separavam Artemis do andar onde seus soldados estavam.
De longe, quase escondida, Artemis assistiu cerca de dez rapazes atirando afiadas flechas em diversos tipos de alvos. Tentou ficar quieta no lugar mas quando viu que Odisseu estava lá, desceu as escadas aos pulos e se sentou perto de uma grande pilastra de pedra branca.
Mesmo trajando uma armadura, ela o reconheceu.
Os cabelos negros e lisos e a pele morena brilhavam no sol.

- Senhora! - disse Odisseu surpreso ao ver Artemis sozinha - Aqui é muito perigoso, por favor...

- Quieto! - disse baixinho para Odisseu - Eles não sabem quem sou, que continue assim.

- Sim, senhora - e Odisseu voltou a dar atenção aos alunos.

Duas horas se passaram e o treino terminou.

- Muito bem! - disse a bela enquanto aplaudia satisfeita - Vocês são muito dedicados. Merecem um prêmio pelo treino de hoje. Tenho certeza de que Odisseu não se importará em dar o resto do dia para descansarem.

Todos olharam para a moça encapuzada confusos.

- Dispensados! - disse Odisseu indignado.

Em agradecimento, todos reverenciaram a deusa, que sorriu e se retirou da área de treinamento junto do celeste.

- Essas escadas estão me deixando exausta - disse Artemis que parou alguns degraus atrás de Odisseu.

- A senhora deveria estar no quarto. Aqui não é um lugar apropriado para um passeio - disse Odisseu que desceu até o degrau de Artemis e a pegou no colo.

- Assim é muito melhor - disse mimada.
- Espero que o senhor Apolo não tenha notada sua ausência. Sabe o que ele poderia fazer?
- Muitas coisas. A primeira seria me trancar por mil anos dentro uma caixa ou ...
- Usar um celeste como alvo no treino de amanhã.
- Não seja dramático Odisseu! Eu não vou deixar ele fazer nada com você e os seus soldados.

Depois de chegar no alto e atravessar o mesmo lugar por onde entrou, Artemis se soltou de seu carregador e o encarou.

- Quero treinar com vocês amanhã! Me ensine a usar o arco - pediu.
- A senhora já possui inúmeros poderes. O que vai fazer com um arco? - perguntou Odisseu com medo da resposta.
- Caçar!

Sombra de ArtemisOnde histórias criam vida. Descubra agora