Apolo retornou da reunião e foi direto para o quarto de sua irmã. Entrou sem ser anunciado e as servas se assustaram. As pobres moças não conseguiam se mover de tanto medo. Apolo olhou para todos os cantos do lugar e suspirou.
- Onde está minha irmã? - perguntou em tom rude.
As três servas não disseram uma única palavra. Apenas olhavam para o chão com as mãos trêmulas e os corações acelerados.
- É melhor responderem ou corto suas línguas! - disse irritado com o silêncio.
As moças se olharam e não sabiam se deveriam dizer onde estava Artemis. Elas juraram não contar à ninguém que sua senhora saiu escondida.
Apolo ficou na frente das servas com os punhos cerrados esperando alguma reação. O deus do sol era alto e seus cabelos avermelhados estavam presos com fios de ouro e pedras de todas as cores. Suas vestes especias deixavam sua aparência mais divina. Os longos tecidos destacavam o corpo musculoso e atlético. E um cinturão de couro marrom com detalhes em ouro e um grande sol no meio marcava a cintura.
Era difícil ver Apolo daquele jeito. Aliás, era muito raro vê-lo irritado com alguma coisa.
- Senhor Apolo! Não assuste as moças - pediu uma voz vindo da porta.
- Ordenei que ficasse na cozinha - disse com voz rabugenta.
- Sim, ordenou mas já terminei meus serviços. Peço mais uma vez que não brigue com as meninas. Elas só estão sendo leais à sua irmã.
- Sabe que tem sorte de ser ouvida por mim - disse se acalmando.
- Sou muito grata por isso, grande deus do sol - disse a moça se curvando diante de seu senhor.
- Por acaso sabe onde ela está?
- Não, mas ela está bem. Não se preocupe. Por que não se refresca na fonte? Deve estar cansado - sugeriu a dama.
- Está bem. Prepare meu banho mas só depois que Artemis retornar. Até lá ficarei aqui - disse Apolo decidido a dar uma grande bronca na irmã.
- Se assim deseja...
Muitos minutos se passaram. Para um ser eterno isso não é nada mas pela primeira vez Apolo sentiu que o tempo não passava e sua paciência estava se esgotando de novo.
- Como os humanos conseguem viver tão pouco e ter a paciência de esperar tudo? - perguntou para a mulher à sua frente.
- Por terem tão pouco tempo eles aprenderam que tudo tem a hora certa para acontecer. As estações, por exemplo, são sempre pontuais.
- Essa conversa está me cansando - e se deitou na cama macia e adormeceu.Artemis estava deixando Odisseu preocupado. E se ela se machucasse com as flechas afiadas? Ele seria mais uma alma perdida no mundo dos mortos.
- As flechas são muito perigosas. É preciso muito cuidado na hora de armar o arco e ...
- E você vai me ensinar! - disse Artemis animada.
- Por que não tenta tocar lira? O seu irmão pode te ensinar - sugeriu Odisseu ainda inseguro.
- Prefiro só escutar a lira. Uma vez machuquei meus dedos tentando tocar. Com certeza o arco é menos perigoso.
- Não vai desistir?
- Não!
- Teseus pode te ensinar a ...
- Você não quer me ensinar, é isso? - perguntou Artemis que parou de repente na frente de Odisseu.
- Isso mesmo! - desabafou.
- Como ousa responder sua senhora assim? - disse a deusa.
- É para sua segurança! Não vou mudar de ideia a menos que seu irmão fique sabendo.
- Odisseu! Seu ingrato! - gritou e virou as costas para o celeste.
Com passos apressados a deusa logo chegou em sua moradia, o templo da lua ou coroa lunar. Uma grande construção cercada de pilastras de mármore branco e decorada com muitas fontes e cascatas de água cristalina.
Assim que chegou, uma de suas servas a informou de que Apolo a esperava.
- Meu irmão, aqui? - disse com os olhos arregalados.
Artemis tinha muito medo do irmão e não queria arranjar confusão.
- O que vou fazer? Ele sabe que saí sem autorização?
- Sim senhora.
- Oh não! Estou encrencada.
- Se quiser posso te ajudar - disse uma voz familiar.
- Hefesto!
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Sombra de Artemis
RandomA deusa da lua não é tão má como contam os livros. Um pouco mimada e teimosa, talvez. Sempre em busca de algo para acabar com seu tédio milenar, acaba se encantando pelos mortais e entra em guerra com os outros deuses por causa de uma aposta feita p...