A Advogada

Capítulo I - A Entrevista

Mariana acordou cedo naquela manhã. Na verdade, não havia dormido direito preocupada em não perder a hora da entrevista. Aos 23 anos, formada em Direito, estava em busca de novas oportunidades. O escritório em que trabalhava, apesar de se sentir valorizada profissionalmente, não lhe traria muitas oportunidades de crescimento, além do que já havia crescido. Ela iniciou na empresa como estagiária e, atualmente, estava atendendo a clientes como Advogada. Se tornou efetiva assim que foi aprovada na OAB e recebeu sua carteirinha.

Tomou um banho, secou os cabelos castanho escuros, deixando-os soltos, vestiu uma calça preta, blusa branca e casaquinho de manga ¾ preto. Uma maquiagem leve realçando sua pele clara, um rímel destacando seus olhos cor de mel e um gloss claro na boca carnuda. "Perfeito! ", pensou se olhando mais uma vez no espelho.

Sua entrevista estava marcada para as 08:00h, em um grande escritório de advocacia em um prédio comercial no centro da cidade. Saiu de casa às 07:00h, em seu carro, preferindo chegar um pouco mais cedo e esperar do que ficar presa no trânsito e perder o que poderia ser uma grande oportunidade. Estava pensando no que um novo emprego poderia lhe proporcionar e chegou a se perder um pouco nos pensamentos, quando foi despertada pelos toques do celular, deu olhada rápida para não se distrair no volante. Era Theo. Preferiu não atender, pois já estava chegando no centro empresarial. Ligaria para ele assim que chegasse, se desse tempo.

Dirigiu por mais alguns minutos e virou na rua do centro empresarial. Procurou uma vaga e estacionou. Eram 7:30h. Retocou o gloss, ajeitou os cabelos e desceu do carro. Parou na calçada e fez uma ligação:

- Oi, meu amor! Porque não me atendeu?

- Estava dirigindo, Theo. Já cheguei aqui para a entrevista. Não posso falar muito, ok? Depois te ligo.

- Tudo bem meu amor, boa sorte!

- Obrigada, tchau!

Mariana e Theo, se conheciam desde crianças. Ele era afilhado de sua tia e sempre declarou seu amor por ela, mesmo antes de começarem a namorar. Estavam juntos há uns 3 anos mais ou menos, Mariana não era boa em guardar datas. Ele a ajudou muito quanto os pais dela morreram. E acabou se aproximando demais e, guiada por um sentimento de gratidão e carinho, acabou aceitando quando ele a pediu em namoro. Ela acreditava que este carinho e admiração se transformaria em amor algum dia. Quem sabe?

Ela entrou no saguão do centro empresarial e foi em direção ao elevador. A moça que ligou disse que ela deveria seguir pelo elevador até o oitavo andar. Ao chegar, ficou impressionada com a beleza da recepção da Alcântara & Bittencourt. Um balcão de mármore branco, era contrastado pelo preto dos sofás em couro e grandes vasos pretos com palmeiras. A recepcionista era linda e combinava perfeitamente com o ambiente: pele clara, olhos e cabelos pretos, magra, alta, vestida com um tailleur preto, camisa branca e maquiagem discreta. Mariana viu em seu crachá o nome Bianca.

- Bom dia, Bianca. Tenho uma entrevista às 08:00h, meu nome é Mariana.

- Bom dia, Sra. Mariana. – Bianca deu uma breve olhada na agenda preta sobre a mesa – Sim, por gentileza, aguarde um momento que vou anuncia-la. Temos água, café, cappuccino, ao seu lado direito. Por favor, fique à vontade.

- Muito obrigada!

Mariana tomou um copo de água e se sentou. Eram 07:50h. A ansiedade estava começando a tomar conta dela. Começou a se lembrar de toda a sua vida até aquele momento. Mariana era filha única. Seus pais faleceram em um acidente de carro quando ela tinha 16 anos. Pelo que parece, uma falha no freio os fez perder o controle e o acidente foi fatal. Na época, as investigações não avançaram muito e o assunto se perdeu. Ela recebeu uma boa herança, seu pai era Gerente em uma empresa de grande porte e sua mãe uma renomada Psicóloga. Mariana foi morar com sua tia, que também era sua madrinha, e mesmo com toda a herança que recebeu, não deixou o sonho de ser Advogada, trabalhar e batalhar pelos seus sonhos. Por este motivo, quando completou 18 anos, utilizou parte da herança para comprar seu próprio apartamento, seu carro e começou a faculdade. Quem sabe ela tivesse a oportunidade de retomar o caso de seus pais para ter a certeza de que realmente foi um acidente?