O Comum

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Talvez eu seja o único ser humano no planeta que não se lembra dos sonhos. Bem, não me importo, afinal sequer sei se sonhei... O fato é que meus dias são bem comuns e um tanto quanto normais demais. Ao me levantar, desço as escadas para um café feliz e harmonioso com a família! Certo, não há uma família. A bem da verdade, às vezes nem café.
Moro em uma espécie de nave-casa. Não que isso me deixasse empolgado, pois durmo em meio aos cabos e fios.
Estou assim desde que me entendo por gente. Nunca conheci meus pais ou alguém da minha família. Os meus patrões (nunca permitiram que os chamasse de pais) disseram que me encontraram...

Chego na cozinha e me deparo com todos no café da manhã: A patroa Reniz, uma coroa carrancuda, mas bondosa. Seus olhos grandes seu cabelo desgrenhado e gasto dos anos lhe impuseram a bondade naquele rosto feio. O patrão Yuk, um asiático avarento e orgulhoso, o que tem de baixinho, tem de reclamão. Além, é claro, do filho deles, o Magal, cujo senso de humor deveria ser proibido em todos os continentes desta biosfera! Tudo bem, exagerei... Mas ele só faz piada de merda.

- Hugo, temos um carregamento pra deixar na Cidade dos Outros. Se nos apressarmos, podemos pegar essa grana fácil hoje. - disse o patrão.

Carregamento... Que nada, apenas algumas bugigangas e tralhas que são encontradas em cantos estranhos.

- Encontrei, anteontem, uma ferramenta usada a aproximadamente mil anos atrás, pelos bárbaros. Parece ser uma espécie de coisa que protege contra a chuva - disse patrão Yuk.
- Ah, velho bobo, isto era uma sombrinha ou guarda chuva Pesquisamos isto no guia. - Retrucou patroa Reniz.
- Hum - resmungou patrão Yuk.

Bom, acontece que há mais ou menos mil anos atrás, nossos antepassados desempenhavam uma função importante na natureza. A cada dia, se tornavam mais intrínsecos com o planeta Terra do que desejariam que fossem. No fim, sucumbiram com ele.

Após a descoberta de tecnologias superiores à da época, somadas à engenharia reversa, houve a possibilidade do homem "brincar de Deus". A Seleção Natural, entendida por um certo velho chamado Charles Darwin, é comprovada nos tempos de hoje. Aliada à Evolução e Epigenética, o homem se achou dono do poder e passou a manipular genomas, criar remédios a partir destes e, tudo isso, sem se preocupar com as mutações. Animais selvagens sendo cobaias, pessoas que estavam a disposição dos testes fármacos em troca da cura de doenças... Somando tudo isso à uma guerra biológica, química e armamentista. Atmosfera modificada por gases tóxicos e radioatividade a níveis absurdos, alcançado milhares de quilômetros. Tudo isso por conta de diplomacias e acordos falsos, corrupção, ganância, etc.

Porra, isso é uma história de terror. Ou não. Um animal doméstico vive de acordo com aquilo que seu dono lhe proporciona...

Por fim, após tudo isso, acordos internacionais foram desfeitos, governos sucumbiram, cidades, estados e países, sumiram diante da miséria.

Interessante, afinal... Mas isso tudo eu li, estudei nos HD's do sistema, me contaram, via nas bibliotecas virtuais, enfim. Eu nunca saio daqui de dentro, a não ser para negociar. Acordo em um lugar e durmo em outro. Pra mim, nada em minha vida foi tão comum como já foi e continua sendo.

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⏰ Última atualização: Feb 18, 2016 ⏰

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