Três

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Leio pela terceira vez o formulário que acabei de preencher, me levanto da mesa que há em nossa cozinha e dou de cara com Lorenzo.
-Desculpa Lorenzo - me abaixo para pegar a pasta que acabou caindo de sua mão.
- Me chame de pai menina - ele sorri para mim, mostrando aqueles dentes amarelados tortos.
Ele nunca será meu pai e nunca o chamarei assim, apesar de ter me tratado como sua filha.
Lhe entrego o papel cor bege, com tudo preenchido. Uma vida minha que nunca existirá.
-Hum..-diz ele lendo e tamborilando os dedos no queixo- Casta 5? -ele me olha arqueando uma de suas sombrancelhas igualzinho a Mia.
Eu tinha que escolher o número de minha casta, pois se colocasse a casta 8 nunca poderia entrar.
Escolhi a 5 por simplesmente admirar música, pois ela é a casta dos artistas. Confesso que nunca ouvi uma música diferente a não ser uma canção de ninar que meu pai cantava para mim antes de dormir, e outras que tocam aqui, quando tem reuniões. Mas sempre amei a melodia, acho que a melhor maneira de se sentir livre é ligar o som e apenas se deixar flutuar pelas notas.
-Eu gosto dos cinco..-digo finalmente.
Ele sorri e coloca uma das mãos em meu ombro me empurrando para a sala, ele se senta e me sento no outro sofá, ficando assim de frente para ele
-Finalmente acabaremos com aqueles malditos! Você sabe como temos tentado a anos, invadir aquele insignificante castelo. - Ele diz me olhando e não parando de sorrir uma vez sequer, seu cabelo loiro, arrepiado e liso ao mesmo tempo estão em seus olhos verdes. Sua pele enrugada e já maltratada pela idade está suja de graxa e me seguro para não ir até ele e limpar seu rosto com uma toalha. Não que eu me importe, não me importo. Não sou tão próxima dele como sou da mae de Mia. Prefiro colocar nossa relação, como se fôssemos negociantes, fazendo uma armadilha para tirar a imensa dor que há dentro de nós, acabando com a família real. Eu por ser arrancada a força de meus pais, e ele por simplesmente ser dado como bandido e criminoso para o resto de Illéa.- Como já disse a você, os rebeldes, nosso povo - ele dá ênfase- não queremos mais mortes - também, do jeito que já acabaram com quase meio mundo, acrescento mentalmente. Sempre via nos noticiários da pquena televisão de minha antiga casa, noticias sobres os atentados dos rebeldes, e dos números elevados de mortes que traziam consigo.- apenas queremos ser livres e ter igualdade. Você compreende o que estou lhe falando, não é, querida Elisa?!
Não sou sua querida. Penso mas não digo.
Na verdade não compreendia, na casta 6, de onde eu era, a casta dos empregados ou serviçais, não gostavamos deste sistema da realeza, de você ser destinado a fazer essa mesma função até o resto de sua vida sem ter ao mínimo, escolhas, mas também, nunca desejavamos a morte de ninguém.
Já os rebeldes sempre acreditaram que isso tudo só irá acabar, quando o rei e sua família estiverem mortos. Quando era pequena morria de medo dos rebeldes, e agora sou uma deles. Agora concordo que todos os que são da casta 1 deveriam morrer, e sentirem a mesma dor que eu senti.
-Claro que compreendo -digo meio que automaticamente- E estou louca para poder ajudar todos vocês.
Sorrio para ele, que se levanta do sofá parecendo satisfeito com minha resposta.
-Nos veremos no jantar. -ele pisca para mim e sai pela porta.

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⏰ Última atualização: Jul 30, 2016 ⏰

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