Aulas e amigas chatiadas

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08:15h

- Não.

- Porquê?

- Porque não ok? Já disse que não vou fazer isso.

- Por favor Alexandra - diz me olhando com cara de quem está quase a chorar - faz isso por mim. Para nos despedirmos da escola.

- Marc. - digo olhando para os olhos castanhos deste - Lê os meus lábios. N-Ã-O. E já te disse milhões de vezes para não me chamares Alexandra.

Ao fundo ouço a campainha da escola a anuciar que as aulas vão começar. Amanhã é o meu último dia de aulas nesta escola. Nunca pensei que teria soudades dela, mas olhando para traz, para os anos que aqui passei, percebi que está na hora de deixar uma marca.Tomo uma decisão.

- Ok.- digo - Eu vou.

- Ótimo! Obrigada, eu sabia que podia contar contigo para isto.

Após dizer estas palavras Marc dirige-se para a sua sala a correr. Depois de olhar para o relógio lembro-me que vou ter Geografia e que como normalmente a professora já se encontra na sala antes do toque é melhor apressar-me.

A correr, passo pelos pavihões B e C em direção ao pavilhão D, reparo em algumas crianças a saltarem à corda e em algumas raparigas ,que parecem não ter dado a minima para o toque, a ouvir música aos altos berros. Nunca gostei de música alta, mas não posso mudar os gostos das outras pessoas.

Ao chegar ao pavilhão subo as escadas e apercebo-me que a porta da sala está aberta, parece que a sorte hoje está comigo.

Entro calmamente, aproveitando que a professora estava a falar com um colega meu no fundo da sala, e sento-me no meu lugar, na fila da frente.

- Chegas-te atrasada.

Viro-me assustada e deparo-me com a minha colega de mesa, Sara tem os cabelos pretos um pouco à frente dos olhos castanhos, o que faz com que eu não perceba se esta está a olhar para mim ou para o telemovel que tem escondido dentro da mala, que está em cima de suas pernas.

- Desculpa - digo - estava a falar com o Marc.

- Ai é? E sobre o que é que estavam a falar os pombinhos? - diz ajeitando o cabelo e me olhando com uma cara interessada. Ela sempre diz que um dia eu e o Marc vamos namorar mas eu acho que não é bem assim. Não me levem a mal eu adoro-o, é dos meus melhores amigos, mas nunca pensei nele como mais.

- Calma não é nada disso - digo corando - é apenas uma coisa que ele quer fazer amanhã. E acho que devias parar com essa fixação de que eu e o Marc ainda vamos namorar um dia. Não faz bem para a saúde alimentar mentiras.

- Que pena - responde - acho que ele não pensa assim.

- O que queres dizer?

- Ai Alexandra, fala assério. Não és tu que andas sempre com um livrinho atrás?

- Sim, mas...

- Mas nada! Tu sabes exatamente o que eu quero dizer.

- Sim - respondo - É verdade, eu sei que o Marc gosta de mim. Mas existe um problema. Eu não o quero magoar, eu não quero ferir os seus sentimentos, tenho medo que depois que eu lhe disser que não gosto dele da maneira que ele deseja ele simplesmente deixe de querer andar comigo.

- Tu não sentes mesmo nada pelo rapaz? - pergunta Sara.

- Não.

Depois da conversa calámo-nos e abrimos os livros.

******************************
13:18h

Após uma manhã cheia de aulas, com alguns intervalos de vinte ou dez minutos, eu e Sara estavamos a dirigir-nos para o orfanato nos arredores de Lisboa em que viviamos.

Pois, tinha-me esquecido de dizer, eu vivo num orfanato. Não precisam de ter pena de mim nem nada, eu seguei lá aos dois anos, por isso nem me lembro de como eram meus pais.
No nosso orfanato vivem cerca de quatorze crianças, tem cerca de oito quartos, sete para as crianças, que dividem os quartos em pares mais um para a Carla, a nossa "mãe", também há mais empregadas, mas Carla é a única que vive connosco, cinco casas de banho, e uma cozinha com refeitorio, isto tudo dividido por quatro andares e um andar ao nivel do chão.

Quando chegamos ao orfanato, eu e Sara, fomos cumprimentar Carla, que nos disse que o almoço estava quase a ser servido, e subimos para o nosso quarto.

Eu e Sara dividimos um quarto desde os seis anos , altura em que ela chegou, e foi assim que nos conhecemos.

Como o nosso quarto ficava no último andar tivemos que subir quatro lances de escadas. Quando chegamos ao quarto atirei a minha mala para os pés da cama, peguei num livro e atirei-me para a cama. O nosso quarto não era nada de especial, tinha duas camas, ambas encostadas à parede, uma de cada lado, duas escrivaninhas, dois armários e uma janela.

- Ei! - diz Sara atirando-me a almofada à cara.

- Oque é? - pergunto atirando-lhe a almofada de volta.

- Tu não achas que estás um pouco velha para este tipo de livros? - pergunta tirando-me o livro da mão - Fala assério, uma rapariga da tua idade não devia estár a ler outras coisas a não ser fantasia? Já estou farta de te ouvir falar sobre deuses, ninfas, sereias, dragões e esse tipo de coisas. Essas coisas não existem!

Após Sara acabar de falar, levantei-me da cama devagar, andei para perto dela e tirei-lhe o livro das mãos.

- Queres saber porque eu gosto de ler fantasia? - esperei até ela fazer alguma coisa e depois de ela acenar que sim com a cabeça continuei - Para fugir da realidade.

Virei-me de costas para ela e andei em direção da estante. Olhei para o livro e li o titulo, "A Maldição do Titã" mesmo que já o tenha lido milhões de vezes continua a ser dos meus preferidos.
Quando chego à estante arrumo o livro no lugar e apanho uma das minhas revistas do National Geografic, mostroa a Sara e digo:

- Como podes ver eu também gosto de ler sobre ciência, não apenas fantasia. - atiro a revista para a cama - E não preciso de te mostrar um livro da CHERUB para te mostrar que também gosto de espiões, não é?

Dirijo-me para a porta e viro-me para Sara que está no meio do quarto a olhar para mim.

- Anda logo vamos chegar atrasadas ao almoço! - digo.
E saio porta fora a pensar no que a Sara irá fazer.

Cronicas De SemideusesOnde histórias criam vida. Descubra agora