O Disfarce da Morte Vermelha

3* cap

Foi um espetáculo voluptuoso, mas primeiro deixe-me descrever os ambientes onde o baile acontesceu. Eram sete aposentos --- uma suíte imperial. Em muintos palácios, porém, tais suítes formam uma perspectiva longa e reta quando as portas se abrem até se encostarem às paredesde ambos os lados, de tal modo que a vista de toda essa sucessão é quase desimpedida. Ali, a situação era muinto diferente, como se devia esperar: o príncipe era apaixonado pelo incomum e pelo bizarro.
Os salões estavam dispostos de tão irregular que os olhos só podiam vislumbrar pouco mais de cada um por vez. Havia um desvio acentuado a cada vinte ou trinta metros e, a cada desvio, um efeito novo. À direita e à esquerda, no meio de cada perede, uma alta e estreita janela gótica dava para um corredor fechado que acompanhava as curvas do aposento. A cor dos vitrais dessas janelas variava de acordo com a tonalidade dominante na decoração do salão para qual se abriam.
O vitral da extremidade leste, por exemplo, era azul --- um azul intenso. No segundo salão, os ornamentos e as tapeçarias, assim como as vidraças, eram de cor alaranjada; o quinto era branco, e o sexto, roxo. O sétimo salão estava todo coberto por tapeçarias de veludo negro, que pendiam do teto e pelas paredes, caindo em pesadas dobras sobre um tapete do mesmo material e tonalidade. Apenas nesse salão, porém, a cor das janelas deixava de corresponder à das decorações. As vidraças, ali, eram escarlates --- cor de sangue.
Em nenhum dos sete aposentos havia lâmpada ou candelabro em meio à profusão de ornamentos de ouro espalhados por todos os cantos ou pendurados do teto.