Um novo ano começa

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-Teresa, rápido! Vamos chegar atrasadas! São quase oito e um quarto e ainda nem sabemos qual é a nossa sala para este ano! - gritou Mariana, despertando Teresa, a sua melhor amiga, para o novo ano letivo que as esperava.
-Espera Mariana, estava só a ver quem são os Escolhidos deste ano... -replicou Teresa.
-Devem ser como os do ano passado. São sempre a mesma coisa: chegam a meio do 2º período e, mesmo tendo ganho a bolsa, acabam por ser expulsos ou suspensos. Não percebo a razão que leva a escola a continuar com este protocolo esquisito.- opinou Mariana, dando o braço à amiga com o objetivo de irem juntas à secretaria para saberem em que sala iriam fazer o seu 11º ano.
Teresa, no entanto, largou o braço da amiga e, manteve-se no mesmo lugar, sem parar de olhar para o grupo de alunos vindos do bairro social das redondezas ou, como os alunos do Colégio do Mar lhes chamavam, os Escolhidos, por terem sido os vencedores de uma bolsa para estudar neste colégio Lisboeta, onde todas famílias economicamente abastadas colocavam os filhos a estudar. Teresa, tal como as suas melhores amigas, Mariana e Sílvia, não era exceção, sendo descendente de uma família rica, com muitas posses, um pouco (bastante) snob e muito conservadora.

"Eu já vi aquele rapaz antes...", pensou Teresa enquanto olhava para um rapaz alto e magro, moreno e com pele cor de café. Vestia umas calças de ganga justas e uma t-shirt de uma equipa de basquetebol, provavelmente americana, que Teresa não conhecia. Este rapaz fazia-se acompanhar de um amigo ou, segundo Teresa deduziu: "outro dos novos alunos". Ao contrário do companheiro, o novo aluno era baixo, bem mais baixo que Teresa, e não parecia nem ter idade para estar no secundário, mas, tal como o amigo, aparentava uma pele escura, principalmente quando comparada com a pele cor de porcelana de Teresa. Também vestia roupas que os pais da maior parte dos alunos do Colégio do Mar consideraria como "roupa de gente que não faz nada da vida" ou, então, "roupa de desorientados que não sabem o que é a vida de quem trabalha!".

O primeiro rapaz, ao sentir-se observado por Teresa, devolveu-lhe o olhar enquanto encolhia os ombros em resposta a algo que o amigo lhe dissera, possivelmente sobre a nova escola onde se encontravam.

-Teresa, se não queres vir, não venhas! Eu não estou para estar aqui, tipo árvore, plantada no átrio do colégio. Vou à secretaria e vou procurar a Sílvia, que deve estar lá em cima, no bar, com o Bernardo.- exclamou, já a ficar irritada, Mariana, enquanto se virava em direção à secretaria e aos gabinetes da Direção do Colégio.

-Espera, Mariana, calma! Eu vou contigo.- cedeu Teresa, ao virar-se, pronta a acompanhar a amiga. Mas, ao dar um passo, sentiu uma mão no ombro direito e deu um gritinho, enquanto virava a cabeça:

- Olha, olá. Desculpa assustar-te. Mas sou novo por estas bandas...- disse o rapaz mais alto, aquele que Teresa estivera a observar, olhando em volta.- Podes dizer-me onde é a secretaria? É que nos disseram que tínhamos de passar por lá antes de irmos para as aulas...

-Hmm... Sim, não faz mal. É por aqui.- gaguejou Teresa, um pouco embaraçada.

Nesse mesmo momento, apareceu Sílvia, acompanhada de Bernardo, e, como já era habitual nela, decidiu logo fazer as apresentações e ajudar o colega novo:

-Sim, olha, eu sou a Sílvia, esta aqui é a Teresa,- apontado para a amiga- e aqueles ali são a Mariana e o Bernardo. Nós também temos de ir à secretaria, vem connosco, se quiseres.

- Está bem, obrigado- agradeceu o rapaz, virando-se para trás e, colocando os dois dedos indicadores na boca, assobiou para chamar o companheiro. Teresa, Mariana, Sílvia e Bernardo entreolharam-se, com um misto de desagrado e admiração: nunca nenhum aluno do Colégio do Mar ousaria fazer uma barulheira assim, ainda por cima no átrio da entrada da escola, por onde toda a gente passava, desde professores a alunos, passando pelos pais e avós que iam levar os filhos à escola.
Ao ouvir o assobio do amigo, o adolescente rapidamente se juntou ao grupo que, unido, se dirigiu à secretaria do colégio, pronto a começar um novo ano com o pé direito.

Deste-me o teu Rap, eu dei-te o meu CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora