-Sou eu!- gritou Teresa, ao passar pela porta da sua enorme casa, no Restelo, uma das mais nobres zonas de Lisboa.
-Tão tarde, filha!-repreendeu a mãe- Além disso temos visitas! Vai já tirar essas roupas imundas e vem lá abaixo cumprimentar os colegas do teu pai.
Teresa, tal como a mãe lhe pedira, rapidamente tomou duche e vestiu uma roupa que, segundo os pais, tinha de ser "apresentável" para os convidados que se encontravam na sua sala de jantar. Deu, também, uma rápida olhadela ao seu perfil do Facebook, para ver se, por acaso, não haveria nenhuma mensagem ou notificação que lhe pudesse interessar. Pelo contrário, apenas tinha uma mensagem da Sílvia a perguntar se a amiga já sabia em que extracurricular se iria inscrever neste ano-letivo. Tinha também uma outra mensagem, desta vez do primo da Mariana, Lucas, a dizer-lhe que se tinha esquecido de lhe devolver o caderno que ela lhe emprestara e que se teriam de encontrar noutro dia para que ele, se não causasse transtorno a Teresa, lhe devolver. Claro que Teresa não se importava de ter de se encontrar com o primo da melhor amiga. Qual transtorno, qual quê?! Após digitar uma pequena mensagem de resposta (onde deixou bem claro o seu número de telemóvel e as horas que tinha disponíveis para se encontrar com o rapaz), fechou o computador portátil, de uma das melhores marcas que se encontrava no mercado e que tinha sido uma das várias prendas que os pais lhe tinham dado no seu décimo sexto aniversário.
Mal abriu a porta do quarto, Teresa começou logo a ouvir as vozes animadas dos pais e dos seus convidados. Largou um suspiro: por vezes gostava de ter uma vida um pouco mais relaxada, mesmo sabendo que, se tal acontecesse, não teria nem metade das coisas que tinha e de que tanto gostava. Sem saber porquê, veio-lhe à cabeça a imagem de Fábio: como seria a vida daquele seu novo colega? Nada teria a ver com a sua, disso estava certa! Mas quais seriam as atividades de que o rapaz gostava? Que faria nos tempos livres? Com quem e onde viveria? Ao aperceber-se que, provavelmente, nunca chegaria a saber a respostas a estas perguntas, Teresa apressou-se a encaminhar-se para as escadas, pronta a enfrentar mais uma noite "de trabalho e convívio", como o pai lhe costumava chamar. Porém, sentiu algo ou alguém a mexer-se atrás de si e estremeceu de susto. Ao virar-se e ver de quem se tratava ia caindo escadas abaixo: à sua frente encontrava-se, sem tirar nem pôr Gonçalo, o rapaz que desde sempre gostara de Teresa mas que, para sua grande tristeza, nunca fora um amor retribuído. Teresa, pela sua parte, achava-o demasiado convencido: tinha as raparigas todas atrás de si, como se de um Deus se tratasse; passava horas a apregoar a quantidade de mansões com piscina e clubes privados que os pais e a família possuíam e, para juntar a todas estas "qualidades", Fábio era o capitão da equipa de basquetebol do colégio o que, a ver de Teresa, era um autêntico desperdício de tempo por parte de todos os jogadores da equipa, uns "brutos convencidos que se adoram gabar mas só têm músculos e falta de cabeça para lidar com os problemas reais da vida".
-Olá Teresinha!- outra das coisas que mais irritava a adolescente era ser tratada por diminutivos e Gonçalo parecia que o fazia de propósito só para a chatear.- Vinha à procura da casa de banho. A tua mãe disse-me que era aqui em cima.
-O que é que tu estás a fazer em minha casa, Gonçalo?! – perguntou Teresa, com uma voz incrivelmente calma, tentando não mostrar o desagrado que sentia.
-Não me digas que ainda não sabes, Teresinha!- disse Gonçalo, mostrando-se surpreendido.
-Não, não sei, e pelo andar da carruagem parece-me que não me vai agradar muito a explicação.- retorquiu Teresa.
-Muito me espanta que não saibas. Mas eu não me importo de te explicar. -volveu Gonçalo- Então é assim: os nossos pais começaram a trabalhar juntos esta semana, por causa de uns negócios com a Alemanha que, segundo o que o meu pai me explicou, podem ser bastante bons para ambas as empresas.
-Espera lá! Acho que não estou a perceber bem.- disse a rapariga, tentando fazer-se desentendida. –Negócios? Os nossos pais juntos?
-Sim, já te expliquei. –confirmou Gonçalo, não percebendo a cara da colega, que passara de branca para azul e depois verde. – Assim, vão começar a passar muito tempo juntos, o que significa que terei de vir a tua casa várias vezes! Não é fantástico, Teresinha?!
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Deste-me o teu Rap, eu dei-te o meu Coração
Teen FictionTeresa nunca pensou que, de um ano letivo para o outro, tanta coisa pudesse mudar na sua vida. A entrada de Fábio para o seu colégio, conhecido por ser o local onde todos os rapazes e raparigas de famílias ricas estudavam, acabou por se tornar numa...