Pelos Olhos Teus

Hora de voar

ANTONY

Eu estou com tudo e nada pronto pra viagem. Sim.
Tudo,documentos, dinheiro, objetivo,foco etc.
Nada,me sinto como se faltasse coisas pra resolver antes de ir e isso está me incomodando de uma maneira absurda.
Bom, com Marcella eu mal ou bem já me acertei. Não queria que tivesse sido daquele jeito.
Ela implorando meu afeto. Me puxando pela camisa. Por um momento pensei que eu e ela fôssemos cair da janela.
Eu queria ter ido lá e ter me desculpado e dizer que ela foi a melhor coisa que me aconteceu e que mesmo que a gente demore anos pra se vê eu nunca iria esquecer das nossas loucuras.
Mas ela é tão...como dizer? Dramática. Que preferiu levar as coisas ao extremo.
Queria pedir desculpas por ter chamado ela de "Vagabunda".
Depois de tudo que fiz com ela eu não tinha o direito de dizer uma coisa dessas.
Queria dizer também que infelizmente não era pra ser.
Eu não queria o que ela tinha pra me dar e também não podia oferecer tudo que ela merecia.
Parece que a Ketleyn tirou isso de mim. Não estou dizendo que queria ser o genro dos sonhos, mas também não queria ser uma pessoa vazia que se recusa a deixar alguém preencher os.espaços vazios da alma.
A Ketleyn foi tudo pra mim.
Meu sim e meu não.
Meu início e meu fim.
Minha alegria e minha tristeza.
Minha vitória e minha perda.
Minha guerra e minha paz.
Quando a conheci eu sabia de seus conflitos internos.
Ela a princípio dizia ser bissexual e eu nunca a descriminei por isso.
E essa minha atitude fez muito bem a nós dois.
Porque ela não se sentia mais desconfortável com a opção sexual dela e parecia bem resolvida até.
Pra mim foi especial pelo fato de eu ter tirado o peso que ela sentia das costas dela e de quebra ter sido a pessoa mais feliz do mundo.
Mas ela se entendeu tanto que foi mais além.
Uma coisa era eu aceitar a opção sexual dela outra coisa era aceitar que ela se transformasse em em rapaz.
Eu a compreendi nos momentos em que nem o psicólogo dela a compreendeu e eu fiquei seguro de que ela iria ser recíproca.
Ela viajou dizendo que precisava se encontrar. Que iria atrás do sonho de ser quem ela realmente é.
Quando eu fiquei sabendo da viagem ela já estava lá a uma semana.
Não preciso especificar muito o meu estado naquela época.
Mas levei um mês pra por os pensamentos em ordem. Pra associar as coisas e aceitar os.fatos.
Mas até hoje eu me pergunto:
"Onde eu.estava durante esses sete dias? "
Chega, já está feito e resolvido.
Só falta agora o meu irmão.
Sempre fomos ligados um a outro não pela mesma carga genética, mas por uma cumplicidade de amigos.
Sempre fomos transparente um pro outro e nos conhecemos perfeitamente.
Depois daquela droga de festa as coisas não tem sido assim.
A gente até age "normal",mas agora parece forçado. E quando a gente conversa sobre o assunto sempre discordamos.
Ele não entende que foi usado por Marcella pra se vingar de mim. Só sei que antes de ir quero dizer a ele que sinto falta do que éramos antes.
Bom, chega de conversa.
Hora de partir!