- Acha mesmo que isso vai ser bom? Você mal me conhece.
- É ai que tá. Quero te conhecer.
- Isso não isenta o fato de que pode querer me matar.
- Bom, são 02:00pm, estávamos em um bar, eu te beijei, coisa que não costumo fazer com qualquer garota, depois sai correndo atrás de você que parecia uma louca e jagora estamos no meio de uma praça, sentados, conversando sem ninguém observando. Se eu tivesse a intenção de matar você, já teria feito. - olhou dentro dos meus olhos e arqueou uma das sobrancelhas. - Ainda acha que eu quero te matar?
- Não, você me convenceu. Então, fala mais de você.
- Meu nome é Guilherme Magalhães, tenho 19 anos. Atualmente sou jogador de futebol, sou carioca e me mudei tem pouco tempo por conta do clube, sou apaixonado por música e não sei mais o que dizer.- disse dando uma leve gargalhada. - Agora é sua vez.
- Jogador de futebol? Tá explicado o ego. - eu ri
Ele me olhou e revirou os olhos, então disse :
- Pode me falar ou terei que descobrir sozinho?
- Bianca Mernacci, 17 anos completos hoje, não faço nada da vida além de estudarc. Gosto de escrever e sou apaixonada por fotografia. Não sei o que falar sobre mim.- disse enquanto sentia meu rosto corar.
Ele olhava nos meus olhos como se fosse me devorar a qualquer momento, vi um sorriso aparecer em seu rosto. Simpático.
- Você fica linda assim toda sem jeito.
- Já ouvi isso antes.
- Deve ter escutado um monte de outras coisas também.
Eu o olhei e dei um sorriso sem jeito. Senti meu celular vibrando no meu bolso e o peguei para ver quem era. Era Higor, o atendi sem nem pensar duas vezes.
- Oi.
- E aí princesa, o príncipe encantado já deu o bote novamente? - disse gargalhando
- Não, aconteceu algo?
- Sim, a aniversariante sumiu.
- Tô voltando, me espera ai que já tô chegando.
Encerrei a ligação deixando transparecer que algo tinha acontecido. Olhei para Guilherme que me olhava atentamente.
- Aconteceu algo?
- Não exatamente, mas tenho que ir. Foi um prazer conhecê-lo. - disse dando um sorrisinho e levantando.
- Bia? - ouvi ele me chamando enquanto caminhava
- Oi. - olhei sem entender muito bem.
- Pode me passar seu número? - disse abrindo um sorriso escancarado. Passei o meu número para ele e começei a caminhar.
Senti o mesmo puxão no braço, a mesma pegada na cintura, os mesmos lábios tocando os meus, mas não sentia mais nada.
Depois do longo beijo, andei em direção ao bar. Fiquei pensando no porque de todas as pessoas fazerem aquilo. Como podem sair beijando qualquer um?
Cheguei no bar, peguei uma garrafa de água e fiquei observando todos. Todos aqueles que estavam presentes, pareciam estar felizes. Mas porque estavam ali ? O que eu conseguia ver era só pessoas vazias esperando algo dar errado pra encher a cara. Não gostava disso, nem tentava entender. Mas com o tempo fui aceitando a ideia de que pessoas de mente vazia só se enchem com álcool e outras drogas e assim fazem coisas que acabam atrapalhando quando estão em sã consciência.
Era assim que acontecia. Você conhecia um carinha interessante na balada, dali a dez minutos já está se agarrando com ele. Ele quer fazer a linha "bonzinho" do tipo você é única, pede seu número, vocês ficam mais algumas vezes, talvez role algo sério.Mas na primeira briga ele sai com os amigos, te trai com a balada inteira e diz que alcoonteceu. Você chora, fica mal, mas supera.
Fiquei parada observando cada coisa enquanto Higor e Júlia se aproximaram. Já sabia o que estava por vir, então relaxei e esperei.
- Olha a Biiiiiaaaaa - Júlia chegou correndo antes do Higor que caminhava tranquilamente.
- Hm. Para de gritar.
- Ah Bianca, deixa de ser chata. Conta lá como foi com o carinha.
- Como assim como foi com o carinha? Ele me seguiu. Poderia estar morta agora.
- Mas não está. - Higor se aproximou.- Desembucha, agora.
- Ah gente, ele só pegou meu número e me deu um beijo. Não quis render muito.
- Isso é o que? - Disse Jú, impaciente. - Olha, Bia. Não é porque não deu certo que não vai dar nunca mais. Desencana, segue em frente. Passado fica no passado. Se continuar trazendo pro presente vai só te atrapalhar, amiga.
Olhei pro Higor que logo respondeu.
- Nem me olha, sabe que ela tem razão.
- Vocês dois sabem o que já passei, posso dar quantas chances for. Mas eu nunca senti nada por ninguém. Nem por aquele traste. Não vou ficar com alguém que "só me faz bem". Alias, acabei de conhecer o cara e vocês sabem o que penso sobre isso.
- Tá, a gente sabe. Mas não custa tentar.
- Tá bom, acho que vou embora. Vou me despedir do pessoal.
Me despedi do pessoal dizendo que estava com um pouco de dor de cabeça e séria melhor que fosse embora e que eles continuassem aproveitando o local.
No táxi, já no caminho de volta pra casa, relembrei de um garoto que havia conhecido, não gostava dele, não sentia nada além de atração física. Na verdade, me arrependo um pouco até hoje de ter dado o meu primeiro beijo em alguém tão sujo. Alguém que joga sujo mesmo, faz charminho de bom moço e quando você vai ver lá está ele : de volta com a ex, jurando, novamente, nunca mais abandonar. Mas basta a primeira farra, a primeira garota aparecer na frente que os sentindo já muda. Diz que ama tanto e no final faz "burrada".
Que seja, se estiver com alguem o máximo que deve ter por essa pessoa é respeito. A coisa mais suja que alguém pode fazer, independentemente de estar junto à alguém, é beijar outro alguém com o coração em outro. Se entregar de corpo mas a alma está com outro.
Nunca me culpei pelo que aconteceu. Só tinha medo e insegurança de deixar com que alguém machuque outro alguém e assim ambos saiam arrependidos. Uma por ter interferido em algo que nunca soubera que existiu e outra por estar ali, lado a lado e deixar me levar por aquilo.