Ser pego não fazia parte do plano. Dar uma zoada que seria comentada por décadas, sim. Estou de pé com cinco dos meus amigos na sala do diretor Arthur ouvindo ele falar há uma hora porque nossa pegadinha mais recente envergonhou não só a ele, mas também aos seus seguidores e professores desse "maravilhoso colégio interno".
- Alguém quer confessar? - Arthur pergunta.
Derek e Matheus estão apavorados. Julian, Jack e Calebe estão tentando segurar a risada.
Fui chamado à sala do diretor mais do que algumas vezes desde que fui transferido pra cá, então não é nenhuma novidade para mim.
Durante a semana de provas finais na Academia Preparatória Regents, na Califórnia, os veteranos passam um trote nos calouros. É meio que uma tradição. Este ano, os veteranos conseguiram colocar tinta rosa nos nossos chuveiros e tirar as lâmpadas dos corredores dos nossos dormitórios. Era justo que déssemos o troco, mas numa escala maior. Os veteranos estavam esperando que atacássemos seus dormitórios, e dava para ver que eles estavam tensos durante a semana. Eles ficavam vigiando o tempo inteiro, prontos para defender seu território.
Meu colega de quarto, Matheus, veio com a brilhante ideia de pegarmos três porquinhos filhotes da fazenda do tio dele engordurá- los com vaselina e deixá-los correr soltos no dormitório dos veteranos. Matheus disse que deveríamos deixar os porcos correrem soltos durante a formatura.
Admito que foi minha a ideia de dar números aos porcos... 1, 3 e 4. Foi preciso seis de nós para dar conta. O toque de recolher foi a deixa para soltar os porcos.
Também achei que a gente ia se livrar dessa, até que nós todos fomos chamados ao escritório do Arthur, há uma hora.
A assistente do Arthur, Samantha, enfia a cabeça na sala:- Sr. Arthur, o número dois não foi encontrado. - Samantha disse
O diretor faz um barulho estranho com a boca e parece frustrado. Se Arthur não fosse tão chato, eu até diria para ele encerrar a busca porque não há porco número dois, isso é só parte da piada. Mas ele é o tipo de cara que não dá a mínima para os alunos. Arthur só quer se certificar de que todo mundo saiba que ele tem o poder de dar ocorrências e de demitir professores quando quiser. Já o vi abusando desse poder mais de uma vez esse ano.
- Eu fiz isso - digo, exagerando meu sotaque do Texas porque sei que o Arthur odeia a idéia de que um caipira frequenta a sua preciosa escolinha. Mais de uma vez ele me chamou a atenção por dizer "pra modeocê". Admito que fiz isso só pra mode irritar o cara.
Arthur fica parado na minha frente:
- Qual dos seus coleguinhas aqui te ajudou? - ele perguntou.
- Nenhum deles, sinhô. Fiz tudo sozinho. - eu disse e balançou o dedo para mim.
- Quando seu pai souber disso, certamente ficará muito decepcionado com você, Miguel.Minha espinha gelou. Meu pai, também conhecido como comandante Felipe Bittencourt, está fazendo outra turnê da Marinha. Está num submarino pelos próximos seis meses, completamente separado do resto do mundo. Eu me pergunto rapidamente como minha nova madrasta, Bruna, está se virando agora que meu pai está em serviço. Nosso esquema é perfeito. Vivo aqui até me formar, e a nova esposa do meu pai vive na nossa casa alugada perto da base Naval com o filho de cinco anos que ela teve com algum ex-namorado. As notícias da minha armação com o porco não devem chegar até meu pai. E se Arthur acha que vou decepcionar Bruna, isso me faz rir. Arthur abaixa seus ombros e me dá um de seus treinados olhares de reprimenda que o fazem parecer um ogro com anabolizantes.
- Você espera que eu acredite que você roubou umas das vans da nossa escola e transportou quatro porcos para a cerimônia da formatura, os engordurou e os soltou, tudo isso sozinho? - ele disse em um tom de ironia.
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Amor Em Jogo!
RandomSABE AQUELAS FASES DA VIDA EM QUE TUDO PARECE DAR ERRADO? MIGUEL E ALICE SABEM MUITO BEM COMO É ISSO. Miguel acabou de ser expulso do colégio interno em que estuda desde que seu pai foi convocado pela Marinha. As coisas vão de mal a pior quando rec...