Mudando Regras

~ 1 ~

Elizabeth olhou por cima do ombro, o fiscal de área havia acabado de virar a esquina, ela saiu de trás do vaso de planta e foi andando para casa.
Bateu cinco vezes na porta e ouviu uma voz meio aguda:
- Elizabeth? Já de volta?
- Sim! Dá para calar a boca e abrir a porta?
A porta rangeu um tanto indiscretamente e revelou a menina de cabelos lisos e castanho claros com olhos escuros chamada Andressa,
que abrira a porta, ela apertou os olhos e fitou Elizabeth:
- O que você comprou? Tudo que estava na lista? Não roubou nada não é? Não queremos mais nenhum fiscal de área aqui e...
- Não tenho uma mãe... mas não preciso para saber que você age exatamente como uma quando está nervosa. Fique tranquila, sim? Não, não roubei nada e nenhum fiscal de área vai bater na porta me procurando!
Elizabeth entregou as sacolas nas mãos de Andressa, que as colocou em cima da mesa e se sentou no sofá para ler alisando com a mão a saia do vestido de algodão.
Entrando no quarto, tirou a mochila das costas e desamarrou o cordão de couro que a fechava, tirou a luva da mão direita e a enfiou na mochila retirando um cordão com um pingente Dourado de uma rosa então ouviu uma voz:
- O que trouxe?
- Markus... não era para estar na fábrica de peças agora?
- Eu fui dispensado mais cedo pelo supervisor, Elizabeth... agora... posso dar uma olhada no que trouxe?
- Não pode contar para ninguém...
- Eu não sou a Andressa está bem? Não sou duro! Deixe-me ver!
Passou o cordão para a mão de Markus que examinou bem o objeto. Suspendeu pendurando o cordão no dedo indicador e então a porta se abriu deixando Passar uma garota baixinha morena de pele escura e olhos negros e uma menina de aparência oriental, Ana e Júlia.
- A Srta. Marta já liberou vocês? -disse Markus escondendo o cordão no bolso das calças de Elizabeth sem que Júlia e Clara percebessem- Pensei que fossem ficar no ateliê até mais tarde.
- Srta. Marta recebeu a notícia de um problema com o irmão mais novo que se meteu em uma briga com um dos fiscais de área. Ela resolveu nos liberar mais cedo. -informou Júlia- Até porque a filha do supervisor local só quer os vestidos terça, ainda dá tempo de fazer três vestidos de baile.
- Então... -mudou de assunto Clara- O que trouxe Liza?
- Não trouxe nada...
- Ah sem essa né! Por favor! Hábitos são hábitos... não param de uma hora para a outra!
- Vocês são impossíveis, não podem nem ao menos me deixar em paz mesmo que eu tenha trazido algo?
- E não ver o que você trouxe? -disse Clara.
- Não mesmo! -completou Júlia.
- Sem chance! -terminou Markus.
Elizabeth retirou o cordão do bolso e colocou-o em cima da almofada da cama, abriu a mochila e tirou mais alguns objetos, um broche baseado na capa de algum livro que já vira ao rondar pelas avenidas principais da região, uma pulseira de corrente com alguns pingentes como o símbolo do Império e uma rosa dourada, e então por último coloca em cima do travesseiro uma caixinha de madeira com detalhes impossíveis de se descrever.
- Bom... é isso.
- Só? -disse incrédula uma voz, mas de ninguém que estava ali- Você sempre trás mais!
Elizabeth olhou em volta, aquela voz era de Geovana, tinha certeza, mas ela não parecia estar ali, correu os olhos pelo quarto e então avistou a figura alta, no momento estava vestida com um macacão jeans e um avental de couro sujo de sangue.
- Achei que estaria no açougue à essa hora Geovana. -comentou Elizabeth.
- Seu Paulo decidiu me liberar mais cedo... o filho se envolveu em uma briga com um fiscal de área...
- Também? -perguntou Júlia.
E então Andressa que estava ouvindo a conversa se encostou no umbral da porta e comentou:
- Aparentemente houve uma rebelião, alguns dos moradores se voltaram contra alguns dos fiscais de área... muitos comerciantes fecharam suas lojas ou comércios mais cedo para interromper a briga.
- O que é idiotice! -falou Elizabeth- Todos sabem que, sem uma arma não se ganha de um fiscal de área!
- Quer dizer, sem uma arma e o benefício da surpresa, porque afinal, eles são programados para se defender de ataques Liza...
- Eu sei! Afinal quem trabalha com montagem e programação de fiscais de área aqui sou eu!
Então, D. Carla deu um pequeno grito, da sala, chamando Andressa e Ana Clara para que fizessem o jantar e chamando os outros para irem para a sala.
Todos deixaram a sala e se puseram onde deveriam.
Elizabeth sentou-se em uma poltrona azul escuro e Geovana Júlia e Markus sentaram-se em um sofá. E todos ficaram esperando D. Carla falar alguma coisa, mas ela ficou apenas sentada em sua poltrona peluda azul. D. Carla já era uma senhora, tinha 67 anos, os cabelos brancos e pele clara, extremamente clara, um pouco rara em tal região do Império, mas ninguém tinha certeza de onde ela vinha, provavelmente da região Central do Império. D. Carla mecheu os lábios, mas não disse nada, parecia estar pensando, em algo importante, sua mente parecia longe. Elizabeth ia se levantar para ver se Ana e Andressa precisavam de ajuda e então D. Carla perguntou:
- Alguém faz ideia de quando Lucas , Samuel e Diego chegam?
- Não tenho ideia do horário exato mãe... -disse Markus- mas com certeza voltarão antes do toque de recolher. As únicas pessoas que são altorizadas a perambular pela área de noite são as pessoas que trabalham nas fábricas de fiscais de área.
Como se, aproveitando a deixa Lucas , Samuel e Diego abriram a porta e passaram para dentro, Diego que, passara por último virou-se e trancou a porta, todos os três tiraram os coletes de couro e penduraram nos ganchos ao lado porta.
- Sentem-se meninos, eu tenho uma coisa a dizer, para todos vocês. -todos a fitaram, até mesmo Ana e Andressa que estavam na cozinha foram até a porta para escutar melhor- Eu irei para Angello. Meu filho e minha nora estão com problemas e precisam de mim la... vocês ficarão aqui por um mês. Eu irei amanhã, não sabia disso, antes que perguntem, só soube do problema hoje e amanhã estarei a caminho. Todos já sabem se cuidar, mas não quero que nenhum de vocês saia sozinho. Enquanto eu estiver fora abrem juntos. Bom... vou arrumar minha mala, partirei daqui seus horas.
Todos esperaram que D. Carla se retirasse, então cada um foi para o seu respectivo canto na casa.