O funeral

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Como a avó Alice tinha dito ontem, hoje seria o meu funeral. Não sei porquê mas, de alguma forma estava nervosa, e triste (obviamente).

Eu não queria ver a minha família a chorar...não queria ver ninguem chorar...não queria ver ninguém a sofrer por mim.

Cheguei ao cemitério com a avó Alice e foi aí que me descontrolei, o facto do ver o meu irmão mais velho e a minha irmã a chorar partiu-me o coração.

Caramba....nunca tinha visto o David a chorar, nem mesmo quando ele era mais novo. Ele sempre foi o irmão mais velho, ele nunca podia chorar à minha frente. Ele tinha que ser forte. Apesar de às vezes distante, eu sabía que ele me amava muito. Também sabia que ele fazia uns esforços enormes para brincar às bonecas comigo, quando era pequena...mas não...apesar de odiar brincar às bonecas ele nunca se queixava, nem mesmo às vezes com a Mia...ele nunca se queixou. Ao aproximar-me do David, veio-me à cabeça a última memória que tive com ele. Oh, não...tinha sido uma discussão. Uma discussão parva e sem sentido. Devia ser sobre uma porcaria qualquer. Só sei que a minha última frase foi: "Odeio-te". Foi quando me apercebi que tinha que resolver o meu primeiro problema como fantasma: tentar arranjar as coisas entre mim e o meu irmão.
Mas como?

Quando me fui aproximado da Mia, que se encontrava uns metros mais à frente do David, fui pensando nas histórias que nunca mais iria voltar a contar-lhe, nunca mais iría brincar às bonecas com ela, nunca mais iría poder pentear os seus cabelos loiros. Quando cheguei ao pé dela, tentei acariciar-lhe o cabelo, que estava apanhado, mas esta abanou a cabeça rápidamente.

A avó Alice olhou-me severamente naquele momento.

Os fantasmas supostamente não podiam tocar nas pessoas. Era proíbido.
A avó explicou-me que se lhes tocasse eles podiam ficar meio paranóicos por serem tocados por algo que não se vê...
Recuei um pouco e bati contra um jarro que havia no chão, os outros fantasmas que lá se encontravam olharam para mim...

Até em fantasma sou um desastre...incrível...

-O dia não podía estar a correr melhor...-suspirei sarcasticamente.

- É difícil ao início, mas vais ter que te habituar por enquanto Carol. - a avó Alice pôs a mão no meu ombro.

Suspirei, e lágrimas começaram a correr lentamente pela minha cara. Quando a avó Alice reparou, sussurrou ao meu ouvido:

-Querida, a dor ainda não acabou, mas vais ter que aprender a viver com ela.

***

Mais tarde, fui até minha casa para resolver o problema com o meu irmão. Foi fixe, mas estranho pois não tive de usar nem a chave nem as escadas para ir ter até ao meu quarto, afinal, eu era um fantasma.
Lá, comecei a escrever uma carta (a casa estava vazia, para que ninguém entrasse no quarto e visse uma caneta a escrever sozinha). Com sorte, o meu irmão encontrava a carta e lia-a.
Para não parecer uma "carta" tentei parecer com que fosse uma folha rasgada de um diário. Assim, iría parecer mais pessoal e credível.

"Querido diário:

Hoje tive uma discussão horrível com o meu irmão, e sinto-me péssima. Mas, acima de tudo amo muito o meu irmão David...ultimamente, com as nossas mudanças da adolescência temos andado a ficar cada vez mais mudados, diferentes e distantes...no entanto, nunca me esquecerei das nossas memórias de infância...essas ninguém nos tira.

Carol"

Deixei a folha em cima da minha antiga escrivaninha...à espera que ele a lesse...de repente, alguém entra no meu quarto a correr...

Tudo mudou quando partiOnde histórias criam vida. Descubra agora