Foi por acaso

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Quando alguém comentava sobre Laura, a maioria dos adjetivos eram considerados bons. Ela era alegre, engraçada e ainda sabia ser séria quando quisesse. Porém, algo que também diziam era sobre a sua mania de chegar atrasada. No dia do casamento de sua oitava noiva, Laura fez exatamente isso e chegou dez minutos depois do horário combinado com sua tia (e chefe). Corria como o vento com a sua mochila na mão, segurando o buraco que havia se feito enquanto ela estava descendo do ônibus.

No momento em que ela entrou pelas portas enormes e brancas do hotel com a tal mochila rasgada e a cara limpa, sua tia já estava batendo o pé no chão e olhando para o relógio que estava no seu pulso. "Você sempre chega atrasada, isso é impressionante!" Disse, tentando tirar a mochila dos seus braços e arrumar o seu rosto coberto por uma fina camada de suor.

"Não!" Laura berrou quando sua tia puxou a tal mochila e todas as maquiagens soltas de dentro foram direto para o chão, chamando atenção de todos que estavam na volta, inclusive da noiva que já estava sentada na cadeira enquanto Roberta fazia o seu cabelo, só esperando para ser maquiada simultaneamente.

Com os cabelos revoltos Laura assoprou os fios que caíram no seu rosto e pegou tudo o que havia deixado cair no chão, voltando a si. "Cheguei atrasada porque você me avisou de última hora, mas está tudo bem, vamos lá!"

A tia que era loira e se mantinha jovem mesmo em seus 50 anos apenas riu da sobrinha e lhe deu um tapinha no ombro, a empurrando para onde a noiva estava. Noiva a qual Laura não sabia nem o nome.

Seu rosto limpo, sem nada, a incomodou no momento em que se viu no espelho enorme que a família havia alugado, mas deixou isso passar e resolveu se maquiar só depois de fazer seu trabalho. Roberta estava rindo da amiga desastrada e continuava a enrolar os cabelos da noiva que estava com o nervosismo aparente no rosto. Algo que a morena de olhos claros não entendia e nunca iria entender, pois nem namorado ela tivera nos seus 24 anos de existência, e isso diminuía as chances de se casar de nenhuma para nunca.

Pelo menos eu beijei, pensou nos seus anos de ensino médio enquanto pegava as múltiplas sombras para começar o seu trabalho. A noiva tinha um olho grande e do mais belo castanho e Laura logo foi pegando uma sombra dourada para usar em toda a sua pálpebra móvel, indo aos poucos adicionando o pó que era bastante pigmentado. Ela se concentrou em esfumar bem os olhos lindos da noiva com a sombra preta e aproveitou para usar um lilás no canto interno para realçar a cor deles que era um pouco familiar. O delineador consumiu um tempo essencial para ela, já que errou pelo menos umas duas vezes o puxado de gatinho, e aí o nervosismo aconteceu. No momento em que foi preparar a pele, ela pegou a base de alta cobertura e logo deixou um pouco cair na calça noiva devido as mãos tremulas.

"Meu Deus, menina! Você está completamente atrapalhada!" A noiva gritou enquanto Laura pedia desculpas e mais desculpas pelo acidente. Ela respirou fundo, tentando se acalmar e ao mesmo tempo ignorar Roberta que continuava a rir. Tinha pavor de maquiar as pessoas, e aquele dia estava sendo um dos piores para ela desde o momento em que pisara para fora de casa e percebera que havia esquecido de pôr o seu sutiã 48, o que chamava muita atenção no vestido vinho que usara. Maquiar alguém e ainda estar mais estabanada do que o normal? Isso era a cereja no topo.

A cereja, suculenta e vermelha, na verdade, estava entrando no quarto do hotel. Vestido em um smoking, com seus olhos castanhos iguais ao da noiva, o cabelo loiro desarrumado, e a altura e postura de dar inveja em qualquer homem chamaram a atenção de Laura instantaneamente. O mesmo aconteceu com Juan, que entrou e percebeu a moça do rosto de leoa automaticamente, mas se conteve. Era casamento de sua irmã gêmea e certamente ela não gostaria se ele ficasse com alguém e chamasse mais atenção do que ela com seus dons de conquista.

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