Capítulo 4

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(...) a verdade é que nem sempre fui aceite por todos ou visto como "popular" (não sei bem se esta é a palavra correta). Quando entrei na escola eu não era como os outros rapazes. Eu não gostava de jogar à bola, não gostava de correr, não gostava de levantar a saia às meninas, simplesmente não gostava do que todos os meus colegas gostavam. Eu preferia passar os recreios na sala de música a estudar algumas canções ou então a jogar aos concursos de talentos com as raparigas e, nada disto era normal aos olhos dos restantes rapazes. Começaram então a chamar-me "menina" e a pintar-me os lábios com batons rosas ou vermelhos. Os anos foram passando e as coisas foram-se tornando mais sérias... batiam-me. Agarravam-me pelo pescoço, encostavam-me a uma parede e começava a tortura. O ano terminou e passei o verão nas redes sociais. Comecei a ganhar mais e mais seguidores no instagram e, consequentemente, no snapchat. O musical.ly veio mais tarde. Com isto começaram os vines e videos no YouTube. Num ápice tudo estava diferente. A minha fama cresceu em 6 curtos meses e quando regressei à escola no 5º ano acabou-se tudo. Todos olhavam para mim como uma estrela, um ícone. Pediam-me desculpa. Não queria saber. Só queria sair daquela escola, daquele pesadelo. Um pedido de desculpas, ou até muitos, jamais apagariam aquilo que me fizeram passar. Vim parar aqui. A esta escola. Todos parecem saber quem sou. Queria começar do início. Só isso."


Não posso. Bolas Maddie, bolas! Só fazes asneira, A.S.N.E.I.R.A! Eu sabia, eu sabia que não devia ter dito nada. Onde estará ele agora? Será que volta? Deve odiar-me! 

É impossível prestar atenção à aula neste momento. A professora não tira os olhos de mim. Vou pedir-lhe que me deixe ir até à casa de banho, preciso de descomprimir.

Já no corredor, quero procurar o Jacob. Vou até à casa de banho lavar a cara e, quando saio, dou de caras com ele. Está vermelho. Esteve a chorar, com toda a certeza. Ele para à minha frente. Abro a boca para começar a desculpar-me, mas ele tapa-ma depressa com a mão aberta. Seguem-se eternos segundos de silêncio. Lágrimas escorrem descontroladamente pelo meu rosto desolado. Ele tenta controlar o choro, apesar de ser evidente que faz um esforço gigante. Tento falar. Ele tapa a minha boca com mais força ao mesmo tempo que deixa escapar duas lágrimas carregadas de sentimento. 

Finalmente, depois de minutos que pareceram dias, ele tira a mão da frente da minha boca e diz com a voz rouca:

"Não tens que pedir desculpa."

Uma imagem do pequeno Jacob, desprotegido, com medo, invade-me o pensamento. Uma imagem rápida mas suficientemente terrível para que não queira tê-la de novo. Abraço-o e ele envolve-me nos seus braços e aperta-me com força, muita força. Algo me diz que não fala disto com muito gente. Estava a precisar de falar com alguém, e escolheu-me. Escolheu a miúda que o recebeu da pior maneira possível, mas que agora dava o mundo para apagar daquela cabeça as memorias terríveis que carrega sozinho.

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⏰ Última atualização: Mar 15, 2016 ⏰

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