Recomeçando

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Vejo essa luz forte nos meus olhos, quase não consigo abri-los. Sinto meu corpo em movimento, uma leve ventania acaricia gentilmente o meu rosto ainda desacordado. Minha boca está seca e meus olhos ardendo por causa da forte luz incrivelmente branca que vinha do teto, que era da mesma cor. Eu podia sentir a minha mente se organizando aos poucos e não demorei muito até perceber onde eu estava; no hospital. Sentira uma tontura estranha e minha vista começou a embaçar novamente, pois, sinto algo penetrar meu braço. Uma agulha. Eu tinha sido medicado, dopado por consequência da perca de sangue que eu causei no momento em que minha própria vida tentei tirar. Abro os olhos novamente, mas de repente. Não consigo entender muito bem o que vejo até minha vista nitidamente clarear. Vejo, porém, meus pais, com seus rostos visivelmente exaustos e cabisbaixos. Percebo também a presença de um outro alguém, até senti-la em um abraço muito forte e aliviado. Era você. Estivera ali no hospital, perdendo seu tempo para se preocupar comigo, pobre delinquente inconsequente, que por momentos tentou jogar fora os maiores presentes que pudera receber. A vida e seu amor. - Pensei que fosse te perder – balbucia em meu ouvido, com tom de alivio. - Nem se nós dois quiséssemos. – respondi com a voz mais seca do mundo e pouco incomodado com a situação. Não estou incomodado por você estar aqui, apesar de não querer que você me visse nesse estado, debilitado. Meu amor por você é tão forte, que eu não suportaria mais um de nossos fins. Não suportaria mais nenhuma briga com você, não quero te ver sofrer por mim, e nem eu quero sofrer por fazer você sofrer. Mas eu sinto que fazer merda é inevitável, eu estou propicio a criar problemas e decepções e não quero que você seja uma e nem eu quero ser para você. Me desculpe por fazer você passar por certas coisas, por fazer você passar noites em claro, preocupada comigo. Eu sei, eu sou imaturo, não sei lidar com os meus problemas da forma correta. Eu nem sequer sei qual seria a forma correta. Mas agora estou apto a recomeçar ao seu lado. Estou disposto a mudar por você, por que eu te amo. Amo tanto quanto amo comer pizza. Tanto quanto amo ver o sol nascer de manhã bem cedo, se pôr ao anoitecer, e saber que mesmo com tantos altos e baixos, um outro dia sempre irá nascer e eu terei a chance de recomeçar, por você e com você. Sinto um aperto no coração quando percebo que poderia perder você para o desconhecido que eu mesmo escolhi, de tão burro que eu fui. Não quero que você sinta pena de mim, pois, isso foi consequência de meus atos errôneos. Eu vou aprender, agora que estou de volta e sinto que estou de uma certa forma, bem, pretendo melhorar, quero ser o melhor que você mereça, quero ser para você agora, o que não consegui ser ontem. E melhorar ainda mais amanhã, para ver esse seu sorriso lindo todos os dias. Por ventura, seu sorriso me fortalece. Me sinto muito bem, até quando estou mal, ouvindo sua voz. Quando estou dentro de seu abraço, sinto que aquele momento poderia ser eterno... Eu queria que fosse. Então a enfermeira entra no quarto. - Você está se sentindo melhor? – pergunta. - Sim, acho que estou. – respondo em dúvida: será que estou? – quanto tempo eu dormi? – pergunto em seguida. - Encontramos você apagado em seu quarto e isso já faz alguns dias. – disse minha mãe - Quantos dias? - Você está aqui a dois dias. Você perdeu muito sangue, então precisamos dopar você para recompor o que foi perdido. – respondeu a enfermeira Eu não entendo. Eu não queria estar ali, mas ao mesmo tempo que queria estar morto, estar vivo era o que eu mais queria. É complexo explicar o que está passando na minha cabeça agora, tudo está voltando a ser como era e aos poucos eu voltava a vida real, a vida que alguns dias atrás não queria mais viver... - Você vai ficar bem, e em poucos dias poderá voltar para casa. – Terminou a enfermeira que em seguida se retirou. O que iria acontecer dali pra frente? Eu estava meio nervoso com tudo o que estava acontecendo, eu estava mais confuso do que já estivera antes. Minha cabeça fervia, parecia um vulcão, por vezes eu me forcei a ficar calmo, tentei ser otimista quanto a minha recuperação e mesmo que tudo parecesse bem, eu sabia que não estava. Eu quase morrera e isso por si só já explica muitas coisas.

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