Realidade Fictícia

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Um suspiro profundo e sutil deixou os lábios fartos do jovem que jazia deitado em sua cama. Kyungsoo permitiu que seus pensamentos fluíssem como a serenidade e pureza das águas de um rio calmo, sua imaginação vagava por uma realidade inexistente, porém presente em suas mãos. Deixou que a sensação feliz e levemente eufórica tomasse seu corpo e mente... Havia terminado de ler mais um livro.

Aventura, suspense, romance, terror, fantasia, mitologia... trinta, vinte, quarenta, sessenta ou cem... O jovem Do não sabia ao certo quantos livros já havia lido em sua vida, porém tinha certeza de que qualquer que seja a quantidade de obras lidas por si, ainda não era o suficiente.

A leitura era tida pelo garoto de dezessete anos como algo indispensável, afinal lhe permitia "viajar" e conhecer, ter contato, com as mais variadas culturas, crenças, ideias de qualquer parte do mundo, sendo estas reais ou não.

Fascinante.

É o adjetivo perfeito para definir a sensação do término da leitura de uma obra. A vivência, sentir o que os personagens sentem nas histórias era o que mais encantava Kyungsoo. O garoto não lia apenas, mas sim desfrutava de cada momento e sentimento vivido pelas personagens dos livros.

Ah, como ele gostava... A ficção lhe parecia muito mais agradável e interessante que a sua realidade tão sem graça, monótona e solitária.

Levantou-se da cama a fim de preparar algo para comer, afinal já era meio dia e seu estômago roncava.

Encaminhou-se à cozinha, onde bagunçou seus cabelos lisos e castanhos, espreguiçando-se em seguida... Kyungsoo se sentia cansado, ultimamente sua vida escolar tem sido um tanto estressante. Começou a preparar algo simples, apenas para matar sua fome.

Logo se sentou à mesa de dois lugares onde passou a comer ao silêncio da pequena casa, sempre vazia. Sua mãe quase não convivia consigo, já que seu trabalho de enfermeira lhe tomava todo o tempo. Não culpava a mulher por lhe deixar sozinho, após a morte de seu pai a matriarca havia se esforçado muito para lhe sustentar e Kyungsoo entendia isso.

É evidente que a ideia de estar sozinho a maior parte do tempo não lhe agradava, porém se conformava e podia considerar-se com uma vida satisfatória, pois tinha os livros e algumas poucas amizades, estas últimas muito presentes em seu cotidiano.

Baekhyun e Junmyeon eram seus melhores amigos, os quais sustentavam o mesmo amor pela leitura e, assim como Kyungsoo, sonhavam em um dia se tornarem escritores. Talvez tenha sido os livros o laço de união entre os três garotos.

Ao término do almoço, Kyungsoo lavou a louça e foi para o quarto trocar de roupa, estava na hora de ir à grande biblioteca municipal. Colocou um moletom vermelho, uma calça jeans simples, um all star surrado e pôs-se em frente ao espelho. Fixou seus olhos firmemente em sua imagem refletida e suspirou, ah... Até quando teria que colocar aquele tapa-olho em seu olho direito? Mas o que podia fazer? Era necessário, afinal Kyungsoo jamais mostraria ao mundo aquele que acreditava ser o seu maior defeito.

Deformado.

Kyungsoo odiava-se por ter nascido com seu olho daquela maneira. E não havia explicações para tal tipo de "mutação", nenhum médico soube dizer o motivo da característica peculiar que dominava seu olho direito. O que restava ao garoto era esconder seu complexo, nunca permitiu nem mesmo que Baekhyun e Junmyeon vissem.

Terminou de amarrar o pequeno pedaço de couro que cobriu seu olho, pegou sua mochila e trancou a porta, saindo em seguida. A biblioteca não se localizava perto de sua casa, porém Kyungsoo preferia e já estava acostumado a percorrer o trajeto de ida e volta a pé todos os dias, inclusive aos finais de semana. Afinal, fazia parte de sua rotina: de manhã ia para a escola, à tarde ia para a biblioteca onde ficava até escurecer o céu e, assim, voltava para casa para jantar e dormir. Vez ou outra saía com Baekhyun quando este o obrigava, é claro.

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