Ficção Real

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Mesmo sentado sobre uma pedra, Kyungsoo conseguia sentir suas pernas bambas diante da visão que estava tendo à sua frente.

Com todo o seu repertório de leitura, o garoto realmente acreditava que algumas das criaturas das ficções podiam ser reais ou já terem existido um dia. Porém, ver a imagem de Jongin naquele instante parecia ultrapassar os limites da palavra "surreal". O alvo, em um curto espaço de tempo, pensou na possibilidade de estar louco ou sonhando, sorrindo levemente ao notar que estava realmente vivendo aquele momento.

A ficção era real afinal.

— Você... Não vai fugir de mim, não é? — a expressão de Jongin transparecia todo o medo que sentia... O medo da reação do menor. Afinal, é natural do ser humano, quase que instintivo, temer o desconhecido.

Mas Kyungsoo era diferente, tinha o privilégio da mente de um sonhador.

— Não. — Kyungsoo respondeu quase que automaticamente. É claro que estava assustado, sua mente parecia não querer acreditar no que via. Porém, o pensamento de que não queria magoar o moreno dominava seu corpo, impedindo-o de fugir. — Na verdade, eu... Posso tocar você? — o menor perguntou ao se levantar, aproximando-se do outro que apenas assentiu com a cabeça.

Lentamente, Kyungsoo encurtou a distância entre os dois corpos, sentando-se na mesma pedra em que o outro estava, ao seu lado. Olhava de forma fixa para o rosto de Jongin, como se quisesse gravar na mente cada traço, cada característica. Deixou que sua mão deslizasse levemente pelo maxilar bem desenhado do moreno, indo de encontro à orelha pontuda, onde sutilmente contornou as extremidades com a ponta de seus dedos. A destra do alvo desceu pelo braço de Jongin que repousava ao lado de seu corpo, chegando à cauda.

Ficou alguns minutos sentindo a textura das escamas azul esverdeadas, com mil e um pensamentos passando em sua cabeça, deixando-o ainda mais confuso. Estava tão distraído que não percebera a timidez de Jongin ao ser analisado de tal forma. A verdade é que o moreno ainda estava com medo.

— Você é mesmo real. — Kyungsoo disse como se fosse uma conclusão, enquanto seu olhar se aprofundava naquelas duas esferas escuras, os olhos tão expressivos. — E é lindo.

Jongin deixou que seus lábios grossos se rasgassem em um largo sorriso, estava aliviado. O menor o acompanhou em seu ato, porém com a cabeça discretamente abaixada na tentativa de esconder a coloração rubra que suas bochechas adquiriram, sem sucesso.

— Como consegue esconder sua verdadeira forma? — na verdade, o menor já tinha uma certa ideia devido aos livros, mas não era certeza.

— Nós tritões nos tornamos humanos em terra firme, mas podemos assumir nossa verdadeira forma quando quisermos, como fiz agora.

— Acho que agora eu sei o motivo de você gostar tanto da praia. — o menor disse, fazendo os dois rirem.

— Pois é... Digamos que eu me sinta em casa. — o moreno ainda ria.

— Falando nisso... Por que deixou sua casa? Por que vive em terra firme? Pelo que eu vi Chanyeol dizendo, não me parece uma atitude comum.

— Eu fugi. Na verdade, não é uma atitude tão incomum assim, muitos tritões já fizeram isso. Chanyeol fez todo esse estardalhaço porque eu fugi de algo que é considerado essencial "no meu mundo".

— E o que seria?

— Casamento. Ao completarmos dezesseis anos, a tradição manda que encontremos uma sereia para casar e constituir família.

— E não quis isso por quê? — se fazia parte da tradição, era natural que fosse algo bom para a vida dos tritões, pensou o menor.

— Porque casar representava a perda da minha liberdade, eu jamais poderia pisar em terra firme ou em qualquer outro lugar que eu quisesse. Além disso... Nunca encontrei uma sereia por quem eu me interessasse, meus pais acabariam querendo escolher a minha noiva. — o moreno explicou. Isso já justificava e esclarecia muita coisa, pensou o menor.

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