Ausência

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Acordei com uma mensagem.

"Desculpa não ter respondido antes, quando foste embora fui ter com o pessoal, bebi uns copos e fui dormir, nem vi a tua mensagem. Eu vou falar com o Tyler em relação à Anne, há que haver respeito quando eles estão no mesmo espaço que ela. E queria também pedir-te desculpa por há uns tempos ter insistido contigo para termos relações, eu achava que qualquer coisa faltava na relação, fui parvo. A noite de ontem foi fantástica e fiquei feliz ao perceber que confias tanto em mim! Mais logo queres ir ao cinema?"

Era o Stefan. Lembro-me de ter ficado à espera da resposta dele mas devo ter adormecido. 

"Acho que fazes bem em falar com ele, eu não gosto nada de ver a minha melhor amiga em baixo. Não faz mal, como viste, soubeste esperar e eu valorizo isso. Sim, mais logo vemos das sessões. Amo-te." 

Quando acabei de lhe responder fui até à sala e os meus avós estavam os dois sentados no sofá, parecia que estavam à espera que eu acordasse. Não tinham boas caras. 

Ruth(avó)- "Bom dia minha querida! Dormiste bem?"

Eu- "Sim avó. Que caras são essas? Aconteceu alguma coisa?"

A minha avó olha para o meu avô e permanece calada. 

 Anthony(avô)- "Bom Maybel vou direto ao assunto. Os teus pais ligaram e avisaram-nos que vão ter que ir ao Dubai em trabalho e terás que ficar connosco mais duas semanas. Eles não deram garantias da data certa de volta, por isso nunca se sabe se demorarão mais tempo. Tens uma coisa para ti no hall de entrada." 

Fiquei um bocado triste mas muito sinceramente já estava à espera. Os meus pais passam a vida a viajar em trabalho. Tenho 17 anos, vou ter uma conversa séria com eles. Não há necessidade de eu ficar em casa dos meus avós quando eu sei muito bem cuidar de mim sozinha. 

Quando abri a caixa, vi um iPhone 6, um MacBook dos mais recentes e um cartão de crédito em meu nome. Levei as coisas para o meu quarto e fiquei deitada na minha cama a ouvir música. 

Acho impressionante os meus pais acharem que me compram com bens materiais. Até podiam ser o casal mais rico do mundo, isso não interessa. Toda a gente quer os pais presentes e infelizmente os meus não o são.

Quando estava a trocar os cartões para o iPhone reparei numa carta dentro da caixa que dizia: 

"Querida Maybel,
Esperamos que tenhas gostado das prendinhas que te demos. O cartão de crédito está em teu nome e não tem valor limite, podes usar no que quiseres e necessitares pois vai ser debitado o valor da nossa conta, estás à vontade filhota! Temos agora uma coisa importante no Dubai e não sabemos bem quando voltamos. Estivemos a pensar e talvez te sintas mais confortável em casa. Fizemos umas pesquisas e contratámos uma empregada que irá a nossa casa todos os dias para lavar, passar a ferro e cozinhar, chama-se Eveline. Um beijinho grande!"
A única parte boa da carta foi quando eles falaram da minha casa. Vou ter que falar com os meus avós com calma pois eles vão ficar super preocupados e vão achar que vou morrer se ficar a cuidar de mim mesma. 
                                                                                       (....)
Já falei com os meus avós e a conversa correu bem. Pediram para eu vir cá almoçar sempre que puder e ficar nos fins-de-semana. 

Entretanto à tarde, fui a minha casa e já levei para lá algumas coisas. A partir de hoje, fico em minha casa. É um bocado estranho estar numa casa tão grande sozinha mas ao mesmo tempo sinto-me bem, tenho a minha própria privacidade.

 Estive-me a arranjar e vou agora ter com o Stefan. Vesti umas calças de cintura subida, uma camisola azul escura de malha e um casaco bege. Tenho calçadas as minhas botas Timberland e levo o cabelo solto.

O filme correu bem e estamos agora à porta da minha casa. 

Eu- "Os teus pais foram passar estes dias a França não foram?"

Stefan- "Sim, por isso é que eu dei a festa burrinha."

Eu- "Então sendo assim, podes ficar comigo hoje? Não quero passar a noite sozinha."

Stefan- "Claro que posso, nem precisas de pedir!"

Dei-lhe umas calças de fato de treino do meu pai para ele poder andar mais à vontade e fui vestir o meu pijama.

Stefan- "O teu pijama cheio de macacos é engraçado sabias?"

Disse isto num ar sedutor, mas soou de uma maneira tão estúpida que me ri imenso e ele ficou amuado. 

Fomos preparar qualquer coisa para comer e estávamos sentados no sofá quando ele perguntou: 

"O que se passa? Pareces distante."

Ele conhece-me tão bem. 

"São os meus pais. Compraram-me coisas caras e deram-me um cartão de crédito para me dizerem que vão estar mais tempo fora! Esta vai ser a minha primeira noite aqui e vou ter que me habituar a estar sozinha! Como é óbvio eu gosto de ter o meu espaço mas eles nunca foram presentes! Quando entrei na fase da puberdade e precisava da minha mãe para me explicar todas as coisas, foi a minha avó que me acompanhou sempre! O meu pai nunca esteve presente no dia do pai sabias? E ambos falham o meu aniversário. Sei que vão em trabalho mas esquecem-se que têm uma filha ou?"

Comecei a chorar a meio daquilo que disse. O Stefan pousou os pratos da comida na mesa de centro e colocou os braços à minha volta e agarrou-me contra ele. 

Stefan- "Tenho pena que eles não te dêem valor mas posso garantir que nunca estarás sozinha. Os meus pais também viajam em trabalho mas sempre foram presentes... Passo aqui as noites que forem precisas para nunca estares só, não te preocupes com isso. E não quero que penses mais no assunto, pode ser amor? Eu estarei aqui sempre e não vou a lado nenhum!"

Mal sabia ele que um dia não poderia estar do meu lado. 

Remember meOnde histórias criam vida. Descubra agora