Responsabilidades

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      O reino de Wesros sempre teve o seu charme, o sol arrebatador que fazia em toda época do ano era um dos motivos por me fazer amar cada dia mais este lugar. Nunca imaginei que eu, Amélia Dragomir estaria agora prestes a completar 18 anos. Sim, 18 anos... E com isto viria as minhas responsabilidades, que eu não estava nem um pouco interessada em pensar.

       Meu pai, o rei Gerald Dragomir é um grande governante. Eu o admiro muito como pessoa. E quando eu era pequena, sonhava em um dia ser uma tão boa governante como ele. Meu pai vivia me contando das batalhas que travava em prol do reino, muitas pessoas com sede de poder queriam tomá-lo dele e ele como o grande homem que era não perdia nenhuma. O seu maior inimigo era o tal governante do Reino das Trevas que dizem as más línguas que ele tem um exercito tão grande de homens que é capaz de dizimar reinos em apenas um dia.

        Estava dispersa em meus pensamentos admirando a paisagem do reino, as grandes colinas que se formavam no horizonte e o mar com suas ondas grandiosas com varias embarcações a deriva quando escutei uma voz familiar me chamar.

         – Princesa Amélia – Era Jenny minha aia. Ela vestia um vestido amarelo de um tecido leve e estava descalça e estava com uma expressão nervosa no rosto. – Seu pai ordenou que eu a chamasse. – Ela fez uma pausa para ver minha reação, mas continuei estagnada a olhando esperando que ela continuasse. – É sobre o baile do seu aniversário... Ele quer que você escolha o seu futuro marido.

          Quando Jenny me disse isso, senti como se tudo que eu não quisesse que viesse a tona estava vindo. A minha responsabilidade, a grande responsabilidade de Amélia. Levantei rapidamente da cadeira e Jenny deu um passo para trás com medo da minha reação, senti como se eu fosse um objeto. Eu queria conhecer uma pessoa especial naturalmente e sem nenhuma pressão por causa de um trono, talvez o meu futuro marido nem fosse amado por mim, era só um contrato...

           – Já estou indo Jenny – Ela assentiu. Jenny fez uma reverencia e saiu de perto de mim. Deixei de olha-la saindo e voltei a olhar para a paisagem do reino.

        – Você consegue Amélia – E sai para encontrar meu pai.

        A sala do trono era enorme e lá estava meu pai sentado no grande trono de ouro com seus curtos cabelos grisalho e olhos castanhos claros da mesma cor dos meus. Ele tinha uma feição cansada, seus olhos estavam com grandes olheiras que confirmava minha suspeita que o reino estava com problemas e isso dificultava o seu sono todas as noites.

       – Se aproxime Amélia – Dei longos passos na sua direção e disse com toda firmeza que encontrei naquele momento – Pai, não quero me casar. Eu não estou pronta para nenhuma responsabilidade que o senhor acha que eu estou.

        Esperei que com aquela revelação viesse a bronca, mas pelo contrario meu pai suspirou derrotado.

         – Entendo o que está passando Amélia, senti isso quando o meu pai fez o mesmo comigo. Quis colocar responsabilidades na minha vida muito cedo, e eu era mais novo que você. Eu tinha 14 anos. – Ele levantou as mãos e nelas estava uma pequena caixinha prateada. – Se sua mãe estivesse aqui, ela me ajudaria a explicar minha decisão a você. Uma pena o destino tê-la tirado tão cedo de mim. – Sempre que meu pai falava de minha mãe eu sentia um vazio. Ela morreu tão cedo, por conta de uma doença. Depois de uma longa viagem com meu pai, ela voltou tossindo sangue e sem forças para continuar de pé. Eu tinha seis anos e foi os meses mais tristes da minha vida. – Sua mãe queria que eu lhe entregasse isso. – Ele abriu a caixinha e eu me aproximei mais para poder ver o que era. Era um colar e o pingente era branco e tinha o formato de uma lua minguante. Era lindo. – Esse colar era muito precioso para ela, ela me disse que sempre o guardou para você. Suas ultimas palavras foram que eu lhe entregasse ele quando eu achasse que era o momento e eu sinto filha que esse momento é agora. Tem muitas coisas que eu devo explicar sobre a sua mãe... Muita coisa que você desconhece. – O olhei com duvida e peguei o colar da caixinha com a mão direita e pus na palma da esquerda, eu fitava o colar com certa admiração, como se ele fosse feito especialmente para mim. – O que eu desconheço? – Continuei a fitar o colar esperando uma resposta de meu pai, mas ela não veio. – Depois do baile lhe contarei tudo, mas preciso que use isto.

           Ele pegou o colar e percebi que ele queria colocar em mim, retirei meus longos e cacheados cabelos castanhos que atrapalhavam a sua colocação e senti o feixe sendo fechado. Toquei a lua minguante com os dedos e disse.

          – Espero que eu seja uma boa rainha.

          – Você vai ser filha. – Tornei a olhar o meu pai novamente e ele sorria para mim.

            – Obrigada pai. – Fiz uma reverencia desajeitada e corri para o meu quarto. As lagrimas ameaçavam a cair, mas eu tentava contê-las. Eu só queria ser normal. Apenas Amélia.

            Chegando a meu quarto, tranquei a porta e desabei na cama. As lagrimas caiam instantaneamente, e eu não sabia mais o motivo. Amanhã era o grande dia.

            Amanheci melhor que no dia anterior, mas o peso do que estava a se desenrolar neste dia ainda continuava me torturando. Estava com a mesma roupa do dia anterior, um vestido rosa bebê que era de amarrar na nuca, ele tinha como detalhe umas pedras pretas enormes que brilhavam muito. Muito extravagante, eu pensei.

           Resolvi que se hoje eu tinha que escolher um marido, eu tinha que estar bela mesmo não concordando nada com isso. Comecei a procurar vestidos e achei um para a ocasião era azul, a minha cor favorita. Eu nunca tinha o usado, ele era azul marinho e deixava minhas costas a mostra. Eu o vesti, já queria ficar pronta desde cedo para evitar atrasos. Quando o vesti e me olhei no espelho fiquei assustada, aquele vestido era tão chamativo e tão aberto que me dava a sensação de estar muito exposta. Com certeza eu chamaria atenção.

         Escutei batidas na porta e logo escutei.

        – Princesa, o café está pronto. Abra a porta, por favor. – Era a Jenny, eu abri a porta e lá estava ela segurando minha bandeja do café da manhã. 

        – Eu já disse Jenny, que não é necessário que me sirva café da manhã no quarto. – Eu falava irritada com ela. Eu queria que ela fosse minha amiga e não minha serviçal. Pelo menos foi o que eu pedi a meu pai quando eu era criança. – Me desculpe Mel... Princesa.– Ela fez uma pausa. – Que vestido é esse? Você está maravilhosa Princesa. Vai arrasar corações. E antes que eu esqueça, feliz aniversário.

        – O que? – Ela me olhou sem entender. – Era para eu fazer ao contrario. Estou fazendo tudo errado. Não acredito. – Falei indignada.

        – Princesa, por que está fazendo isso? Seu pai não vai obriga-la a se casar. Vai ser muito pior você ser outra pessoa, olha irei te ajudar a se arrumar mais tarde. Você é minha amiga, jamais vou deixar que você passe vergonha, só porque você quer ser feia. - Ri com o seu comentário, e peguei a bandeja de sua mão com meu café da manhã e a coloquei em cima da cama.

–Jenny, não sei o que eu seria se não tivesse você para me por juízo. Você tem razão. Mas, vamos começar a sessão beleza agora – Jenny riu e entrou no quarto.

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