Olhei meu reflexo no espelho e não acreditava no que eu via. Meu cabelo estava solto, mas sobre a minha cabeça estava uma tiara que reluzia tanto que eu nem imaginava que algo brilharia tanto assim antes. Eu usava o lindo vestido azul que realçava minha curvas e era aberto nas costas, no meu rosto Jenny só havia passado um batom claro. Ela dizia que eu não precisava de maquiagem, porque eu era mais bonita sem.
—Jenny, você é espetacular. Obrigada. - Eu falei tocando meus longos cachos com admiração. - Não sei o que eu seria sem você. Estou com tanto medo... Ao mesmo tempo que eu acho que estou no caminho certo de me casar e governar como meu pai, mas ás vezes eu sinto que não é isso que eu quero.
— Princesa... - Ela que me olhava pelo reflexo do espelho, tocou meu ombro direito como um gesto de consolo. - Vai dar tudo certo. Confie em você. Eu confio em você. Confio que você fará a coisa certa pelo seu reino. Todos nós confiamos em você. Mesmo eu te falando isso milhares de vezes, você ainda insiste em duvidar de si mesma. - Ela fez uma pausa - Com todo o respeito princesa. - Senti uma pontada no peito e por reflexo toquei meu colar. Eu havia me esquecido dele. Do colar da minha mãe. O olhei por alguns segundos e Jenny me observou curiosa, talvez esperando a minha resposta. Eu apenas coloquei meu colar por dentro do vestido, o escondendo.
— Está na hora! - Jenny disse.
— Obrigada Jenny. - Levantei da cadeira e sai do meu quarto deixando Jenny para trás. Estava nervosa demais para dizer mais alguma coisa. Eu só pensava em como ia agir com todos lá embaixo. Passei pelo extenso corredor que dava a escadaria principal. Quando comecei a descer os degraus, eu escutei a música alta e muitas vozes que vinham do salão. Eu parei por um momento, e aquela pontada no peito veio de novo. Tudo que vinha na minha cabeça era MEDO, MEDO, M-E-D-O.
M-E-D-O. Amélia você consegue. Eu pensei comigo mesma, e tive coragem suficiente para descer todos os degraus. Avistei dois guardas do castelo atendendo a porta do Salão Principal, eles me observaram caminhar em direção a porta que estavam atendendo.
M-E-D-O, de novo aquela pontada no peito. Eu nunca tinha sentido aquilo antes.
Parei em frente da porta e fiquei alguns minutos estática na frente da porta fechada, eu estava muito nervosa. Os guardas com certeza estavam esperando a minha ordem para abrir. E ela não veio.
—Feliz 18 anos, princesa. - Um dos guardas falou. Em seguida, o segundo guarda disse a mesma coisa a mim. Acho que eles perceberam o quanto eu estava nervosa. É bobagem sua Amélia. Enfrente seus problemas. Aquela voz da minha cabeça veio à tona.
—Obrigada. Podem abrir, estou pronta. - Eu disse.
Quando eles abriram a música parou, peguei todos olhando para mim. E as cornetas anunciaram a minha chegada. Princesa Amélia Dragomir, da Casa Dragomir de Wesros. Escutei anunciarem meu nome e caminhei para frente e todos se curvaram. Inclusive meu pai. Ele estava sentando no trono, ele estava inteiro de vermelho. A cor de nossa casa. E me olhava com admiração entrando no Salão Principal.
Assim que todos se curvaram, todos voltaram a dançar e eu logo fui rodeada por alguns rapazes. Pretendentes, no caso. Fui logo sendo guiada por algum deles, que logo me contou que era meu primo, filho do meu tio Galliel, irmão do meu pai. Meu primo só tinha 12 anos. Uma criança, mas ele era muito divertido. Jamais iria cogitar me casar com ele. Ele era da família.
Depois de meu primo, dancei com outros rapazes. Alguns eram atraentes outros nem tanto, mas não me interessei por nenhum. Durante a festa, eu me sentia observada e as pontadas no peito era constantes. Mas, é claro que eu estava sendo observada, era a minha festa de aniversário. Que tola.
O principe Jean Perrot era lindo, engraçado e responsável. Ele se importava com o reino, eu sentia isso. Estava dançando com ele por duas músicas seguidas, e estava cogitando escolher ele como meu noivo.
Jean Perrot, era o que as meninas chamariam de homem fofo, lindo e inteligente. Ele tinha cabelos pretos e olhos mel. Era o estilo de homem que eu queria que fosse meu futuro marido. Sim, era ele. Eu tinha me decidido.
De novo, aquela pontada no peito. Não, não, não agora não. Comecei a ficar com falta de ar. Não agora.
— Principe Jean, me desculpe eu preciso tomar um pouco de ar. - Me soltei dele e com intuito de ir para a varanda do castelo. O meu lugar para me isolar quando se tinha bailes. Senti uma mão me segurando. - Está se sentindo bem, Princesa Amélia? - Eu voltei a olhar para ele. Eu acho que ele está realmente preocupado comigo. Mas, a falta de ar era tanta que apenas disse. - Estou. Por favor, preciso ir... - Ele me olhou decepcionado e me soltou em seguida.
Mesmo com a falta de ar, me peguei pensando que eu jamais teria novamente outra chance com Jean Perrot. É, eu fui burra. Mas, eu estava me sentindo sufocada. Não tenho culpa.
Ao caminho a varanda fui abordada por vários pretendentes, e eu apenas falava um me desculpe, estou ocupada. Será que eles não entendem? Ficar um baile inteiro dançando cansa, em que mundo eles vivem?
Quando cheguei a varanda, eu só tive o reflexo de me apoiar na grade de proteção. Senti meu peito queimar e umas pontadas que não paravam mais. O que estava acontecendo comigo? Na minha cabeça só se passava, que eu iria morrer. Sozinha, a noite, em uma varanda escondida do castelo. Morte na certa.
Do nada, aquela dor parou. Ouvi passos chegando na varanda, e a pessoa parando atrás de mim. Mas, como? Só eu e meu pai conhecemos aquela varanda. Não pode ser, eu pensei. M-E-D-O, aquela sensação de novo. Algo que eu nunca senti antes. Eu não conseguia me mover, não conseguia ter reação. Pavor, é o que eu estava sentindo. Estranho.
Senti uma mão gélida percorrer minhas costas nuas, e um arrepio na espinha surgiu. Senti meu cabelo sendo pegado e a pessoa desconhecida o inspirando. Muito estranho. Parada, era assim que eu estava. Não conseguia me mover, e o mais estranho de tudo isso é que eu não sabia o motivo.
— Princesa Amélia - Uma voz rouca e sussurrada no pé de meu ouvido me trouxe sensações estranhas. Sensações que eu nunca senti antes. Era um homem, eu nunca tinha ouvido voz parecida antes. A curiosidade de saber quem era me veio, mas logo aquele pavor voltou e a minha vontade de não me mexer continuava. - Finalmente, estamos de frente um para o outro. Sempre quis conhecê-la. Por inteira, se me entende. - De novo, aquelas sensações estranhas me vinham. Sim, eu acho que eu conheço aquela voz. Não, eu não conheço. Minha vontade era de gritar, minha mente estava entrando em conflito, e eu não sabia o motivo. Fechei os olhos, e rezei para que tudo isso fosse só da minha imaginação e que eu não morresse assassinada por um maníaco desconhecido que invade sua varanda a noite. A coragem me veio.
—De frente? Não sei de onde, maníaco da varanda. - Ele deu uma risada de escárnio e escutei ele dando um passo para trás. Senti falta de sua proximidade... Onde eu estou com a cabeça?
— Criança abusada - Quando o ouvi dizendo isso apenas senti raiva. Era isso que eu sentia agora por ele. Criança abusada? Maldito. Não sou mais criança, tenho 18 anos. Oi?
A vontade de me virar veio, e foi isso que eu fiz. Quem ele pensa que é? Chega me tocando e ainda me xinga? Isso não vai ficar assim.
—Olha aqui seu maní.. - Quando virei para encarar o maníaco da varanda... Maníaco da varanda? O que é esse ser? Os olhos mais azuis que eu já vi na minha vida estavam me encarando, aquele sorrisinho de canto que com certeza era para me provocar. Ele era alto, e estava todo de preto, seus cabelos eram pretos e tinha uma barba por fazer. Ele era o homem mais lindo que eu já vi na vida.
— O que foi? Perdeu a voz, criança abusada? - Ele perguntou, com seu tom de escárnio. Quem ele pensa que é?
— Quem é você? - Foi a única frase que saiu da minha boca. Patética Amélia.
—Thomas Daemon Romanov, um vampiro. - Aquela pontada no peito de novo veio, quando Thomas, o maníaco da varanda me mostrou suas presas de vampiro. Ele havia mudado, seus olhos azuis viraram vermelhos e seu rosto tinha grandes veias. Um monstro. Minha vontade de gritar e fugir veio e logo sumiram. Pois, tudo que senti depois foi sono. A única coisa que me lembro era de cair desmaiada nos braços de Thomas.
E foi ai, que tudo começou.
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Sortilégio
RomanceA princesa Amélia Dragomir, é a herdeira do trono do Reino Wesros, e seu pai o rei Gerald Dragomir está à procura de um marido para sua filha. Para isso, ele resolve lhe dar um baile no dia de seu aniversário de 18 anos. Neste dia, ela é raptada por...